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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

LIlith a primeira Eva

Lilith é sem dúvida uma personagem bastante controversa, que traz em si o conflito e o paradoxo que constituiu a visão do feminino na história humana. Afinal como explicar que as mesmas atribuições e valores que antes suscitavam respeito e admiração, em uma outra etapa tornam-se objeto de escárnio, vergonha e desprezo. A figura mítica de Lilith ilustra bem essa passagem, quando a Grande Deusa é vilipendiada do seu trono e metamorfoseada em consorte do demônio e símbolo do mal; em que a noite escura com seus mistérios passa a ser temida e não mais celebrada.

No dia em que Deus criou Adão o fez à semelhança de Deus; e macho e fêmea os criou, os abençoou e os chamou homens no dia que os criou. (Gênesis 2:01)

Parafraseando o livro de Gênesis, no começo era a Grande Deusa e a Grande Deusa era a Terra e a Terra era a Grande Deusa. As origens do culto à Grande Deusa perdem-se nos tempos pré-históricos. Sua presença durou milhares de anos. A Deusa é a figura mítica dominante no mundo agrário da antiga Mesopotâmia, do Egito e dos primitivos sistemas de plantio. Seu poder estava associado primordialmente à agricultura e às sociedades agrárias. Estava relacionada à terra, pois a mulher dá a luz assim como da terra se originam as plantas, a mãe alimenta, como o fazem as plantas. Assim a magia da terra e a magia da mãe são a mesma coisa, pois estão relacionados. Assim a personificação da energia que dá origem às formas e as alimenta é essencialmente feminina.

Com o passar dos tempos, a Deusa-mãe foi sobrepujada e superada pelos arquétipos patriarcais com o Zeus, Javé (Yaweeh), Deus-Pai ou Alá. Este arquétipo patriarcal aperfeiçoou-se principalmente nos mundos judaico, cristão e muçulmano. Alguns aspectos da Deusa-mãe entretanto, ainda permaneceram mas de forma controlada, seu culto subjaz por exemplo, na imagem de Maria, “Mãe de Deus”. São algumas Madonas Negras, de antigos santuários, que ainda nos dão testemunho da Deusa-mãe, essas imagens nos remetem em especial à figura de Ísis. Aliás, a imagem de Maria segurando seu filho e o amamentando (Galactotrofusa) é inspirada na de Ísis amamentando Hórus, essa seria a figura original em que a imagem cristã se inspirou.

Lilith representava um aspecto da Grande Deusa. Este mito tem origens que se situam na antiga Babilônia, onde os antigos semitas haviam adotado as crenças de seus predecessores, os sumérios, e está ligado aos grande mitos da criação, havendo estreita relação entre os cultos dos antigos que honravam a Grande Mãe chamada também “Grande Serpente” e “Dragão”. O nome de Lilith tem raízes semíticas e indo-européias, ligadas às palavras “lil” que significa vento e ar, e também às palavras sumérias “lulti” (lascívia) e a palavra hebraica “lail” (noite). Ela era venerada sob os nomes de Lilitu, Lilu, Ardat Lili e Lamaschtu. A mitologia judaica coloca-a em domínios mais obscuros, como um demônio feminino do mal, a adequada companheira de Satã, que tenta os homens, assassina as criancinhas no berço, e ainda por cima é uma sugadora de sangue. Lilith seria assim o vento ardente que segundo a crença popular, punha as mulheres em febre logo após o parto, matando-as assim como a seus filhos.

Inscrições descobertas nas ruínas da Babilônia (Biblioteca de Assurbanipal) esclarecem a origem de Lilith, cortesã sagrada de Inana, a Grande Deusa mãe, também conhecida como a “Rainha dos Céus”, enviada por esta para seduzir os homens na rua e levá-los ao templo da Deusa, onde se realizavam os ritos sagrados de fecundidade. Os costumes sexuais sagrados eram a dádiva de Inana para a humanidade. Em seus templos se praticava a prostituição sagrada e suas sacerdotisas eram conhecidas como Nu-gig. Os homens da comunidade buscavam a Deusa nessas sacerdotisas e o ato sexual era sagrado, proporcionando a cura física e espiritual. Esses ritos também se davam com o propósito de render boas colheitas, o ato sexual estava relacionado também com a fecundidade da terra. Inana era a deusa do amor, da fertilidade e também da guerra.

