sábado, 10 de dezembro de 2011

A habilidade inquestionável dos curandeiros no Cristianismo Primitivo


As primeiras comunidades cristãs, ao comporem narrativas acerca das atividades religiosas de seu líder, lançaram mão de um vasto conjunto de práticas e conceitos relativos à cura de doenças e à ressurreição dos mortos. Noções judaicas de causa, tratamento e cura de doenças se modificam no interior desses grupos no debate com práticas presentes, por exemplo, nos cultos a Esculápio, Ísis e Serápis. Para além do mundo divino, cura e ressurreição foram associadas, tanto no judaísmo como para além dele, a mortais como Apolônio de Tiana, Hipócrates e Salomão, assim como a figuras públicas como Vespasiano e Pirro. Nos primeiros séculos da Era Comum, este diálogo toma forma através da atribuição do poder de curar exclusivamente a Cristo, o qual inclusive lança mão de outros personagens para exercer milagres. As comunidades cristãs sintetizam, neste único personagem, os papéis do sábio/médico à terapia e à cura.

No mundo antigo grego, conviviam distintas perspectivas sobre o adoecer, tanto no que diz respeito ao agente causador da moléstia quanto no que se refere ao comportamento e à responsabilidade do doente diante dela. No período clássico delineou-se a idéia de corpo físico como dimensão ética da pessoa de maneira que a corporeidade passou a ser objeto tanto de reflexão quanto de ação. O corpo doente ou saudável, como pensado pelos autores de tratados medicinais hipocráticos, é objeto de conhecimento e de controle. Para Brooke Holmes, esses dois aspectos fundamentam uma nova subjetividade e, mais ainda, uma ética do cuidado. A responsabilidade sobre o corpo reconfigura os sentidos sociais e éticos da doença. A documentação antiga grega explorou o tema de maneira extensa. No Hipólito de Eurípedes, encenado em 428 a.E.C. em Atenas, Fedra combate a aflição erótica à qual é submetida por Afrodite com argumentos fundamentados por preceitos políades centrados na fidelidade da esposa.

No século seguinte, Platão identificará, no Timeu, a necessidade da educação e de uma vida de equilíbrio a fim de evitar a calamidade natural que é a doença, a qual é provocada pelo desequilíbrio entre os quatro elementos que compõem o corpo humano. Mais tarde, na Ética a Nicômaco, Aristóteles argumenta sobre a necessidade do paciente de exercer o controle sobre si mesmo e submeter se à autoridade médica. Mais tarde, os estóicos desenvolverão a dimensão ética da doença ao identificarem-na como algo acima das causas naturais e dependente da vontade de uma providência que a tudo governa. A doença seria, assim, não uma calamidade, mas um pequeno incidente na ordem natural das coisas e, diante dela, o homem deve proceder com paciência e resistência. No terceiro século antes da Era Comum, Crisipo, postulava que fazer os homens vulneráveis à doença não é o principal propósito do criador. Contudo, com o objetivo de aquilo que é benéfico para a humanidade, há a necessidade de se permitir a existência da doença.

Enfermidade e saúde estão, assim, natural e intimamente correlacionadas e ambas fazem parte da ordem natural, e, portanto, não podem ser objeto de ansiedade e desespero. A doença deve ser, pelo contrário, tolerada e suportada pacientemente.

Na transcrição dos discursos de Epitecto, composta por seu pupilo Arriano em 108 de nossa era, a tolerância à doença é pensada como atitude indispensável ao tão esperado momento da separação da alma do corpo:

O que significa suportar bem uma febre? Não culpar nem os deuses nem os homens nem se afligir diante do que acontece, mas esperar a morte de maneira boa e elegante e fazer aquilo que deve ser feito. Quando o 76 médico chega, não recear o que ele tem a dizer nem ficar excepcionalmente alegre caso ele diga que você está se recuperando bem e, se ele disser que você está doente demais, não fique desanimado, pois o que significa estar doente demais senão estar próximo da separação do corpo da alma?

Em suas Meditações, compostas já no final do segundo século, Marco Aurélio identifica Zeus como o grande médico sob cuja autoridade nos submetemos quando doentes. É necessário, aceitar tudo que acontece, mesmo aquilo que é mais desagradável, pois leva a tais coisas: a saúde do universo e a prosperidade e felicidade de Zeus. Pois ele não daria a nenhum homem o que ele dá se isso não fosse útil para a totalidade. Nem mesmo a natureza de coisa alguma, qualquer que ela seja, causa o que não é adequado àquilo que é orientado por ela.

Portanto, por dois motivos é correto contentar-se com o que acontece consigo: primeiramente, porque foi feito para si e prescrito para si e, de certa maneira origina-se em si, desde as mais antigas causas que giram em torno de seu destino. Em segundo lugar, porque mesmo aquilo que de mais severo ocorre a todos os homens é, para o poder que governa o universo, motivo de felicidade e perfeição e mesmo o que lhe dá continuidade. Pois a integridade da totalidade é mutilada se tu excluis o que quer que seja da continuidade e da comunhão seja das partes, seja das causas.

No início da Era comum, portanto, a relação do homem com qualquer calamidade pessoal ou coletiva é pensada, por um lado, a partir de uma ética da fatalidade. O doente deve aceitar aquilo que a ordem do universo – identificada por Marco Aurélio como Zeus – lhe oferece de bom ou ruim, pois faz parte de seu funcionamento ótimo, o qual não deve jamais ser constrangido pelo desejo do homem de viver de maneira distinta daquela que a providência estabeleceu. Esse posicionamento foi visto com desdém por Plutarco, o qual escreve:

Para o supersticioso, toda enfermidade do corpo, toda perda de dinheiro ou de filhos... é chamada de praga dos deuses e o assédio de algum demônio. O indivíduo não se aventura a se ajudar, pois isso significaria lutar contra os deuses... se alguém está doente, afasta o médico e exclama: “deixe-me sozinho para sofrer minha punição, ímpio e desgraçado como sou, detestado por deuses e demônios”.

Apesar do posicionamento passivo e tolerante por parte de homens como Marco Aurélio, uma parcela considerável dos indivíduos via como impossível adotar tal postura. A doença era, nesse contexto, uma grande calamidade, não um evento normal e adequado no funcionamento da maquinaria do universo. Era, sim, uma característica perturbadora e aberrante desse mecanismo. Originada fora do homem, ela era resultado da fúria de uma divindade ou da possessão por um demônio. Diante da enfermidade, o homem tinha como único remédio o acesso direto ao seu agente causador: o apelo ao deus ou a expulsão do demônio. Súplica e eliminação figuravam, desta maneira, como ações alternativas diante dos agentes causadores da moléstia. Num mesmo universo religioso, para o qual a ordem do mundo é regida por uma inteligência de autoridade acima da humana, acima do indivíduo e da pólis, duas atitudes perante a desgraça se estabeleciam: tolerância, complacência e submissão, por um lado, e súplica, exigência e expulsão, por outro.

Tais atitudes dúbias perante a doença estão associadas à popularidade de santuários em honra a deuses como Ísis, Serápis e Esculápio e à figura do curandeiro, do mago como médico. Espaços devocionais e indivíduos que curam são desta maneira, elementos-chaves para o desenvolvimento, no interior de grupos cristãos, da personagem do devoto que cura imbuído do espírito divino.

O vínculo entre devoção, doença e cura presente no cristianismo desenvolve se a partir de concepções gregas como as anteriormente descritas e noções judaicas sobre as quais podemos ler no Pentateuco. Por um lado, a dor do parto será a punição conferida a Eva e ela e Adão serão expulsos do paraíso divino para que não comam da árvore da vida e vivam como imortais (Gênesis 3, 16; 22-24).

Em seguida, o limite de 120 anos para a vida humana – responderá à união ilícita entre as filhas dos homens e os filhos de Deus (Gênesis, 6, 1-3). Mas o deus do Pentateuco não é apenas aquele que se utiliza da doença como instrumento de punição do homem. Ele também tem o poder de distribuir saúde a quem lhe convém. No Êxodo, é dito que Iahweh livrará aqueles que o obedecerem de todas as pragas e doenças:

se ouvires atento a voz de Iahweh teu Deus e fizeres o que é reto diante dos seus olhos, se deres ouvidos aos seus mandamentos e guardares todas as leis, nenhuma enfermidade virá sobre ti, das que enviei sobre os egípcios. Pois eu sou Iahweh, aquele que te restaura. (Êxodo, 15, 16)

O judaísmo antigo associava, portanto, o distanciamento da divindade à dor, à doença e à morte e a submissão a ela como única garantia da vida e da saúde. O “Iahweh que restaura” o faz tão-somente quando obedecido, quando identificado como aquele que orienta o homem na melhor maneira de viver. No primeiro século da Era Comum, Fílon sintetiza essas concepções:

Essas coisas são a recompensa pela impiedade e a iniqüidade. Há doenças físicas que afligem e devoram cada membro e cada parte separadamente e que também atormentam e torturam o corpo com febres e calafrios e debilitações terríveis e também convulsões espasmódicas dos olhos e ferimentos e abscessos putrefatos.

As primeiras comunidades cristãs combinaram as concepções éticas sobre a doença e a saúde advindas do mundo grego e judaico ao interpretarem a doença como um sinal do desgosto divino. Diante da possibilidade de tornar-se doente, o devoto deve submeter-se à vontade de deus a fim de conservar a saúde e a vida.

Quando Jesus encontra-se diante do paralítico de Cafarnaum, seus pecados precisam ser perdoados antes da cura (Evangelho de Marcos 2, 5-12). Em outra ocasião, Jesus cura um doente que, como tantos outros, se encontrava prostrado diante do tanque de Betesda. Ao reencontrar o homem, tempos depois, Jesus exclama: Eis que estás curado; não peques mais para que não te suceda algo pior!

(Evangelho de João 5, 1-14). Decerto, em nenhum momento é explicitado se o pecado era a causa dessas doenças. Contudo, a julgar pela afirmação paulina de que a doença e a morte de certos membros da igreja de Corinto figuravam como castigo de deus por conta da inobservância da Ceia do Senhor (Primeira Epístola aos Coríntios 11, 30-32), é possível afirmar que as primeiras comunidades cristãs associavam transgressão e doença de maneira, senão causal, relacional. O mau funcionamento do homem como ser social compõe a dimensão física do mau funcionamento do corpo.

Como no mundo grego, comunidades cristãs também identificavam a ação demoníaca como causa das enfermidades. No Evangelho de Mateus (9, 32; 12, 22), mutismo e cegueira são atribuídos à ação demoníaca, a qual é neutralizada pelo exorcismo praticado por Jesus. Em outra ocasião, narrada no Evangelho de Marcos (9, 17), os discípulos tentam expulsar o demônio que possuía um menino epilético e mudo, mas não obtêm sucesso e ele é curado quando Jesus executa o exorcismo.

Além dessa compreensão da doença como resultado da ação de um demônio que possui o doente, outras enfermidades são concebidas numa relação diferente com o mundo demoníaco. Uma febre pode ser “conjurada”, “repreendida”, da mesma maneira que se “repreende um espírito”, como narrado no Evangelho de Lucas (4, 39). No mesmo documento, uma mulher encontra-se inválida devido à possessão por um espírito e, ao ser tocada por Jesus, este lhe informa: Mulher, estás livre de tua doença (Evangelho de Lucas 11, 13). O agente demoníaco, espiritual é, portanto, a própria doença. Ao dirigir-se a um, atinge-se o outro e, quando um é expulso, o outro simultaneamente desaparece.

