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sexta-feira, 22 de julho de 2011

Primeiro Retrato de Jesus Achado em Uma Caverna

A imagem é estranhamente familiar: um homem barbado jovem com cabelos encaracolados. Após ficar por quase 2000 anos escondidos em uma caverna na Terra Santa, os pequenos detalhes são difíceis de determinar. Mas dependendo da luz, não é difícil de interpretar as marcas ao redor da testa da figura como uma coroa de espinhos.

A figura extraordinária de um tesouro recém-descoberto de até 70 livretos de chumbo - brochuras - encontrado em uma caverna nas colinas sobranceiras ao mar da Galiléia é um dos motivos pelos quais historiadores bíblicos estão clamando para poderem avaliar os antigos artefatos.

Se verdadeiro, este poderia ser o mais antigo retrato de Jesus Cristo, possivelmente até mesmo feito durante a vida de quem o conhecia.

A pequena brochura, um pouco menor que um cartão de crédito moderno, é selada em todos os lados e tem uma representação tridimensional de uma cabeça humana, tanto na frente quanto nas costas. Uma parece ter uma barba e a outra não. Até mesmo a impressão digital do fabricante pode ser vista na impressão de chumbo. Abaixo das figuras há uma linha de texto em hebraico antigo, ainda não decifrada.

Surpreendentemente, um dos folhetos parece ostentar a menção "Salvador de Israel" - uma das poucas frases até agora traduzidas.

O dono do achado é o caminhoneiro beduíno Hassan Saida, que vive na aldeia árabe de Umm Al-Ghanim, Shibli. Ele se recusou a vender os artefatos, mas duas amostras foram enviadas para a Inglaterra e Suíça para exames.

Uma investigação do Mail on Sunday revelou que os artefatos foram originalmente encontrados em uma caverna na aldeia de Saham na Jordânia, perto de onde Israel, a Jordânia e os Morros Sirios de Golã convergem - e a aproximadamente 5 quilometros do balneário israelense e fontes termais de Hamat Gader, um santuario religioso por milhares de anos.

De acordo com fontes em Saham, eles foram descobertos cinco anos atrás, depois de uma enchente lavar a região e afastar o solo empoeirado da montanha para revelar o que parecia uma pedra de grandes dimensões. Quando a pedra foi movida, uma gruta foi descoberta com um grande número de pequenos nichos nas paredes do conjunto. Cada um desses nichos continha um livreto. Havia também outros objetos, incluindo algumas placas de metal e chumbo enrolados.

A zona é conhecida como antigo refúgio dos judeus fugindo das sangrentas revoltas contra o Império Romano no primeiro e início do segundo séculos dC.

A gruta esta a menos de 100 quilômetros de Qumran, onde os Manuscritos do Mar Morto foram descobertos, e cerca de 60 quilômetros de Masada, cena da última parada e suicídio em massa de uma seita Zealote extremista frente ao cerco do exército romano em 72AD - dois anos após a destruição do Segundo Templo em Jerusalém.

É também perto de cavernas que foram usadas como refúgios de refugiados da revolta de Bar Kokhba, a terceira e última revolta judaica contra o Império Romano em 132AD.

A época é de crucial importância para os estudiosos da Bíblia, pois abrange as perturbações políticas, sociais e religiosos que levaram à separação entre judaísmo e cristianismo.

Ela terminou com o triunfo do cristianismo sobre os seus rivais como a nova religião dominante primeiro para os judeus dissidentes e depois para os gentios.

Neste contexto, é importante que, enquanto os Manuscritos do Mar Morto são pedaços de pergaminho ou papiro enrolados contendo as primeiras versões conhecidas dos livros da Bíblia hebraica e outros textos - o formato tradicional judaico para trabalho escrito - estas descobertas em chumbo estão em formato de livro, ou códice, que há muito tem sido associado com a ascensão do cristianismo.