Confundiu-se Lilith, denominada “A Mão de Inanna”, com a deusa que ela representava, pois a Deusa também recebia às vezes o título de “Prostituta Sagrada”. Também não é incomum que se confunda Lilith com Ishtar ou até mesmo com Ísis pela ligação destas com a morte. Segundo a tradição o culto à Lilith também possuiria relações com o período mestrual, por isso as mulheres a cultuavam durante a Lua Nova, pois em muitas culturas era comum associar as fases da lua com a mulher, quando a Lua Nova chegava costumava-se dizer que a Deusa estava com as regras. Assim, o período normalmente dedicado a Lilith, naquela época, era exatamente o período menstrual. O momento em que as mulheres poderiam ter relações sexuais livres da possibilidade de gravidez e, por isso, tais relações estariam exclusivamente ligadas ao prazer (e não à procriação, como era a perspectiva patriarcal). Assim, muitas vezes, se referiu a essa Deusa como o “Espírito Menstrual”.

É em virtude disso que posteriormente se criou na sociedade judaica uma série de tabus em relação à menstruação, inclusive proibições sexuais.

As figuras da Grande Deusa se manifestaram em diversas culturas: no Egito temos Nut, a Mãe-Céu que representava toda a esfera celeste; Maya na Índia e Ishtar na Babilônia.

Entre 3000 e 2500 a.c., quando os sumerianos passaram a ter contatos com culturas patriarcais, ocorre a passagem da concepção religiosa matriarcal para a patriarcal, então, os templos dedicados à Deusa são postos abaixo e as práticas sexuais são reprimidas e se tornaram parte da sombra, o poder da mulher foi identificado com o mal e o demoníaco. A Deusa passa a ser o símbolo do mal supremo.

Entretanto é importante destacar que os hebreus não eram à princípio monoteístas, e sim politeístas. Somente após a invasão de Israel pelas forças babilônicas, no século VI a.C., é que começa a surgir o Judaísmo, como nós mais ou menos o conhecemos hoje: fortemente monoteísta e patriarcal.

A Deusa passou a ser denominada como a “Grande Abominação”, entretanto o livro de Reis demonstra que seu culto e negação passou por uma sucessão de idas e vindas, pois diversos reis são condenados no Antigo Testamento por terem cometido o pecado da idolatria no topo das montanhas, e essas eram símbolo da Grande Deusa. A Deusa de Israel chamava-se Asherah.

A passagem de uma religião matriarcal para patriarcal possui ligação com o desenvolvimento da pecuária e do nomadismo das tribos semíticas. Assim de uma estrutura ligada à agricultura passasse a uma visão de mundo ligada a caça e a criação de animais, que representa um domínio estritamente masculino.

Os semitas eram pastores de cabras e ovelhas, os indo-europeus eram pastores de gado. Uns e outros eram primitivamente caçadores, de modo que as suas culturas eram orientadas para os animais e não para a terra fecunda. Onde há caçadores há assassinos, e onde há pastores há também assassinos, porque estão sempre em movimento, são nômades entrando em conflito com outros povos e conquistando as áreas para onde se movem. E essas invasões traziam deuses guerreiros, lançadores de raios como Zeus, Thor ou Javé. Temos então uma substituição simbólica do falo e da fertilidade pela espada e pela morte.

Assim, aos poucos as mitologias de orientação masculina tornam-se dominantes e a Deusa Mãe é abandonada, destruída ou subjugada.

Nessas sociedades a mulher vai perdendo pouco a pouco o seu espaço social, ficando relegada a uma posição submissa em relação ao homem.

A figura de Lilith foi incorporada ao folclore hebraico provavelmente durante o cativeiro na Babilônia.