O sintoma, para as primeiras comunidades cristãs, originado externamente, ocupava, contaminava o indivíduo e submetia-o a vontades próprias que alienavam o homem e retiravam-no do contexto social. Neste sentido, a concepção cristã da doença como a possessão por uma inteligência externa assemelha-se às idéias clássicas do interior do corpo como dimensão desconhecida, perigosa e de onde advêm impulsos, movimentos e dores que não são reconhecidos como originados na pessoa. Brooke Holmes denomina esse espaço de “cavidade”, a qual não se refere nem ao lugar em que o herói homérico oculta “palavras aladas” nem a um elemento da anatomia humana. A cavidade é, pelo contrário, um espaço em grande medida além daquilo que o médico pode ver e, crucialmente, abaixo do limiar da consciência. Esse espaço interior inacessível à pessoa é, no mundo cristão, um dos lugares da ação divina cujo objeto de interesse é o homem. Na Segunda Epístola aos Coríntios lemos a narrativa da doença de Paulo como sinal da ação divina por intermédio de Satanás: Para eu não me encher de soberba, foi-me dado um aguilhão na carne – um anjo de Satanás para me espancar – a fim de que eu não me encha de soberba. A esse respeito três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Respondeu-me, porém: “Basta-te a minha graça, pois é na fraqueza que a força manifesta todo o seu poder”. Por conseguinte, com todo o ânimo prefiro gloriar-me das minhas fraquezas, para que pouse sobre mim a força de Cristo. Por isto, eu me comprazo nas fraquezas, nos opróbrios, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por causa de Cristo. Pois quando sou fraco, então é que sou forte. (Segunda Epístola aos Coríntios 12, 7-10).

Aqui, a vontade divina toma a forma da doença e, para ser exercida, lança mão do mundo demoníaco como instrumento de ação. Nesse sentido, a doença ganha um caráter benéfico para o indivíduo, pois é através dela que este se torna objeto de atenção por parte do mundo divino. Diferentemente da concepção estóica em que a ordem do mundo depende de situações desagradáveis ao indivíduo, como no caso das enfermidades, a atitude de passividade cristã diante da doença é entendida como determinante, não para a totalidade ou a comunidade, mas para o indivíduo. Não é o universo que depende da ação, por vezes desfavorável ao homem, por parte da vontade dos deuses. O indivíduo é, não apenas, a vítima e o objeto de atenção divina. No mundo grego, como vemos na tragédia clássica, a possessão ocorre para que o desejo da divindade se cumpra e essa não traz qualquer benesse para o indivíduo. Na documentação paulina, a possessão pode ter um valor positivo, mesmo se toma a forma de doença, pois age de maneira repressora e educativa. A dimensão ética da doença não está numa relação de causa e efeito entre ação transgressora e sintoma, mas sim entre o sintoma e o comportamento esperado pela divindade.

O papel do curandeiro, desempenhado seja por Jesus, seja pelos apóstolos, tem por sua vez uma longa trajetória. Deuses como Esculápio, Ísis e Serápis exerciam atividades medicinais, inclusive através de prescrições emitidas em sonhos aos doentes. Ao dormir, o doente encontrava-se com a divindade e esta praticava a cura ao medicá-lo, operá-lo ou tocá-lo. Em outras situações, a atividade divina limitava-se a prescrever uma série de exercícios, alimentos, medicamentos e hábitos a fim de promover o restabelecimento do doente. A prática da incubação nos templos de Esculápio persistiu até 450 da Era Comum no santuário de Atenas, sobre o qual foram construídas sucessivas basílicas cristãs depois da eliminação do culto original. Muitas das práticas presentes nas Asklepiaia no período clássico podem ser conhecidas pelos Hieroi Logoi, um conjunto de orações compostas por Élio Aristides de Esmirna cerca de 170 da Era Comum. Aristides fora internado por diversas vezes ao longo de sua vida no santuário de Esculápio em Pérgamo e, sob as ordens do deus, registrou num diário suas experiências. Ao final da vida, os diários convertem-se em fonte para a composição dos Hieroi Logoi, obra na qual o devoto de Esculápio escreveu sobre as diversas moléstias que o acometeram, suas experiências religiosas, sociais e intelectuais no Asklepieion e as prescrições médicas emitidas pelo deus em sonhos. Essas incluíam passeios sem sapatos na neve, banhos, purgas, jejuns e o uso de diversos medicamentos cuja receita era também informada pelo deus.

Segundo Diodoro da Sicília, o qual escreve no último século antes da Era Comum, o mesmo tipo de atividade era atribuído a Ísis, Segundo ele, os egípcios acreditavam que a deusa teria descoberto muitos remédios e, quando se tornou imortal, passou a curar e a ensinar aos homens, em sonhos, como eles poderiam ser curados das enfermidades que os acometiam. Os santuários em honra ao sincrético Serápis também eram lugares para onde os doentes se dirigiam para sonhar com o deus e obterem cura para suas doenças. No segundo século da Era Comum, Arriano de Nicomédia narra como sete dos amigos de Alexandre, quando este se encontrava doente, dormiram no templo de Serápis para saber do deus se era aconselhável levá-lo para lá. A resposta foi negativa e em seguida Alexandre morreu, de maneira que sua morte foi entendida como se tivesse sido previamente profetizada.

O poder de curar não era exclusividade dos deuses no mundo Greco-Romano. Mais do que isso, ele podia se estender à habilidade em ressuscitar os mortos, numa radicalização absoluta do papel desempenhado pelo curandeiro, cuja identidade é redefinida pela do mago. Aos magos e feiticeiros era atribuída o poder de curar todos os tipos de doenças e de levantarem os mortos, como, no século I E.C., sintetiza Lucano. Ele escreve sobre uma mulher da Tessália chamada Ericto, procurada por Sextus, filho de Pompeu, a fim de obter o conhecimento sobre o futuro. Para isso, Ericto promove o retorno da alma ao corpo de um soldado morto ao convocar o fantasma das regiões inferiores e forçá-lo a entrar no cadáver e a falar:

Então o sangue quente e líquido com um toque suave acariciou os ferimentos enrijecidos e preencheu as veias até que vibrasse mais uma vez o pulso que lentamente retornava. E toda fibra estremeceu como se com a morte a vida tivesse se combinado. Então, não membro por membro, de maneira trabalhosa e com grande esforço, mas elevando-se de uma vez só, num salto o homem vivo se levantou da terra. Seus olhos brilhavam num clarão feroz e a vida era débil. Sobre sua face ainda restavam as pálidas matizes da morte recém-expulsa. Ele foi tomado de assombro, há pouco trazido de volta à terra: mas de seus lábios retesados não saia qualquer murmúrio. Apenas ele tinha poder de responder quando questionado. “Fale”, disse a mulher da Tessália, “pois te recompensarei.

Será grande o teu ganho se me responderes sinceramente e também livre de qualquer arte da Tessália. Este túmulo deve ser agora seu e em sua pira funerária tantas toras fatais devem queimar, tantos cantos devem ser entoados que nada mais, nem nenhum outro encantamento ou feitiço irá alcançá-lo. Assim, seu sono do Letes não será jamais perturbado novamente por uma morte recebida por mim há pouco. Por tal recompensa não considere esta segunda vida como algo forçado e em vão. As respostas dos deuses dadas pela sacerdotisa no sagrado santuário podem ser obscuras. Mas aqueles que enfrentam os oráculos da morte em busca da verdade devem ser respondidos de maneira clara. Portanto, fale, eu te rogo. Permita que a fortuna oculta fale através de tua voz sobre os mistérios do porvir”.

A bruxa da Tessália é procurada por Sextus a fim de desvendar um futuro sombrio: o morto profetiza derrota de Pompeu, a ser descrita no Livro Oitavo da obra. A ressurreição é neste caso, apenas um instrumento político, pois através dela, é dado a conhecer o desenvolvimento dos conflitos.

Em certas situações o elemento mágico está ausente e o curandeiro tem o poder de detectar os vestígios de vida no corpo de alguém dado como morto e lhe restaurar a vida, habilidade utilizada como sinal do grande poder. No primeiro século de nossa era, Plínio escreve sobre o médico Asclepíades de Prusa o qual invadira um funeral para o qual não fora convidado e salvara a vida do morto, cujo corpo já havia sido colocado sobre a pira. No século seguinte, Apuleio estende a narrativa:

Uma vez, por um acaso, quando ele estava voltando para a cidade vindo de sua casa no campo, viu uma enorme procissão funerária nos subúrbios da cidade. Uma imensa multidão de homens que foram prestar as últimas honras ao morto encontravam-se próximos ao carro fúnebre, todos imersos em grande tristeza e vestidos em trapos. Ele perguntou de quem era o funeral, mas ninguém respondeu. Então, se aproximou para satisfazer sua curiosidade e ver quem poderia ser aquele que estava morto, ou, quem sabe, na esperança de descobrir algo do interesse de sua profissão. De qualquer forma, ele arrebatou o homem das presas da morte, prestes a ser enterrado. Os membros do pobre sujeito já estavam cobertos de ervas e sua boca preenchida por um ungüento de doce perfume. Ele havia sido untado e tudo estava pronto para a pira. Mas Asclepiades olhou para ele e, cuidadosamente, tomou ciência de certos sinais. Manipulou seu corpo algumas vezes e percebeu que ainda havia vida nele, apesar da dificuldade em detectá-la. Rapidamente, ele exclama:

“Ele vive! Larguem as tochas, levem embora o fogo e ponham abaixo a pira. Levem de volta o banquete funerário e estendam-no sobre sua mesa em casa”. Enquanto ele falava, surgiu um burburinho; alguns diziam que era preciso confiar nas palavras do médico enquanto outros zombavam de sua habilidade. Finalmente, apesar da resistência até mesmo de alguns de seus parentes, talvez porque já haviam se apropriado dos bens do morto, talvez por não acreditarem ainda em suas palavras, Asclepiades os persuadiu a adiar o enterro por um breve momento. Tendo-o resgatado das mãos do responsável pelo funeral, ele levou o homem para casa como se o tivesse tirado da própria boca do inferno, e rapidamente fez com que seu espírito revivesse e, através de certos medicamentos, convocou a vida que ainda existia escondida nos lugares ocultos de seu corpo. (Florida 19) Alguns homens podiam exercer curas de maneira tão milagrosa quanto aquelas encontradas nos santuários dos deuses. No início da Era Comum, Plutarco narra como o general Pirro de Épiro, o qual vivera no século III antes da Era Comum, era capaz de curar o baço ao pressionar o corpo dos doentes com seu pé direito. Acreditava-se que o dedão de seu pé direito detivesse uma virtude divina, pois depois de sua morte, quando seu corpo todo havia sido queimado, ele permaneceu intacto. Tácito, o qual escreve na mesma época de Plutarco, discorre, por sua vez, sobre o poder do imperador Vespasiano de curar: Entre os pobres de Alexandria havia um homem que todos sabiam ser cego. Um dia ele se atirou aos pés de Vespasiano, implorando-lhe com gemidos que curasse sua cegueira. Ele havia sido instruído por Serápis para dirigir-lhe essa súplica, o deus favorito de uma nação muito agarrada a estranhas crenças. Ele perguntou se o imperador poderia untar seu rosto e olhos com a saliva de sua boca. Um outro suplicante, o qual sofria de atrofia numa mão, também implorou ao imperador por orientação de Serápis que César o tocasse com seu pé imperial.

A princípio, Vespasiano riu e recusou-se. Quando eles insistiram, ele hesitou. Por um momento, ficou preocupado em ser acusado de vaidade, caso falhasse. Depois, os apelos urgentes das vítimas e das pessoas em volta do imperador fizeram-no desejar executar se curas. Finalmente, ele solicitou a opinião dos médicos sobre se uma cegueira e uma atrofia daquele tipo poderiam ser curadas por meios humanos. Os médicos foram eloqüentes sobre várias possibilidades. A visão do homem cego não estava completamente destruída e se certos impedimentos fossem removidos, sua visão retornaria. O membro da outra vítima havia sido deslocado, mas poderia ser colocado no lugar com o tratamento correto.

Talvez aquela fosse a vontade dos deuses, eles acrescentaram; talvez o imperador tivesse sido escolhido para exercer um milagre. De qualquer maneira, se houvesse cura, o crédito iria para ele. Se ela não acontecesse, os pobres coitados teriam que suportar o ridículo.

Então, Vespasiano pressentiu que o destino lhe fornecido a chave para todas as portas e que nada agora desafiava a crença. Com uma expressão sorridente e cercado por uma multidão ansiosa de expectadores, ele fez o que lhe era pedido. Instantaneamente, o aleijado recuperou o movimento da mão e a luz do dia raiava novamente para seu companheiro cego.

A proximidade do homem de um deus podia garantir-lhe o poder de curar e até mesmo de ressuscitar. Filóstrato narra como Apolônio de Tiana, o qual vivera no primeiro século de nossa era, curou um rapaz possuído por um demônio. Em diferentes momentos, um homem manco, outro cego e outro com uma mão atrofiada, foram curados. Em Atenas, perturbado pela presença de um jovem possuído, Apolônio o encarou e o demônio gritou com medo e ódio. Ao fim, o demônio declarou que sairia do corpo do rapaz e jamais possuiria ninguém. Quando Apolônio ordenou que saísse e demonstrasse de maneira visível que não mais possuía o jovem, o demônio obedeceu fazendo tombar uma das estátuas do pórtico. Em seguida, o possuído esfregou os olhos como se tivesse sido acordado de um sonho e estava perfeitamente curado. No mesmo documento, Filóstrato narra como Apolônio, como Asclepiades, teria restaurado a saúde de uma jovem que aparentemente morrera durante seu casamento. Nessa narrativa, contudo, há certa dúvida se a jovem estava realmente viva ou se já havia morrido quando Apolônio se aproximou dela:

Uma moça morrera bem na hora de seu casamento e o noivo seguia o carro funerário em lamento como era natural por não ter consumado o matrimônio. Toda Roma lamentava ao seu lado, pois a donzela pertencia a uma família de cônsules. Então, Apolônio, vendo sua tristeza, disse: “Desçam o carro, pois eu cessarei as lágrimas derramadas por vocês por esta jovem”.

Ainda assim, ele perguntou qual era o seu nome. A multidão pensou que ele faria uma oração, como era comum para compor o funeral e para provocar o lamento. Contudo, ele não fez nada disso, mas apenas tocando-a e sussurrando em segredo algum encantamento sobre ela, de uma vez só acordou a jovem da morte aparente. E a jovem falou em bom som e retornou à casa paterna, exatamente como Alceste fez quando ressuscitada por Héracles. E os parentes da jovem quiseram presenteá-lo com a soma de 150.000 sestércios, mas ele disse que doaria o dinheiro para a jovem na forma de dote.

Bem, se ele detectou alguma fagulha de vida nela, a qual não fora notada por aqueles que cuidavam da jovem – pois foi dito que apesar de estar chovendo no dia, um vapor saía de sua face – ou se sua vida estava realmente extinta e ele a restaurara pelo calor de seu toque, é um mistério que nem eu nem aqueles que estavam presentes puderam esclarecer.

A dúvida sobre o estado do homem dado como morto foi objeto de reflexão dos primeiros autores cristãos. Aqueles que ressuscitam não estão mortos, mas dormem. No Evangelho de Marcos, é narrado como Jesus fora abordado por Jairo, o qual rogou que salvasse sua filha, a qual estava à beira da morte. Ao chegar à casa, Jesus exclama: “Por que este alvoroço e este pranto? A criança não morreu; está dormindo”. A narrativa segue até a recuperação da menina: E caçoavam dele. Ele, porém, ordenou que saíssem todos, exceto o pai e a mãe da criança e os que o acompanhavam, e com eles entrou onde estava a criança. Tomando a mão da criança, disse-lhe: “Talítha kum”- o que significa: “Menina, eu te digo, levanta-te”. No mesmo instante, a menina se levantou, e andava, pois já tinha doze anos. (Evangelho de Marcos, 5, 39-43).

O mesmo sentido encontra-se na narrativa de ressurreição de Lázaro, presente no Evangelho de João. Ao encontrá-lo Jesus exclama: “Nosso amigo Lázaro dorme, mas vou despertá-lo”. A narrativa prossegue: Os discípulos responderam: “Senhor, se ele está dormindo, vai se salvar!”. Jesus, porém, falara de sua morte e eles julgaram que falasse do repouso do sono. Então Jesus lhes falou claramente: “Lázaro morreu. Por vossa causa, alegro-me de não ter estado lá, para que creiais. Mas vamos para junto dele!” Tomé, chamado Dídimo, disse então aos outros discípulos: “Vamos também nós, para morrermos com ele!”

Ao chegar, Jesus encontrou Lázaro já sepultado havia quatro dias. Betânia ficava perto de Jerusalém, a uns quinze estádios. Muitos judeus tinham vindo até Marta e Maria, para consolá-las da perda do irmão. Quando Marta soube que Jesus chegara, saiu ao seu encontro; Maia, porém, continuava sentada, em casa. Então, disse Marta a Jesus: “Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido. Mas ainda agora sei que tudo que pedires a Deus, ele te concederá”. Disse-lhe Jesus: “Teu irmão ressuscitará”. “Sei, disse Marta, que ele ressuscitará na ressurreição, no último dia!” Disse-lhe Jesus:

“Eu sou a ressurreição. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá. E quem vive e crê em mim jamais morrerá. Crês nisso?” Disse ela: “Sim, senhor. Eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus que vem ao mundo”.

Tendo dito isso, afastou-se e chamou sua irmã Maria, dizendo baixinho: “O Senhor está aqui e te chama!” Esta, ouvindo isso, ergueu-se logo e foi ao seu encontro. Jesus não entrara ainda no povoado, mas estava no lugar em que Marta o fora encontrar. Quando os judeus, que estavam na casa com Maria, consolando-a, viram-na levantar-se rapidamente e sair, acompanharam-na, julgando que fosse ao sepulcro para aí chorar.

Chegando ao lugar onde Jesus estava, Maria, vendo-o, prostrou-se a seus pés e lhe disse: “Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido”. Quando Jesus a viu chorar e também os judeus que a acompanhavam, comoveu-se interiormente e ficou conturbado. E perguntou: “Onde o colocastes?” Responderam-lhe: “Senhor, vem e vê!” Jesus chorou. Diziam, então, os judeus: “Vede como ele o amava!” Alguns deles disseram: “Esse, que abriu os olhos do cego, não poderia ter feito com que ele não morresse?” Comoveu-se de novo Jesus e dirigiu-se ao sepulcro. Era uma gruta, com uma pedra sobreposta. Disse Jesus: “Retirai a pedra!” Marta, a irmã do morto, disse-lhe: “Senhor, já cheira mal: é o quarto dia!” Disse-lhe Jesus: “Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?” Retiraram, então, a pedra. Jesus ergueu os olhos para o alto e disse: “Pai, dou-te graças porque me ouviste. Eu sabia que sempre me ouves; mas digo isso por causa da multidão que me rodeia, para que creiam que me enviaste”. Tendo dito isto, gritou em voz alta: “Lázaro, vem para fora!” O morto saiu, com os pés e mãos enfaixados e com o rosto recoberto com um sudário. Jesus lhes disse: “Desatai-o e deixai-o ir embora”. (Evangelho de João 11, 11-44).

A certeza de que Lázaro encontra-se vivo, identificada pela fala atribuída a Jesus, não é capaz de amenizar a ambigüidade da situação apresentada logo nas primeiras linhas da narrativa de ressurreição. “Lázaro dorme” é corrigido por “Lázaro morreu” e a observação sobre seu corpo sepultado há quatro dias, já em estado de putrefação. O importante, no entanto, não é o estado no qual o personagem se encontra – como no caso da jovem “ressuscitada” por Apolônio de Tiana – mas, sim, a habilidade inquestionável do curandeiro em restaurar a vida. Estamos diante, portanto, do modelo clássico de theios anér), o homem cuja proximidade com o mundo divino e uma sabedoria oculta lhe permite praticar milagres.

Essa intimidade com a divindade confunde se com o conhecimento de como essa atua no mundo mortal e, principalmente, a respeito do instrumental sobrenatural do qual lança mão a fim de afetar os homens. Neste sentido, cura, ressurreição e expulsão de demônios figuram como valores análogos, cuja pedra de toque é a identidade do agente causador do mal: deus, doença, demônio. A circulação desses elementos entre um mundo marcadamente politeísta e outro, de matriz judaica, não foi sintetizada exclusivamente pela presença do curandeiro sagrado na documentação cristã. No primeiro século e em meio judaico, Josefo escreve aos gentios que, nesse sentido, Salomão não era nada inferior aos seus sábios:

(...) deus também permitiu que Salomão aprendesse a arte de expulsar demônios, a qual é ma ciência útil e salutar para os homens. Ele também proferiu encantamentos através dos quais doenças eram aliviadas e deixou como herança a maneira de se utilizar de exorcismos através dos quais afastar demônios para que eles nunca retornem e esse método de cura é um grande poder, mesmo hoje em dia.

A narrativa de Josefo, utilizada como argumento contra a exclusividade do mundo Greco-romano em prover homens sábios com a habilidade de curar, nos remete ao problema da associação entre possessão e doença. Em meios cristãos, ambos se tornarão veículos para o exercício da vontade divina no mundo, através de curas empreendidas por Jesus e seus seguidores. Como no mundo grego, cura e doença têm origem divina. Entretanto, no cristianismo, o objeto último de interesse do deus não é a ordem do mundo, mas uma mudança interior nas concepções de mundo e atitudes do indivíduo. Como no mundo judaico, a doença é fruto da vontade divina, inclusive de maneira punitiva, e a possessão demoníaca germina seus sintomas. Por outro lado, no cristianismo, como no mundo Greco-romano, o exercício do poder de cura se dá pela proximidade entre o curandeiro e a divindade, seja essa proximidade entendida como intimidade e combinação de vontades ou entendida como filiação e mesmo identidade com o divino.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Michael Howard e a SHEKINÁH: Glória de Deus ou entidade espiritual que identifica todas as “deusas” pagãs da fertilidade sexual ?


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Shechiná - termo com pronúncia mais próxima do termo hebraico previna-se da marca - conhecido também como Shekiná em português (outras transliterações possíveis: Shekinah, Shechinah, Shekina, Shechina, Schechinah) designando, no judaísmo, a faceta da revelação divina aos homens, a "Divina Presença", sendo também considerada a face "feminina" e "materna" dela. O vocábulo "shechiná" não aparece na Bíblia Judaica nem no Novo Testamento, sendo uma palavra derivada da raiz hebraica previna-se da marca (sh-k-n), cujo significado é "habitar", "fazer morada". De acordo com a concepção cabalística e do ramo hassidísmo do judaísmo, a Shechiná é uma energia cósmica poderosíssima em si mesma, que habita no "interior" do Universo e vivifíca-o, sendo a sua "alma" ou "espírito".

A Shechiná, como uma idéia concreta, aparece só na literatura Literatura rabínica, havendo somente "alusões" a esta presença divina, no meio do povo de Israel, na Torá, quando Deus disse ao seu povo previna-se da marca - "e fareis um santuário para Mim, e habitarei no meio deles (dos israelitas)"[1];previna-se da marca - "e habitarei no meio dos filhos de Israel, e serei-lhes por Deus"[2]; e previna-se da marca - "o Eterno dos exércitos, aquele que habita em Sião"[3].