Segundo essa tradição lendária, Lilith é apresentada como a primeira mulher criada, antes de Eva. É interessante destacar que a criação da mulher é relatada duas vezes no texto atual da Bíblia, do qual foi limada a figura de Lilith.

A exclusão de Lilith do texto bíblico posteriormente, ocorreu de maneira gradual, e bem anteriormente à tradução da versão Vulgata.

Roberto Sicuteri autor do livro “Lilith A Lua Negra”, confirma a versão de que é na época da transposição da Versão Jeovística da Bíblia (século X a. C.) para a versão Sacerdotal (587-538 a.C.) que a lenda de Lilith teria sido eliminada, entretanto, ainda restam pequenos resquícios desta tradição em fragmentos deste texto, à exemplo do Livro de Isaías. À partir desse período a lenda de Lilith passa a se vista pelos eruditos hebraicos como uma superstição sem sentido e portanto tal exclusão seria assim justificada, até por tratar-se de uma influência babilônica.

Entretanto, a lenda ainda aparece em comentários talmúdicos*, na ** Midrash e na ***Cabala .
A exclusão total do mito do texto Bíblico se dá a partir do período da tradução da Septuaginta (300 A.C.).

Conta que um grego de Alexandria de nome Símaco (185 a 200 d.C.) realizou uma tradução do texto para o grego valendo-se tanto do texto original em hebraico-clássico quanto da Septuaginta (versão dos setenta, datada de 300 A. C.). Ele preocupou-se com o sentido da tradução, e não com a exatidão textual.

Esse autor exerceu grande influência sobre a Bíblia latina, pois São Jerônimo fez grande uso desse texto para compor a Vulgata.

De acordo com a lenda hebraica, Lilith teria sido formada assim como o homem à partir do barro, logo após a formação deste. Por esse motivo ela não teria aceitado uma posição inferior em relação ao homem, pois sendo criada da mesma forma, exigia os mesmos direitos, não aceitou uma posição submissa e assim desentendeu-se com Adão. No primeiro ato sexual Lilith não aceitou ficar por baixo, agüentando o peso do corpo do companheiro e exigiu ter também o direito ao gozo e ao prazer sexual. Como não foi atendida em seus anseios ela se revolta e pronuncia o nome “inefável” que lhe deu asas por meio das quais fugiu do Jardim do Éden. Assim Lilith abandonou Adão com quem não se entendia e foi para as margens do Mar Vermelho. Adão ficou só e reclamando, tendo medo da escuridão opressora. Daí haver uma relação entre Lilith e a Lua Negra, a escuridão da noite, por isso a associação dela com a coruja, o pássaro noturno. Segundo a tradição talmúdica, Lilith é a “Rainha do Mal”, a “Mãe dos Demônios” e a “Lua Negra”.

Deus vendo o desespero de Adão, enviou três anjos, Semangelaf, Sanvi e Sansanvi, para trazê-la de volta ao Éden, mas ela recusou-se a aceitar tal proposta. Dessa forma a fuga converteu-se em expulsão.

Para substituir Lilith é criada Eva, mulher submissa, feita não de barro, mas de uma costela de Adão.

Lá às margens do Mar Vermelho habitavam os demônios e espíritos malignos, segundo a tradição hebraica, esse era um lugar maldito, o que prova que Lilith se afirmou como um demônio. Segundo essa mesma tradição é esse caráter demoníaco que levaria a mulher a contrariar o homem e a questionar seu poder.

É interessante destacar que mesmo Eva, criada para a submissão, também de certa maneira revoltou-se e quebrou as regras ao comer do fruto proibido e oferecê-lo a Adão. Assim estava subjacente ao mito da criação um papel desabonador para a mulher.