Esta faceta da divindade, que é a menor de todas as outras revelações, é o meio comunicativo entre o homem e Deus. Ela é "mensurável" de acordo com a posição de cada pessoa e dos seus atos; sendo que, às vezes, ela se revela e, às vezes, se oculta, como os Sábios de Israel disseram, quando se referiam ao Segundo Templo, que não tinha a "pairar da Shechiná (sobre ele)". Já em relação ao Diáspora, os rabinos disseram que, de alguma forma, a Shechiná preservou uma relação com Israel, especialmente quando este passou por períodos difíceis, espalhados entre as nações: "a todo lugar onde para lá foi exilado Israel - a Shechiná foi (também) exilada com ele"[4], sofrendo também com ele nos infortúnios. Rabi Chanina, no Talmude, agrava ainda mais esta concepção, quando diz que "aquele que esbofetea a face de Israel, é como se estivesse esbofeteado a face da Shechiná"[5].

Na Cabala esotérica, Shekinah é a essência do Ain Soph que, emanado, ficou preso ou enroscado em Malkuth, sendo correspondente à Shakti ou Kundalini na tradição esotérica oriental da Yoga. Segundo o livro cabalístico Zohar, a evolução do homem é o processo em que o pólo feminino do Divino(Shekinah), presente potencialmente na criação e no homem (Malkuth), se une ao pólo masculino da Divindade, Kether. Tal reunião é na tradição rosacruz representada pelas Núpcias Alquímicas de Christian Rosenkreutz, e na Bíblia está no livro O Cântico dos Cânticos de Salomão. Segundo a tradição da Cabala, a reunião dos dois pólos da Divindade resulta em uma Consciência Cósmica ou crística, de união do homem e do Divino, resultando no Homem-Deus ou Cristo. Tal estado de consciência é equivalente na Yoga, ao Samadhi, a consciência produto de quando Shakti, o pólo feminino do divino, presente no Chakra da base Muladhara, se une a Shiva, o pólo masculino do divino presente no Chakra Sahasrara, no topo da cabeça, resultando no Avatar, a encarnação humana do Divino, do Cósmico. Na tradição esotérica egípcia, o equivalente é a união entre Ísis e Osíris, resultando em Hórus, o Homem-Deus.

Tal união é, portanto, em todas as tradições esotéricas, a iluminação, a iniciação.


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O objetivo deste trabalho é esclarecer de forma documentada qual é o real significado dessa palavra SHEKINÁH que tem sido amplamente usada nos meios evangélicos e a quem ele realmente se refere no contexto do idioma hebraico e do misticismo judaico.

Esse esclarecimento é absolutamente urgente e necessário porque uma boa parte dos evangélicos vêem pronunciando o nome “SHEKINÁH” em seus cultos e em suas orações, e, sem que o saibam, quando isso acontece, na verdade, não é a Deus que estão invocando, mas sim a uma “deusa”, uma entidade espiritual que identifica com todas “deusas” pagãs da fertilidade sexual! E como, nos países de língua portuguesa, são pouquíssimas as pessoas que sabem LER EM HEBRAICO, o resultado é que quase ninguém está sabendo disso.

Pare se compreender esta confusão engenhosamente criada em torno dessa tradução distorcida da palavra hebraica SHEKINÁH, podemos comparar esta grave situação à de um grupo hipotético de cristãos que por falta de conhecimento começaram a invocar a Deus pronunciando a “Maria”. Se alguém nos dissesse que pronunciar a palavra “Maria” estaríamos invocando ao Deus vivo e verdadeiro, para nós que compreendemos o idioma português, isso pareceria, no mínimo, ridículo. No entanto, para a maioria da população cristã não sabe ler ou falar em hebraico e por isso esta distinção se torna extremamente difícil.

Apesar de estarem sendo instigadas a clamar a Deus através desse nome, o fato é que quase ninguém sabe o significado real do vocábulo hebraico SHEKINÁH e, muito menos qual é o sentido que o mesmo assume no âmbito do judaísmo.

Por isso, em seus cultos, quando alguns evangélicos elevam suas vozes clamando pelo derramamento dessa “Shekiná” sobre si mesmos e sobre todo o povo, estão pronunciando uma palavra cujo significado e totalmente diferente do que lhes foi ensinado. Este nome que estão se acostumando a invocar na verdade é a palavra hebraica que identifica UMA “DEUSA” SUMERIANA DA FERTILIDADE SEXUAL chamada INANA. E, na lingua dos antigos sumérios, o vocábulo INANA significa RAINHA DO CÉU, a mesma “deusa” que os egípcios adoram sob o nome de ISIS, a “grande mãe”, e que depois foi adorada pelos babilônios como ISHTAR, a “deusa” da prostituição, que se chama ISHTAR que os fenícios da cidade de Sidon adoravam sob o nome de ASTAROTE, a “deusa” da fertilidade sexual dos fenícios chama, mencionada na bíblia como “a abominação dos sidônios”:

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Assim como se observa no texto citado da enciclopédia digital Wikipédia, a BÍBLIA DE ESTUDOS PENTECOSTAL também declara, em suas notas doutrinárias de rodapé que nenhum dos autores bíblicos jamais usou a palavra “SHEKINÁH” para designar o que quer que seja, nos seus textos originais em hebraico. Ela também afirma que o vocábulo “SHEKINÁH” é uma palavra relativamente nova criada pelos RABINOS e não pelas pessoas que escreveram a Bíblia!

Ela não se encontra em parte algumas dos textos originais em hebraico do Antigo Testamento e os rabinos introduziram-na no judaísmo quando as Escrituras Sagradas já haviam sido concluídas há muito tempo.

Na verdade o vocábulo “SHEKINÁH” se consiste uma palavra nova que foi criada pelos rabinos e introduzida muito tardiamente no judaísmo com um dos muitos nomes da famigerada demônia do misticismo judaico conhecida como LILITH.

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As referências doutrinárias da Bíblia de Estudos Pentecostal também reconhecem que o termo SHEKINÁH é um das palavras hebraicas que o judaísmo usa para designar a “deusa” mesopotâmica “LILITH-INANA”.

A ignorância a respeito do significado real desse nome e não inocenta aqueles que fizerem uso dele sem saber o que ele realmente significa, porque está escrito:

“O MEU POVO FOI DESTRUÍDO PORQUE LHE FALTOU CONHECIMENTO.” (Oséias 4: 6).

Se o Novo Testamento afirma que todo joelho se dobra diante de Jesus Cristo porque Deus ter lhe dado UM NOME “QUE ESTÁ ACIMA DE TODO NOME”, isso evidencia que, no mundo espiritual, NOMES têm importância fundamental e que sua invocação e sua pronúncia têm repercussões muito significativas nas regiões celestiais e na vida das pessoas. Por exemplo, um indivíduo que tenha sido vitima de uma possessão demoníaca somente poderá ser liberto ordenando que o demônio saia dela EM NOME DE JESUS CRISTO. Isso significa que o mesmo perante a pronúncia específica do NOME de Jesus Cristo de Nazaré é que serão liberados o poder e a autoridade que colocarão o referido espírito em sujeição e libertarão a pessoa do seu mal. Diante disso, podemos concluir que é necessário extremo cuidado quando se escolhe o nome pelo qual se vai invocar, adorar ou louvar a Deus, porque será a PRONÚNCIA DO NOME DAQUELE A QUEM ESTÁ SENDO DIRIGIDO A INVOCAÇÃO O LOUVOR E A ADORAÇÃO QUE DETERMINARÁ QUEM É QUE ESTÁ SENDO ADORADO, LOUVADO OU INVOCADO: Se alguém tentar invocar a Deus, mas, por ignorância, tentar fazê-lo usando o nome de um demônio, é evidente que, se for atendido, será por este espírito maligno e não por Deus. São leis bem específicas do mundo espiritual às quais todo o universo encontra-se sujeito e que se encontram claramente explicadas nas Escrituras porque é necessário que sejam observadas pelos que se propõe a servir a Deus.

Reafirmar algo tão óbvio tornou-se necessário porque estamos vivendo em um tempo extremamente marcado pelo ENGANO e pelos falsos ensinos que estão sendo ministrados por muitos falsos profetas. Jesus disse que no fim dos tempos: “Haverá falsos cristos e FALSOS PROFETAS QUE ENGANARÃO A MUITOS”.Não se deixe enganar. Quando você for usar algum nome para invocar, louvar ou adorar a Deus é imprescindível que você SAIBA muito bem o SIGNIFICADO desse nome e tenha certeza absoluta do que ele quer dizer.

É claro que fica muito mais fácil ter essa certeza se o referido nome estiver sendo dito em própria língua, isto é, em português. Mas quando se trata de um nome hebraico, que é um idioma complexo e de difícil tradução, evidentemente ficará muito mais difícil de evitar que alguém possa enganá-lo. Lembre-se: Jesus não disse que haveriam alguns falsos profetas, mas sim MUITOS, e também não disse que seriam poucos os que seriam enganados por eles, mas que seriam MUITOS. Portanto, todo cuidado é pouco. Neste solo enganoso, certamente será muito melhor EVITAR O USO DE PALAVRAS HEBRAICAS e restringir-se, apenas à nossa própria língua. Trata-se, não apenas de um problema de identidade religiosa, mas, até mesmo, de uma questão de soberania nacional.

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Toda a documentação que estamos apresentando comprova que o vocábulo “SHEKINÁ” é o nome que o idioma hebraico usa ao referir-se a uma “deusa” da fertilidade do misticismo judaico, e que, portanto é o nome de um DEMÔNIO. Por isso todo aquele que tentar invocar, louvar ou adorar a Deus usando a palavra hebraica “SHEKINÁ”, não estará, verdadeiramente, invocando, louvando ou adorando a Deus, mas sim a um DEMÔNIO CABALÍSTICO.

É indispensável que você esteja absolutamente certo sobre QUEM é você que você está adorando, louvando ou invocando e isso é feito somente mediante a pronúncia exata de um determinado NOME. Conforme o nome que está sendo invocado, pode ser que o próprio demônio possa estar sendo convidado para entrar pela porta da sua igreja ou da sua casa. São leis que regem o mundo espiritual, queiramos ou não. Por isso é absolutamente necessário ter CERTEZA TOTAL a respeito do significado das palavras que se usa nessas ocasiões. O próprio Jesus nos avisou sobre isso dizendo:

“PELAS TUAS PALAVRAS SERÁS JUSTIFICADO E, PELAS TUAS PALAVRAS SERÁS CONDENADO.” (Mateus 12:37)

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“... aquilo que muitas pessoas supostamente bem informadas pensam que sabem sobre o JUDAÍSMO pode muito bem ser ENGANADOR, a não ser que consigam ler Hebraico... outra concepção errada sobre JUDAÍSMO que é particularmente comum entre os cristãos, ou pessoas fortemente influenciadas pela tradição e cultura cristãs É A IDÉIA ENGANADORA DE QUE O JUDAÍSMO “É UMA RELIGIÃO BÍBLICA”; que o Antigo Testamento tem no JUDAÍSMO o mesmo lugar central e a mesma autoridade legal que a Bíblia tem para o cristianismo protestante e mesmo para o católico. Mais uma vez isso está ligado à questão da interpretação... Aqui a interpretação está fixada rigidamente – mas PELO TALMUDE em vez da própria Bíblia1. Muitos, talvez quase todos, os versos bíblicos que prescrevem atos e obrigações religiosos são “entendidos” pelo JUDAÍSMO CLÁSSICO, e pela ORTODOXIA dos nossos dias, num sentido TOTALMENTE DISTINTO, OU MESMO CONTRÁRIO, do significado literal como entendido pelos cristãos e outros leitores do Antigo Testamento, que só vêem o texto simples... DEVE SER NOTADO QUE AS MUDANÇAS NO SIGNIFICADO NÃO SEGUEM O MESMO SENTIDO DO PONTO DE VISTA DA ÉTICA... quando os JUDEUS ORTODOXOS de hoje lêem a Bíblia, estão a ler um livro muito diferente, com um significado totalmente diferente, da Bíblia como é lida por não judeus ou por judeus não-ortodoxos... De fato, quanto mais uma pessoa lê a Bíblia, MENOS ele ou ela sabe sobre o JUDAÍSMO ORTODOXO. Pois o último encara o Antigo Testamento como um texto de formulas sagradas imutáveis, cuja recitação é um ato de grande mérito, MAS CUJO SIGNIFICADO É DETERMINADO TOTALMENTE EM OUTRO LADO... Deve ser claramente compreendido que a FONTE DA AUTORIDADE para as práticas do JUDAÍSMO CLÁSSICO (e do ORTODOXO em nossos dias) a base determinante da sua estrutura legal é o TALMUDE, ou para ser mais exato, o chamado TALMUDE BABILÔNICO2 ...” [ênfase acrescentada] (Israel Shahak, HISTÓRIA JUDAICA RELIGIÃO JUDAICA – O peso de três mil anos, Hugin Editores Ltda, 1994, Lisboa, págs. 53 a 56)

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... ATUALMENTE, NA ORTODOXIA JUDAICA, EM PARTICULAR ENTRE OS RABINOS, A INFLUÊNCIA DA CABALA PERMANECEU PREDOMINANTE... o conhecimento e a compreensão dessas idéias são importantes por duas razões. Primeiro, sem elas não podemos compreender as verdadeiras crenças do JUDAÍSMO... Em segundo lugar, ESSAS IDEAIS DESEMPENHAM UM PAPEL POLÍTICO CONTEMPORÂNEO IMPORTANTE, dado fazerem parte de um SISTEMA EXPLÍCITO DE CRENÇAS de muitos políticos religiosos... e têm uma influência indireta em muitos DIRIGENTES SIONISTAS de todos os países, incluindo a esquerda sionista. Segundo a CABALA, o universo NÃO É GOVERNADO POR UM ÚNICO DEUS, mas por várias divindades, de caracteres e influência vários, que emanam de uma nebulosa e distante Primeira Causa, emanaram ou nasceram primeiro, de um deus macho chamado “Sabedoria” ou “Pai”, e depois, uma DEUSA FÊMEA chamada “Conhecimento” ou “MÃE”. Do casamento desses dois, nasceu um casal de deuses mais jovens. O Filho, também chamado por muitos outros nomes tais como “Cara Pequena”ou “O Santo Abençoado”; e a FILHA, também chamada “SENHORA” (ou “Matronita”, uma palavra derivada do latim), “SHEKHINAH”, “RAINHA”, etc. Estes dois jovens deuses deveriam ter se unido, mas a união foi evitada pelas maquinações de Satanás, que neste sistema é um personagem muito importante e independente. A criação foi levada pela Primeira Causa de forma a permitir a sua união, mas por causa da Queda tornaram-se mais desunidos que nunca, e na verdade Satanás conseguiu aproximar-se bastante da FILHA DIVINA e violentou-a (aparentemente ou de fato – as opiniões diferem sobre o assunto). A criação do povo judaico foi levada a cabo de forma a emendar a quebra provocada por Adão e Eva, e no Monte Sinai isto foi conseguido por um momento: o deus macho Filho, encarnado em Moisés, foi unido com a DEUSA SHEKHINAH. Infelizmente, o pecado do Bezerro de Ouro voltou a provocar a desunião do deus superior; mas o arrependimento do povo judaico reparou as coisas até certo ponto. De igual modo, acredita-se que cada incidente da história bíblica judaica está ligado à união ou à desunião do par divino. A conquista da Palestina aos Cananeus e a construção do primeiro e do segundo Templos foram particularmente propícias para sua união, enquanto que a destruição dos Templos e o exílio dos judeus da Terra Santa são meramente sinais exteriores não só da desunião divina, mas também de uma verdadeira “PROSTITUIÇÃO” junto aos deuses estrangeiros. A FILHA3 cai profundamente no poder de Satanás, enquanto que o Filho leva para a cama várias personagens satânicas, em vez da sua própria mulher.

O dever dos judeus piedosos é restaurar pelas suas orações e atos religiosos a perfeita unidade divina, sob a forma de UNIÃO SEXUAL, entre as divindades macho e fêmea4 . Assim, antes de muitos atos rituais, que cada judeu piedoso deve executar várias vezes por dia, é recitada A FORMULA CABALÍSTICA seguinte: “Por intenção do congresso [sexual]5 de O Santo Abençoado e a sua SHEKHINAH...” As orações matinais judaicas são também organizadas de forma a promoverem sua UNIÃO SEXUAL, mesmo que só temporariamente. Partes sucessivas da oração correspondem misticamente aos estados sucessivos da união: em certa altura a deusa aproxima-se com as suas aias, noutra o deus põe-lhe o braço em torno do pescoço e acaricia lhe o seio, e finalmente acredita-se que o ATO SEXUAL tenha lugar. Outras orações e atos religiosos, como interpretados pelos CABALISTAS, destinam-se enganar vários anjos (imaginados como divindades menores com um certo grau de independência) ou para aplacar Satanás ... tomemos outro exemplo: tanto antes como depois de uma refeição, o judeu piedoso lava ritualmente as mãos, pronunciando uma benção especial. Numa dessas duas ocasiões está a adorar a Deus, ao promover a união divina do Filho e da FILHA, mas na outra está a adorar a Satanás, que gosta tanto de orações judaicas e atos rituais que, quando lhe são oferecidos alguns, conserva-se ocupado e não incomoda a Filha divina. Na verdade, OS CABALISTAS ACREDITAM QUE ALGUNS SACRIFÍCIOS QUEIMADOS NO TEMPLO ERAM DESTINADOS A SATANÁS. Por exemplo, os setenta novilhos sacrificados durante os sete dias da festa dos Tabernáculos, eram supostamente oferecidos a Satanás na sua capacidade de governante de todos os gentios, de forma a conservá-lo demasiado ocupado para interferir no oitavo dia, quando era feito o sacrifício a Deus. Podem ser dados muitos outros exemplos do mesmo tipo. Devem ser estabelecidos alguns pontos a respeito deste SISTEMA e a sua importância devida no JUDAÍSMO...Em primeiro lugar, SEJA O QUE FOR QUE DISSERMOS SOBRE ESTE SISTEMA CABALÍSTICO, NÃO PODE SER ENCARADO COMO MONOTEÍSTA... Em segundo lugar, a verdadeira natureza do JUDAÍSMO CLÁSSICO é ilustrada pela facilidade com que este sistema foi adotado. A fé e as crenças desempenham um papel extremamente pequeno no JUDAÍSMO CLÁSSICO. O QUE É DE IMPORTÂNCIA FUNDAMENTAL É O ATO RITUAL, em vez do significado que o ato deveria ter ou a crença ligada a ele. ... podíamos ver alguns judeus praticar um ato religioso, acreditando ser um ato de adoração a Deus , enquanto outros faziam exatamente a mesma coisa com a intenção de aplacar a Satanás... talvez a fórmula judaica mais sagrada, “Ouve ò Israel, o Senhor é o nosso Deus, o Senhor é só um”, recitada várias vezes por dia por todos os judeus piedosos... pode significar que foi atingido um certo estado na UNIÃO DAS DIVINDADES MACHO E FÊMEA, ou que está a ser promovida pela recitação desta fórmula.” [ênfase acrescentada] (Israel Shahak, HISTÓRIA JUDAICA RELIGIÃO JUDAICA – O peso de três mil anos, Hugin Editores Ltda, 1994, Lisboa, pág. 49 a 52)

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O adorador da deusa, SALOMÃO, havia convidado de Tiro, um centro de adoração pagã, o mestre construtor HIRAM ABIFF... Como Hiram fora o projetista de templos pagãos, parece provável que tenha incorporado elementos do paganismo na arquitetura do TEMPLO DE SALOMÃO. De fato... A entrada principal do templo era... flanqueada por dois pilares historicamente conhecidos como Jaquim e Boaz. Eles formam a estrutura do pátio externo6 ou pórtico do templo , onde – conforme a lenda – os PEDREIROS7 construtores do edifício se reuniam. Tem sido afirmado que esses DOIS PILARES foram posicionados de modo a imitar os OBELISCOS construídos nas entradas dos templos egípcios... Esses pilares, por alguma razão desconhecida chamados de AGULHAS DE CLEÓPATRA, podem ser atualmente encontrados às margens do rio Tamisa, em Londres, e no Central Park, em Nova York. Os símbolos na base do OBELISCO americano foram identificados como SINAIS MAÇÔNICOS... Os dois pilares centrais do TEMPLO DE SALOMÃO também guardam semelhanças com os símbolos da fertilidade cananeus tradicionais. Os templos dedicados à deusa em Tiro teriam – ao que se diz – pilares de pedra com formato fálico8 em suas entradas. Esses PILARES eram o foco dos RITOS DE FERTILIDADE realizados em honra a ASTARTE em suas festas especiais... Os cabalistas os têm identificado como símbolos dos princípios masculino e feminino...Além disso, ocultistas maçons concordam que esses dois pilares representam as energias masculina e feminina...a sua posição em ambos os lados da entrada do templo dedicado à deusa, indica que essa passagem pode representar os LÁBIOS FEMININOS. Na crença religiosa antiga, os templos da deusa – quer ASTARTE, ISHTAR ou ÍSIS – eram projetados como SÍMBOLOS DO SEU CORPO, o que se refletia na sua arquitetura...” (A CONSPIRAÇÃO OCULTISTA, Michael Howard, 1994, Editora Campus, págs. 12 a 14)

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“... assim diz o Senhor Deus de Israel: Eis que rasgarei o reino da mão de Salomão... porque me deixaram, e se encurvaram a ASTAROTE, deusa dos sidônios... e não andaram pelos meus caminhos, para fazerem o que parece reto aos meus olhos, a saber os meus estatutos e os meus juízos...” (I Reis 11: 31 e 33)