Desde então, Lilith tornou-se a noiva de Samael, o senhor das forças do mal do SITRA ACHRA (aramaico, significa “outro lado”). Acasalando-se com os demônios, Lilith traz ao mundo cem demônios por dia, os Lilim, que são citados inclusive na versão sacerdotal da Bíblia.Como castigo pela desobediência de Lilith os anjos de Deus, a cada dia sacrificavam cem dos bebês-demônio de Lilith. Ela então revoltada pela morte dos filhos e enciumada pelo fato de Adão ter tomado outra mulher resolve declarar guerra à Deus e aos homens. Ela então retorna ao mundo dos homens para dar cabo de sua vingança. Os primeiros textos talmúdicos que surge à respeito de Lilith, aliás, trazem esconjuros receitas e talismãs para proteger crianças e parturientes do seu poder demoníaco. Para se proteger de Lilith era necessário um amuleto que tivesse o nome dos três anjos que a haviam perseguido. As principais vítimas dela, segundo a tradição eram as parturientes, as crianças, os homens, os inválidos e os recém casados.

Em vingança pela morte de suas crianças Lilith procurava levar para si, principalmente mulheres em parto e os bebês recém nascidos. São inúmeras as descrições em textos talmúdicos que falam do pavor de suas investidas. Conta-se, por exemplo, que Lilith surpreendia os homens durante o sono e os envolvia com toda sua fúria sexual, aprisionando-os em sua lascívia demoníaca, causando-lhes orgasmos demolidores. Ela montava-lhes sobre o peito e, sufocando-os (pois se vingava por ter sido obrigada a ficar “por baixo” na relação com Adão), conduzia a penetração abrasante. Aqueles que resistiam e não morriam ficavam exangues e acabavam adoecendo. Por isso Lilith também está identificada com o tradicional vampiro. Seu destino era seduzir os homens, estrangular crianças e espalhar a morte. Aliás aqui ela se identifica particularmente com um tipo de demônio vampiro feminino chamado succubus, cujo ataque consiste em manter relações sexuais com suas vítimas (homens) e deixá-las exaustas, se alimentam assim, em vez de sangue, com a energia dispersada durante o ato sexual (a versão masculina da succubus é o incubus). Ela também era responsabilizada por abortos e esterilidade, isso é muito curioso principalmente se considerarmos que se tratava à princípio de uma divindade ligada aos ritos de fertilidade.

Outra referência a ela é feita no Livro do Profeta Esaías 34:14, poema apocalíptico sobre o fim de Edon que se transformou graças à colera de Javé em pez ardente, antes de se converter em um deserto por onde mais ninguém passará, a não ser o pelicano, o ouriço, a coruja e o corvo, que desse caos fariam sua morada, e “lá também descansará Lilith, achará um pouso para si em companhia de gatos selvagens, das hienas, dos sátiros, da víbora e dos abutres”.

O mito de Lilith é uma excelente metáfora para a situação de submissão que as mulheres passam a ter na sociedade patriarcal, e da forma como a sexualidade feminina passa a ser vista como perigosa e transgressora, tratada como tentadora, síntese do mal e raiz do pecado. Eva a segunda mulher criada (não da mesma forma que Adão como Lilith) foi feita para servir, condenada eternamente à inferioridade. O filosófo cristão Santo Agostinho afirmava que a mulher não era a imagem de Deus, apenas o homem o era. A mulher seria no máximo, a imagem de uma costela. O cristianismo católico herdou a visão hebraica ortodoxa e associou definitivamente a imagem da mulher ao pecado. Com a negação do corpo em detrimento do espírito qualificou o sexo como algo terrível e pecaminoso, que afasta o homem de Deus. A Igreja Católica e seus prelados eram terrivelmente misógenos, chegando até mesmo a afirmar que as mulheres não tinham alma, que eram apenas carne, e estavam por isso longe da graça de Deus. Essa visão negativa da mulher se fez sentir na intolerância Católica através da Inquisição, que levou à tortura e à morte milhares de mulheres sob a alegação de bruxaria e outras heresias.

Entretanto, é importante destacar apesar do Catolicismo e mesmo o Protestantismo, assumissem uma posição misógina isto não foi ensinado e nem praticado por Jesus. Ele na realidade valorizou bem a mulher. Também nos primeiros séculos do Cristianismo a participação feminina era bem intensa. Entre os principais livros do Gnosticismo dos primeiros séculos, conforme consta nos achados arqueológicos da Biblioteca de Nag Hammadi, consta o Evangelho de Maria Madalena mostrando que os evangelistas não foram apenas pessoas do sexo masculino. Vale ressaltar que esses entre muitos outros evangelhos foram considerados apócrifos durante o I Concílio de Nicéia em 325 d.C. Há uma lenda de que a escolha deu-se por um estranho e ridículo sorteio em que os livros foram colocados em uma mesa (eram muitos), os que caíssem da tal mesa seriam considerados ilegítimos. Na verdade foram excluídos os livros que não se encaixavam no modelo de cristianismo proposto pelo concílio, e que classificava os posicionamentos divergentes como heréticos.

A palavra apócrifo deriva do grego apocryphos. A princípio, significava algo oculto, secreto ou escondido, mas com o passar do tempo, passou a ter sentido de heresia ou de autenticidade duvidosa.

Na realidade Jesus apareceu primeiro às mulheres, e segundo o que está escrito nos documentos sobre o Cristianismo dos primeiros séculos, via de regra, por cerca de 11 anos depois da crucificação Jesus continuou a ensinar e geralmente fazia isto através da inspiração, e isto acontecia bem mais freqüentemente através das mulheres. Sabe-se que o papel de subalternidade do lado feminino dentro do Cristianismo foi oficializado à partir do I Concilio de Nicéia no ano 325. Aquele concílio, entre outras intenções visou o banimento da mulher dos atos litúrgicos da igreja. Ela só podia participar numa condição de subserviência. O catolicismo nasceu da ala ortodoxa do Cristianismo primitivo que continha em seu bojo a influência grega e judaica no que diz respeito à marginalização da mulher no exercício das atividades sacerdotais.

Lilith na literatura ocidental é apresentada principalmente pela sua natureza revoltada, que, na afirmação de seu direito à liberdade e ao prazer, à igualdade em relação ao homem, perde a si própria, assim como aqueles com quem se encontra.

Mulher sensual e fatal ela aspira também à supremacia e ao poder. Existem várias personagens literárias que se identificam com o arquétipo de Lilith: Carmem (de Mérimée), Lulu (de Wekind), Salomé (de Wilde), entre tantas outras.

Esse arquétipo aliás, revela principalmente o aspecto “devoradora de filhos” de Lilith, aqui identificada com o arquétipo da “mãe destruidora”, a “mãe terrível” que engole o mundo humano inteiro em sua boca de inconsciência e morte. Lilith seria a contrapartida de Eva, a mãe dócil e submissa.

Os românticos como Victor Hugo e Byron apresentam-na como uma mulher bela e sensual, de longos cabelos que arrasta os outros em um turbilhão de infortúnios, desastre e morte. É uma sereia tentadora, a eterna mulher fatal de charme irresistível e infernal, que, por seu mistério, provoca nos homens o sentimento de aventura, e os conduz assim a sua perda. Certas associações entre Lilith e a Rainha de Sabá lembram de sua aparência falsamente luminosa. Cumulando com seus dons o homem que se deixa levar por seus atrativos, ela o orienta para uma procura que o isola dos outros e o arrasta a um caminho que segue um rumo contrário à vida.

Fritz Wittels, psicanalista austríaco, criou em 1932 um complexo ou neurose de Lilith que está relacionado à isso. O mito de Lilith tem por função afastar dela os homens, alertando-os do perigo que representa para eles. Sua função principal contudo, é alertar as mulheres: aquela que não segue a lei de Adão será rejeitada, eternamente insatisfeita e fonte de infelicidade. Ela assim aspiraria ao destino de Eva, e à condição mortal para conhecer a vida e o prazer.

As leituras modernas do mito de Lilith entretanto destacam o seu aspecto revolucionário e mesmo feminista. Ela representa a revolta contra um sistema hierárquico injusto, que quer impor um domínio inqüestionável e repressor do masculino sobre o feminino. Lilith é a representação da mulher indômita, selvagem, livre, vibrante de energia, pronta para viver a sua sexualidade de forma plena e prazerosa, sem medos nem vergonha, é a celebração do princípio feminino.