“... á luz da situação religiosa no reinado de SALOMÃO, alguns fatos interessantes vêem à tona, descortinando-nos O SIMBOLISMO PAGÃO OCULTO DA FRANCO-MAÇONARIA. Primeiro, na época em que Salomão ocupava o trono de Israel, Tiro era conhecida como um centro de adoração da DEUSA. ...Salomão tinha extensa correspondência com o rei pagão de Tiro, tendo-lhe solicitado que lhe enviasse o seu mestre construtor – que devia estar ocupado na construção de TEMPLOS DEDICADOS À VENERAÇÃO DA GRANDE DEUSA – para ajudá-lo ... O conflito acarretado ainda pode ser detectado no JUDAÍSMO ORTODOXO, onde o Supremo Criador é representado como NEM MASCULINO NEM FEMININO. ... O antigo conceito de uma deidade ANDRÓGINA9 somente sobreviveu nos ENSINAMENTOS SECRETOS DO SISTEMA MÍSTICO RELIGIOSO CONHECIDO COMO CABALA, A DOUTRINA ESOTÉRICA DA RELIGIÃO JUDAICA, NA IMAGEM FEMININA DA SHEKINÁ OU NOIVA DE DEUS. Nas sinagogas judaicas a SHEKINÁ é acolhida no por do sol de SEXTA FEIRA, nas preces celebrantes do início do Sabá. Nessas preces a SHEKINÁ é acolhida como a NOIVA DE DEUS e, segundo os ENSINAMENTOS CABALISTAS, a criação só pode se manifestar através dela. Essa idéia é reforçada pela crença popular de que a SHEKINÁ SE MATERIALIZA, de forma invisível, sobre o leito da noite de núpcias, sugerindo resquícios dos antigos RITOS DE FERTILIDADE realizados em honra à deusa. Antigas memórias de ADORAÇÃO À DEUSA também sobreviveram no MITO JUDAICO DA DEMÔNIA LILITH, inspiradora de desejos sexuais masculinos através de sonhos eróticos. Segundo ENSINAMENTOS CABALÍSTICOS, LILITH foi a primeira esposa de Adão, antes de Eva, ensinando-lhe as artes do encantamento mágico. ... LILITH não era originalmente uma figura demoníaca, podendo ser identificada com a deusa sumeriana SENHORA DAS BESTAS, representada sob a forma de uma CORUJA. LILITH simboliza o aspecto escuro da grande deusa da ANTIGA RELIGIÃO PAGÃ, em seu aspecto de mulher fatal e sedutora...Inicialmente, a adoração das deidades da fertilidade de Canaã era parte integrante da RELIGIÃO JUDAICA. A deusa Aserá, o seu consorte El e o seu filho BAAL – significando senhor – eram bastante venerados. Efígies da deusa foram erigidas EM TODO O ISRAEL, conforme descrito nos livros do Antigo Testamento, Reis, Crônicas, Juízes, Deuteronômio, Êxodo e Miquéias... COMO SALOMÃO FIGURA NESTA TRADIÇÃO DE ADORAÇÃO DA DEUSA? ... o rei hebreu adquiriu uma reputação infamante de mestre em MAGIA, capaz de invocar os espíritos elementais, e diversos manuais de magia exibiam seu nome no título (por exemplo, A CLAVÍCULA DE SALOMÃO) ou a autoria destes lhe era creditada. De um modo geral ele era visto como um poderoso mago... e, atualmente, alguns cristãos de fé renovada o denunciam como um ADORADOR DO DIABO que afastou os israelitas do verdadeiro Deus... Salomão também é visto por alguns estudiosos como um adorador secreto da deusa. A CONVERSÃO DE SALOMÃO AO PAGANISMO E SEU CULTO A DEUSES ESTRANHOS SÃO ATRIBUÍDOS A SEUS CASAMENTOS COM PRINCESAS ESTRANGEIRAS, que introduziram costumes religiosos na corte. (I Reis 11: 1 a 8)...O Antigo Testamento narra que SALOMÃO “SACRIFICAVA E QUEIMAVA INCENSO NOS LUGARES ALTOS.” (I Reis 3:3), que eram os locais dos santuários dedicados à adoração da grande deusa. OS INDÍCIOS EXISTENTES MOSTRAM QUE, DURANTE 200 DOS 370 ANOS DA HISTÓRIA DO TEMPLO DE JERUSALÉM ORIGINAL, ELE SERVIU, TOTAL OU PARCIALMENTE, PARA A VENERAÇÃO DA DEUSA... O culto da deusa reforçou-se ainda mais com a chegada, em Israel, da princesa JEZABEL, a “GRANDE MERETRIZ” original, filha do rei de SIDON e sacerdotisa da fé pagã10 . A sua imagem promíscua desavergonhada advém, evidentemente, da SEXUALIDADE EXPLÍCITA DOS RITOS REALIZADOS POR JEZABEL PARA A DEUSA...” (A CONSPIRAÇÃO OCULTISTA, Michael Howard, 1994, Editora Campus, págs. 8 a 11)

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A “deusa” é conhecida por muitos nomes em cada um dos países em que ela foi adorada na antiguidade, e até hoje ela mesma, é conhecida por vários nomes apesar de se tratar da mesma entidade espiritual.

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Tanto a “deusa” ÍSIS, do Egito, como sua correspondente, a “deusa” INANA da suméria, são deidades tão sombrias que se identificam com uma ave noturna: A CORUJA.

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Este “lado negro” da “deusa” INANA fez com que também fosse chamada de “A CRIATURA DA NOITE” uma expressão que no idioma hebraico significa LILITH, ficando, por isso conhecida no misticismo hebraico pelo nome de LILITH, a “deusa” da prostituição e fertilidade sexual do judaísmo, que também é uma “deusa-coruja” e que, mais tarde, teve seu nome mudado pelos rabinos para “SHEKINÁH”.

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LILITH é retratada nos seus ídolos e imagens ao lado de duas corujas e com a aparência de uma bela mulher, que se apresentava totalmente nua, mas que também tinha asas e os pés e as asas de uma coruja.

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Em outras palavras, os sumerianos, os egípcios e também os hebreus, adoravam esta mesma “deusa”, que era chamada de “RAINHA DO CÉU”, mas o faziam sob os três diferentes nomes de INANA, ÍSIS e LILITH, a qual, posteriormente, passou a ser chamada pelos rabinos de SHEKINÁH11 .

Como a maçonaria segue a doutrina cabalística e a “deusa” SHEKINÁ é a “divina mãe” do judaísmo cabalístico, de onde se origina toda a CABALA e sua doutrina mística, é evidente que a demônia LILITH também é adorada nas lojas maçônicas sob o nome de SHEKINÁH. Existem muitas lojas dos Estados Unidos que, em homenagem à “Grande Rainha do Céu”, foram fundadas com este nome conforme mostraremos a seguir:

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“Uma CONSPIRAÇÃO se achou entre os homens de Judá, entre os habitantes de Jerusalém... Portanto assim diz o Senhor: Eis que trarei o mal sobre eles, de que não poderão escapar... Porque segundo o número das tuas cidades são os teus deuses, ó Judá! E segundo o número das ruas de Jerusalém LEVANTASTES ALTARES À IMPUDÊNCIA...” (Jeremias 11: 13)

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Porventura não vês tu o que andam fazendo nas cidades de Judá e nas ruas de Jerusalém? Os filhos apanham a lenha, e os pais acendem o fogo, e as mulheres amassam farinha, para fazerem bolos à deusa chamada RAINHA DOS CÉUS e oferecem libações a outros deuses para me provocarem à ira. Acaso é a mim que eles provocam à ira? Diz o senhor, e não a si mesmos, PARA A CONFUSÃO DOS SEUS ROSTOS? PORTANTO ASSIM DIZ O SENHOR: EIS QUE A MINHA IRA E O MEU FUROR SERÃO DERRAMADOS SOBRE ESTE LUGAR, SOBRE OS HOMENS E SOBRE OS ANIMAIS, E SOBRE AS ÁRVORES DO CAMPO, E SOBRE OS FRUTOS DA TERRA; E ACENDER-SE-Á E NÃO SE APAGARÁ.” (JEREMIAS 7: 17 A 20)

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“Agora, pois, assim diz o Senhor dos Exércitos, Deus de Israel: Porque fazeis tão grande mal contra vossas almas, para vos desarraigardes, ao homem e à mulher, à criança e ao que mama, do meio de Judá, a fim de não deixardes remanescente algum; irando-me com as obras de vossas mãos, queimando incenso a deuses estrangeiros na terra do Egito, aonde vós entrastes para lá habitar; para que a vós mesmos vos desarraigueis, E PARA QUE SIRVAIS DE MALDIÇÃO E DE OPRÓBRIO ENTRE TODAS AS NAÇÕES DA TERRA? Esquecestes já as maldades de vossos pais, e as maldades dos reis de Judá, e as maldades das suas mulheres, e as vossas maldades e as maldades das vossas mulheres, que cometeram na terra de Judá, e nas ruas de Jerusalém? Não se humilharam até o dia de hoje, nem temeram, nem andaram na minha lei, nem nos meus estatutos, que pus diante de vós e dos vossos pais. Portanto assim diz o Senhor dos Exércitos, Deus de Israel: Eis que eu ponho o meu rosto contra vós para o mal e para vos desarraigar todo o Judá.”(Jeremias, 44: 7 a 11)

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“Então responderam a Jeremias todos os homens QUE SABIAM QUE AS SUAS MULHERES QUEIMAVAM INCENSO A DEUSES ESTRANHOS, E TODAS AS MULHERES QUE ESTAVAM PRESENTES EM GRANDE MULTIDÃO, como também o povo que havia na terra do Egito, em Patros, dizendo: Quanto à palavra que anunciastes em nome do Senhor, não obedeceremos a ti; mas certamente cumpriremos toda palavra que saiu da nossa boca, QUEIMANDO INCENSO À RAINHA DOS CÉUS, E OFERECENDO-LHE LIBAÇÕES, como nós e nossos pais, nossos reis e nossos príncipes temos feito, nas cidades de Judá, e nas ruas de Jerusalém; e então tínhamos fartura de pão, e andávamos alegres e não víamos mal algum. Mas desde que cessamos de queimar incenso à RAINHA DOS CÉUS, e de oferecer libações, tivemos falta de tudo, e fomos consumidos pela espada e pela fome. E quando nós queimávamos incenso à RAINHA DOS CÉUS, e lhe oferecíamos libações, acaso lhe fizemos bolos, PARA A ADORAR, E OFERECEMOS LIBAÇÕES SEM NOSSOS MARIDOS?” (Jeremias 44: 15 a 19)

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“Então disse Jeremias a todo o povo, aos homens e às mulheres, e a todo o povo que lhe havia dado esta resposta, dizendo:... Assim diz o Senhor dos exércitos, Deus de Israel, dizendo: Vós e vossas mulheres não somente falastes por vossa boca, senão também o cumpristes por vossas mãos dizendo: CERTAMENTE CUMPRIREMOS NOSSOS VOTOS QUE FIZEMOS DE QUEIMAR INCENSO À RAINHA DOS CÉUS E DE OFERECER LIBAÇÕES; confirmai, pois vossos votos e perfeitamente cumpri-os. Portanto ouvi a palavra do Senhor:... serão consumidos todos os homens de Judá, que estão na terra do EGITO, pela espada e pela fome, até que todos se acabem.” (Jeremias 44: 20 e 25 a 27)

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“ASSIM DIZ O SENHOR... VEM O FIM, O FIM VEM SOBRE OS QUATRO CANTOS DA TERRA.” (EZEQUIEL 7: 2)

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“DE TODO SERÁ QUEBRANTADA A TERRA, DE TODO SE ROMPERÁ E SE MOVIMENTARÁ. DE TODO VACILARÁ A TERRA, COMO O ÉBRIO...” (ISAÍAS 24: 19 E 20)

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“... os deuses que não fizeram os céus e a terra desaparecerão da terra e de debaixo deste céu.” (Jeremias 10: 11)

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“... passarei pela TERRA DO EGITO... e sobre todos os DEUSES DO EGITO farei juízos...” (Êxodo 12: 12)

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“... e lançarei fogo às casas dos deuses do EGITO...” (Jeremias 43: 12)

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“... OS CÉUS PASSARÃO COM GRANDE ESTRONDO, E OS ELEMENTOS ABRASADOS SE DESFARÃO, E A TERRA E AS OBRAS QUE NELA HÁ SE QUEIMARÃO...” (II Pedro 3: 10)

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“... A MÃO DO SENHOR SERÁ NOTÓRIA AOS SEUS SERVOS, e ele se indignará contra os seus inimigos. PORQUE EIS QUE O SENHOR VIRÁ EM FOGO; E OS SEUS CARROS, COMO UM TORVELINHO, PARA TORNAR A SUA IRA EM FUROR E A SUA REPREENSÃO, EM CHAMAS DE FOGO. PORQUE, COM FOGO E COM A SUA ESPADA, ENTRARÁ O SENHOR EM JUÍZO COM TODA A CARNE; E OS MORTOS DO SENHOR SERÃO MULTIPLICADOS.” (Isaías 66: 14 a 17)

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"FILHOS DOS HOMENS, ATÉ QUANDO CONVERTEREIS A MINHA GLÓRIA EM INFÂMIA?" (Salmo 4: 2)


Nota

1 Atualmente, em termos de “interpretação”, a opinião clássica de todo o judaísmo ORTODOXO é de que o SIGNIFICADO que se encontra no TALMUDE É O QUE ESTÁ SEMPRE CORRETO, E É SEMPRE APLICÁVEL MESMO quando o seu sentido é contrário ao significado literal dos textos do Antigo Testamento, mesmo quando se trata dos livros de Moisés, que conhecem como a “Toráh”.

2 “... e na sua testa estava escrito um nome: Mistério, a grande BABILÔNIA, a mãe das PROSTITUIÇÕES e abominações da terra.” (Apocalipse 17:5) 3 SHEKHINAH cai profundamente no poder de SATANÁS.

4 Isto é, “o deus” (macho) e SHEKINÃH (a fêmea): “Muitos místicos judaicos contemporâneos acreditam que o mesmo fim pode ser atingido mais rapidamente PELA GUERRA COM OS ÁRABES, PELA EXPULSÃO DOS PALESTINOS, ou mesmo pelo estabelecimento de muitos colônias judaicas na Margem Ocidental. O movimento crescente para a CONSTRUÇÃO DO TERCEIRO TEMPLO também está baseado nessas idéias”

5 Isto é: “Por intenção da RELAÇÃO SEXUAL entre o “Santo Abençoado” e a sua “SHEKINAH”.” 6 “... e chegou o anjo, e disse: Levanta-te, e mede o templo de Deus, e o altar, e os que nele adoram. E deixa O PÁTIO QUE ESTÁ FORA DO TEMPLO, e não o meças; porque foi dado às nações...”(Apocalipse 11: 1 e 2).

7 PEDREIROS: esta palavra no idioma francês significa “MAÇONS”

8 Fálico: ou seja, em forma de pênis.

9 Deidade andrógina: isto é um “deus” HERMAFRODITA, que é macho e fêmea ao mesmo tempo

10 JEZABEL foi a esposa de Acabe, um dos reis de Israel. Apesar disso era sacerdotisa da “deusa” ASTAROTE, conhecida como “a abominação dos sidônios”, que era uma deusa da prostituição, que era adorada através rituais de orgia sexual e das práticas de prostituição cultual.

11 Conforme as palavras do RABINO GOTTLIEB.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Eric Hobsbawn e Richard Horsley: As agitações camponesas do século I e os líderes messiânicos


Este artigo pretende investigar como Jesus se comportou na sociedade de seu tempo, abordar a sua atitude política e social e utilizar-se da corrente historiográfica da Escola dos Annales. Segundo a revolução dos Annales, a interdisciplinaridade passou a ser explorada e outras fontes de estudo passaram a ser consideradas históricas.

Geografia, Arqueologia, Antropologia, Sociologia, Economia, História, entre outras, poderiam juntas alcançar resultados científicos de grande fecundidade para suas respectivas áreas. Quando se desliga Jesus Cristo do seu contexto social, produz-se um mito. Se estudado dentro deste contexto histórico de aguda opressão e profunda crise de valores, cria-se um líder social, um libertador. Jesus, revolucionário social e político, um homem que dedicou sua vida a pregar uma revolução social na Palestina, dirigindo-se aos pobres camponeses e outros oprimidos de seu tempo, subjugados pelo domínio do Império Romano e seus associados locais da elite judaica, chamando os para uma revolução que só teria sucesso se partisse da conscientização da situação de opressão em que viviam.


A figura de Jesus Cristo é uma das mais intrigantes, questionadas e controvertidas de todos os tempos. Sem dúvida alguma, a maior parte dos registros sobre Jesus Cristo está na Bíblia Sagrada, mas há menções feitas por historiadores e estudiosos judeus e não-judeus. Há quem insista que Jesus se restringiu a comunicar uma mensagem religiosa sem cunho político ou ideológico. Se compreendido dentro do contexto político, econômico e social do imperialismo romano de sua época, sua pregação assumiria a expectativa da libertação política e social. Jesus de Nazaré, revolucionário social e político, foi um homem que dedicou sua vida a pregar uma revolução social na Palestina, dirigindo-se aos pobres camponeses e a outros oprimidos de seu tempo (CROSSAN, 1995), subjugados pelo domínio do Império Romano e de seus associados locais da elite judaica, chamando os para uma revolução que só teria sucesso se partisse da conscientização da situação de opressão em que viviam.


Ao longo deste artigo serão abordados temas sobre a cultura, a política, a sociedade e a economia da Palestina do século I no intuito de se poder decifrar Jesus, o homem judeu de Nazaré, o Jesus Histórico que emerge da interação do individuo e contexto.


A PALESTINA NO TEMPO DE JESUS


O termo Palestina, em poucas palavras, significa terra dos filisteus. Há, contudo, segundo Daniel Rops controvérsias sobre a utilização desse termo para designar tal região. Segundo o pensador, o termo designava um povo vencido do qual as terras haviam sido conquistadas. Assim o real nome que os israelitas usavam para indicar a palestina, na linguagem nobre, idioma religioso e histórico, era: País de Canaã. Esse termo servia para designar a terra prometida por Javé e conquistada a expensas de guerras. Portanto, o termo Palestina significa, do ponto de vista religioso, para o povo da época, o País de Canaã, a terra prometida por Javé. Do ponto de vista etimológico, Terra dos filisteus. A Palestina no tempo de Jesus possuía uma extensão de terra mediana, era uma estreita área situada entre a África e a Ásia, funcionando como uma espécie de ponte entre essas regiões. Suas coordenadas geográficas estão nos paralelos de 31 e 33 ao norte e nos meridianos 32 e 34 ao leste.


Com um território menor que o estado do Espírito Santo, possuía uma superfície de cerca de 34.000 Km2 e cerca de 650 mil habitantes. Encontrava-se dividida em áreas menores: Judéia, Samaria e Galiléia, à oeste; Ituréia, ao norte; Gualanítade, Batanéia, Traconítide, Auranítide, Decápole e Peréia, à leste; e Iduméia ao sul. Todo esse território era margeado pelo Mar Mediterrâneo, no extremo oeste. Ao Leste estava o Rio Jordão que desemboca no Mar Morto, ao sul. Entrecortando toda região havia uma cadeia de montanhas e montes com 600 mts de altura, sendo que os mais altos estavam situados na Galiléia e no Hermon. Em 63 a.C., através do general Pompeu, Roma chega ao Oriente Médio. A política expansionista romana teve inicialmente como objetivos básicos a defesa frente a povos vizinhos rivais e a obtenção de mais terras necessárias à agricultura e ao pastoreio, mas logo se revelou uma fonte valiosa de riquezas em metais preciosos e em escravos. Como resultado, em cinco séculos de guerras, a dominação romana se estendeu a grande parte da Europa, da Ásia e da África.


Assim a Palestina passa a fazer parte do Império Romano. Herodes, o Grande (37- 4 a.C.) obtém de Roma o título de Idumeu, rei da Judéia. É no seu reinado, por volta do ano 7 ou 6 a.C., alguns anos antes da morte do Rei Herodes, o Grande (4 a.C.) e durante o governo do imperador romano Augusto, que ocorre nascimento de Jesus de Nazaré. Durante a vida de Jesus, a Palestina foi governada, principalmente, pela Dinastia Herodiana.


Devido a sua posição geográfica estratégica, a Palestina era região de passagem. Por ela circulavam soldados, comerciantes, mensageiros, diplomatas. Essa região possuía importantes centros urbanos, como Cesaréia e Jerusalém, que concentravam indivíduos e atividades econômicas. Como em outras áreas do Império, existiam vias e portos, que facilitavam as comunicações e transporte de mercadorias e pessoas.


A economia da palestina subsistia, basicamente, da agricultura e da atividade pesqueira. Banhada pelo Mediterrâneo, cortada por rios e possuindo lagos, não é difícil constatar a variedade de peixes e seu papel para o abastecimento interno e até exportação. Quanto à pecuária, a região possuía rebanhos de ovelhas, cordeiros e bois. Existia nas pequenas cidades um comércio local (feiras), onde se fazia troca de produto (escambo). A economia monetária, ou seja, a circulação de dinheiro era muito reduzida. Contudo, havia grandes mercados, como o de Jerusalém, com o controle de grandes comerciantes. Eram mercados atacadistas que faziam importações como o mercado do templo. O comércio, tanto interno quanto externo, também era praticado. O comércio interno, pouco conhecido, consistia nas trocas locais e, sobretudo, visava ao abastecimento das grandes cidades. Quanto ao externo, importavam-se produtos de luxo, consumidos pelas elites e pelo Templo. Por outro lado, exportavam-se alimentos – frutas, óleo, vinho, peixes – e manufaturas, como perfumes, além do betume.


A produção baseava-se no trabalho escravo. Os escravos não eram considerados pessoas, mas coisas de que seu dono podia dispor conforme lhe conviesse, comprando os e vendendo-os. Havia escravos por toda parte. Dois terços da população de Corinto era formada por escravos, cerca de 400 mil pessoas. Por não conseguir pagar uma dívida, alguém poderia tornar-se escravo. Ademais, a corte romana obrigava a população a pagar impostos. O sistema de impostos era o canal principal pelo qual o povo era explorado por colonizadores romanos. A situação era aflitiva para a maioria da população, pois, para sustentar seus projetos arquitetônicos, a vida de luxo da corte e os presentes à família imperial, Herodes impôs aos súditos uma carga pesada de impostos que eles só cumpriam com enorme dificuldade. Apesar da presença ameaçadora de suas fortalezas e do aparato de sua cruel polícia secreta, a oposição popular a seu governo fervilhava e quase vinha à tona.


Roma, na época, um império muito extenso e muito preocupado com seus próprios problemas, não estava em condições de ali instalar o aparelho administrativo necessário para um governo direto. O regime era brutal e autocrático. Ao assumir o controle direto da Judéia, mais de dois mil rebeldes foram crucificados. O templo foi saqueado e destruído. Impostos pesados foram criados. A maior parte das fontes históricas (materiais ou literárias) indicam que as relações político-econômicas na Palestina faziam parte do que se chamou de relações redistributivas ou tributárias. Os impostos eram cobrados tanto por romanos quanto por judeus. Os impostos romanos dividiam-se em diretos, cobrados dos produtos da terra (entre 20 a 25%), os de capitalização ou pessoal, que era o denário, e indiretos, que compreendiam os direitos de alfândega, de barreira (na entrada das cidades) e pedágio (pontes, atravessadouros de rios e encruzilhadas).


Esses últimos eram arrendados, por isso muito altos. Os impostos judaicos eram os do templo, destinados à manutenção do santuário e dos sacerdotes; o primeiro dízimo, a décima parte do primeiro produto da terra (ou primícias) e da agropecuária; o segundo dízimo, que deveria ser gasto em festa e beneficência, a ser pago no primeiro, segundo, quarto, quinto anos numa série de sete anos e cobrado do produto da terra e do gado; o terceiro dízimo ou dízimo dos pobres, a ser pago no terceiro e sexto anos, destinado aos órfãos, viúvas e prosélitos; as rendas do quarto ano, que prescrevia que o produtor, ao colher o produto da terra nos três primeiros anos, gastaria o resultado dessa primeira colheita em Jerusalém.


O aparelho de Estado em Jerusalém exercia forte controle sobre a economia de todo o país. A ordem fiscal, a pública, o direito e a justiça constituíam os três setores básicos em que o poder era exercido. Os judeus suportavam muito mal as pesadas imposições romanas. Os romanos garantiam a segurança do transporte do imposto judaico do Templo. A ordem pública era assegurada, internamente, pelos romanos. A sociedade palestina podia ser dividida, naquele período, em quatro grandes grupos: os ricos, grandes proprietários, comerciantes ou elementos provenientes do alto clero; os grupos médios, sacerdotes, pequenos e médios proprietários rurais ou comerciantes; os pobres, trabalhadores em geral, seja no campo ou nas cidades; e os miseráveis, mendigos, escravos ou excluídos sociais, como ladrões.


Contudo, as diferenças sociais na palestina não se pautavam somente na riqueza ou pobreza do indivíduo, mas em diversos outros critérios, como sexo, função religiosa, conhecimento, pureza étnica, entre outros. Em meados do século I, calcula-se entre 50 e 80 milhões os habitantes do Império Romano, dos quais cerca de 90% viviam no campo.


A sociedade era piramidal. A classe alta era composta por funcionários, por detentores do Estado: Sumo Sacerdote, Sinédrio e Estado romano, o rei Herodes, o governador Pôncio Pilatos e a Corte. Esse era o primeiro pólo da classe rica. O segundo estrato da classe rica era constituído pelos proprietários de terra, pelos latifundiários. No próprio Evangelho muitas vezes aparece a referência aos anciãos - famílias tradicionais, donas de terras. Por fim, havia os grandes comerciantes do mercado importador-exportador, do mercado atacadista, sobretudo de Jerusalém. Depois da classe rica, vinham os remediados. Eram os artesãos qualificados dos grandes centros urbanos. Jerusalém deveria ter de 35 a 40 mil habitantes. Nazaré, de 20 a 30 famílias. Toda a Palestina, a sociedade em que Jesus viveu, deveria ter de 600 a 800 mil habitantes.


Por fim, a classe baixa, formada pelo povo. Eram artesãos do interior, diaristas, arrendatários rurais, escravos, criados, e também existia toda a sorte de marginalizados: leprosos (os últimos dos últimos), doentes, mendigos, órfãos, viúvas, estropiados, loucos, possessos. Chamavam de possessas as pessoas que, por causa de sua condição social, ficavam loucas. Isso mostra o nível a que estava reduzido o povo, o grau de deterioração das condições de vida. Jesus certamente pertencia à classe pobre, precisava trabalhar duro para seu sustento. Um carpinteiro, marceneiro em Nazaré, ocuparia algum lugar de nível inferior do grupo médio, um lugar equivalente a um operário da classe média baixa.


JESUS E AS TENSÕES SOCIAIS DO SEU MEIO


A situação social na Galiléia ficou explosiva a partir do governo de Herodes Antipas. As provas extraídas da literatura rabínica e de documentos legais do período indicam que o endividamento rural aumentou de forma significativa em todo o período herodiano, com lavradores desesperados pedindo empréstimos aos funcionários da administração herodiana e à aristocracia sacerdotal (hipotecas sobre as terras). Em muitos casos, essa ação legal transformava aldeãos outrora livres, que cultivavam a terra dos antepassados, em meeiros permanentemente empobrecidos, que ganhavam a vida com dificuldade em vastas propriedades aristocráticas (as quais aumentavam rapidamente) (HORSLEY. 2000).


As agitações camponesas do século I oscilavam entre os líderes messiânicos – que recorriam à violência, mas por trás dela se escondia uma causa divina – e os bandidos – que operaram apenas no âmbito humano. O banditismo social foi um dos fenômenos de maior ocorrência na história, além de ser um dos mais uniformes. Ele apareceu nas sociedades agrárias, onde existia uma enorme quantidade de camponeses e trabalhadores sem terra governados, oprimidos e explorados por representantes de outra classe social: senhores de terra, cidades, governos, juristas ou até mesmo bancos. (HOBSBAWM, 1976).


Em sociedades agrárias, sob certas condições de crise econômica severa, causadas por fatores como fome, altos impostos ou anexação de terras, o banditismo pode atingir proporções epidêmicas. Ele pode surgir também quando se provocam rupturas em uma sociedade tradicional pela imposição de uma nova política ou sistema econômico.


Jesus nasceu nesse contexto de revolta contra Roma. Sua pregação incluiu a resistência ao Império Romano. Por isso, segundo Richard A. Horsley, Jesus só pode ser compreendido dentro do contexto do imperialismo romano de sua época. Em sua vida e em sua missão, influenciou e também se deixou influenciar pela cultura do seu tempo. Ele era judeu e marcado pela vida, costumes e modo de ser dos judeus, ainda que com sua missão vá transcender a história de sua gente, dando à sua doutrina um caráter de universalidade e transcendendo até mesmo aos critérios de tempo e de lugar.


Durante o governo de Antipas cresceu o latifúndio em prejuízo das pequenas propriedades comunitárias que eram a característica do sistema tradicional dos judeus. A produção agrícola da Galiléia começou a orientar-se não mais a partir das necessidades das famílias como antes, mas sim, a partir das exigências do mercado. A arqueologia provou a existência de grandes propriedades que visavam a um maior excedente de produção para poder exportar. Os muitos impostos faziam diminuir a rentabilidade das pequenas propriedades. Quando Jesus Cristo iniciou sua pregação foi visto como mais um dentre os diversos grupos que já possuíam interpretações próprias da lei. Contudo, a mensagem de Cristo mostrou-se revolucionária.


De acordo com o artigo “Democracia e poder”, Jesus imprimiu outra ótica ao poder. Para ele, não se tratava de uma função de mando, e sim de serviço: Os reis das nações as dominam e os que as tiranizam são chamados Benfeitores. Quanto a vós, não deverá ser assim; pelo contrário, o maior dentre vós torne-se como o mais jovem, e o que governa como aquele que serve. [...] Eu, porém, estou no meio de vós como aquele que serve![...] (BÍBLIA, Lc, 22, 24-27)


A REVOLUÇÃO SOCIAL DE JESUS NA PALESTINA DO SÉCULO I


É nesse contexto sócio político e religioso que Jesus tentará implantar sua doutrina, pelos caminhos oferecidos pela liderança carismática e da desobediência civil. Desobediência civil é uma forma particular de desobediência, na medida em que é executada com o fim imediato de mostrar publicamente a injustiça da lei e com o fim de induzir o legislador a mudá-la. Como tal é acompanhada por parte de quem a cumpre de justificativas com a pretensão de que seja considerada, não apenas como lícita, mas como obrigatória e seja tolerada pelas autoridades públicas diferentemente de quaisquer outras transgressões. Enquanto a desobediência comum é um ato que desintegra o ordenamento e deve ser impedida ou eliminada a fim de que o ordenamento seja reintegrado em seu estado original, a desobediência civil é um ato que tem em mira, em última instância, mudar o ordenamento, sendo, no final das contas, mais um ato inovador do que destruidor [...].


A proposta de Jesus de Nazaré é a divisão da riqueza. Jesus não é contra a riqueza como tal. Também não é contra a terra. É contra a concentração da terra nas mãos de poucos. Vale lembrar que a relação da propriedade de terra na Palestina nos tempos de Jesus era a situação do latifúndio, da concentração da propriedade da terra. Então sua proposta é a partilha: [...] a terra, a principal fonte de sobrevivência para a população do Império, inclusive aquela da Palestina, era muito mal distribuída... Na Judéia e no Egito a situação da população rural “livre” era mais desfavorável que a dos escravos nas propriedades de senhores romanos. Em consonância com o discurso político moderno, Jesus de Nazaré estava no processo de efetuar a revolução política que transformaria a ordem imperial romana na Palestina. O seu movimento político estava realizando a revolução social nas comunidades rurais da Galiléia (CROSSAN, 1994).


A revolução proposta por Jesus era um processo de longo prazo, amplo e profundo. Ela deveria ocorrer no interior das consciências, exteriorizando-se como transformação radical de toda a existência. Sua meta era realizar o Reino de Deus na Terra. Jesus formulou uma proposta de sociedade ao criticar o modelo predominante na Palestina do século I, quando a riqueza de uns poucos resultava da pobreza de muitos: Isto é, o reino de Deus não é apenas o tema que abarca a declaração profética de Jesus sobre o julgamento contra os governantes romanos e os seus dependentes em Jerusalém, mas esse aspecto de julgamento do reino tinha uma contraparte construtiva de libertação, novas forças e renovação para o povo. No discurso político moderno, no aspecto de julgamento do Reino de Deus, Jesus proclamava que Deus estava no processo de efetuar a “revolução política” que transtornaria a ordem imperial romana na Palestina. Então, no aspecto construtivo, na confiança de que Deus estava cuidando da ordem política dominante, Jesus e o seu movimento estavam realizando a “revolução social” que Deus estava tornando possível e forte nas comunidades rurais da Galiléia [...].


Este é o antigo sonho camponês de igualitarismo radical. O igualitarismo radical do Reino de Deus de Jesus é mais assustador que qualquer outra idéia. Colocando a visão e o programa de Jesus de volta na matriz de onde saiu, o antigo e universal sonho camponês de um mundo justo e igual pode ser concretizado. Por meio de pregação objetiva e popular, contando parábolas e fazendo denúncias, Jesus tinha como projeto despertar a consciência do povo em relação à opressão. O império romano, percebendo a força de sua atuação político revolucionária, mandou crucificá-lo e iniciou um processo de perseguição aos seus seguidores. Muitos movimentos de resistência tinham, na origem, um caráter meramente social, mas ganharam, depois, a dimensão religiosa messiânica. A crescente revolta judaica contra a ocupação romana foi, com freqüência, atribuída ao sempre vivo espírito nacionalista judaico e à sua imorredoura fé na libertação messiânica, mas historicamente é condicionada e ocasionada pela inabilidade dos procuradores e até mesmo de alguns Imperadores.


A atuação de Jesus aconteceu em uma situação social, econômica, política, cultural e religiosa bem configurada. Ele não realizou a sua missão desconhecendo sua época, o que seria impensável para um judeu tão próximo do povo, assim como Jesus demonstrou durante toda a sua vida pública. Um estudo sobre as condições de vida dos camponeses palestinos da época de Jesus, mostra a violência brutal que sofriam. Fraudes, roubos, trabalhos forçados, endividamento, perda da terra através da manipulação das dívidas atingiam a muitos. Existia uma violência epidêmica na Palestina. Jesus não convidava a uma revolução política, mas pregava uma revolução social perigosa. Jesus de Nazaré pretendia uma libertação plena. Tinha um projeto social amplo para atender a todas as pessoas. Contemplava o indivíduo, considerando-o como sujeito e, ao mesmo tempo, coletividade estabelecidas às regras mínimas de convivência, baseadas na caridade. Caridade que não se restringiu a dar coisas. Caridade como compartilhamento de sentimentos e de espaços físicos ou simbólicos, de um exercício de boa convivência, de respeito a si mesmo e ao próximo visto como igual.


A doutrina social de Jesus é, em sua essência, bastante simples, pois parte de princípios e valores que podem ser considerados universais, que visam ao bem viver, daí assimiláveis pelos mais simples do povo, desde que altas autoridades não manipulem ou façam adaptações de seus ensinamentos como tem acontecido ao longo dos séculos.