Os códices visto pelo Mail on Sunday variam em tamanho. De itens menores que 7,5cm x 6cm até cerca de 25cm x 20cm. Cada um deles contêm uma média de oito ou nove páginas e parecem ser de molde, ao invés de inscritos, com imagens de ambos os lados e presos com aneis de chumbo. Muitos deles estavam severamente corroídos quando foram descobertos, embora tenha sido possível abri-los com cuidado.

O códice mostrando o que pode ser o rosto de Cristo parece não ter sido aberto ainda. Alguns códices mostram sinais de terem sido enterrados - embora isso possa ser simplesmente resultado de terem ficado em uma caverna por centenas de anos.

Ao contrário dos Manuscritos do Mar Morto, os códices de chumbo parecem consistir de imagens estilizadas, em vez de texto, com uma quantidade relativamente pequena de escrita, que parece estar em um idioma fenício, embora o dialeto exato ainda não tenha sido identificado. Na época em estes códices foram criados, a Terra Santa era povoada por diferentes seitas, incluindo essênios, samaritanos, fariseus, saduceus, dositeanos e nazarenos.

Não havia escrita comum e mistura considerável de linguagem e sistemas de escrita entre os grupos. O que significa que poderá levar anos de de estudos detalhados para interpretar corretamente os códices.

Muitos dos livros são selados em todos os lados com anéis de metal, sugerindo que eles não se destinavam a serem abertos. Isto poderia ser porque eles continham palavras sagradas que nunca deveriam ser lidas. Por exemplo, os primeiros judeus ferozmente protegiam o nome sagrado de Deus, que só era proferido pelo sumo sacerdote no templo em Jerusalém no Yom Kippur.

A pronúncia original se perdeu, mas tem sido transcritas em letras romanas como YHWH - conhecido como o Tetragrama - e é geralmente traduzida como Javé ou Jeová. Um livro selado contendo informações sagrado foi mencionado no livro bíblico de Revelações.

Uma placa foi interpretada como um mapa esquemático da Jerusalém Cristã apresentando cruzes romanas fora dos muros da cidade. Na parte superior pode ser visto de uma forma de escada. Isto é tido como sendo uma balaustrada mencionada em uma descrição bíblica do Templo em Jerusalém. Abaixo dele estão três grupos de alvenaria, para representar os muros da cidade.

Uma palmeira em frutificação sugere a casa de Davi, e há três ou quatro formas que parecem ser linhas horizontais intersectadas por linhas verticais curtas por baixo. Essas são as cruzes em forma de T que se acredita tenham sido usadas em tempos bíblicos (a forma de crucifixo familiar hoje é dita datar do século 4). A estrela de formas em uma longa linha representam a casa de Jessé - e então o padrão se repete.

Esta interpretação dos livros como artefatos proto-cristãos é apoiada por Margaret Barker, ex-presidente da Sociedade de Estudos do Antigo Testamento e uma das maiores especialistas da Grã-Bretanha no início do Cristianismo. O fato de uma figura ser retratada parece descartar o fato destes livretos estarem ligados ao judaísmo da época, onde o retrato de figuras reais era estritamente proibido, porque era considerada idolatria.

Se genuinos, parece claro que estes livretos foram, na verdade, criados por uma seita messiânica judaica primitiva, talvez intimamente ligada à igreja cristã primitiva e que estas imagens representem o próprio Cristo. Contudo uma outra teoria, defendida por Robert Feather - uma autoridade nos Manuscritos do Mar Morto e autor de O Mistério do Pergaminho de Cobre de Qumran - é que estes livros estão ligados a Revolta Bar Kochba Revolta dos anos 132-136 AD, a terceira maior rebelião dos judeus da Provincia de Judéia e a última das Guerras judaico-romanas.

A revolta estabeleceu um estado independente de Israel em partes da Judéia durante dois anos, antes do exército romano, finalmente, esmaga-la, com o resultado que todos os judeus, incluindo os primeiros cristãos, foram impedidos entrar em Jerusalém.

Os seguidores de Simon Bar Kochba, o comandante da revolta, o aclamaram como Messias, uma figura heróica que poderia restaurar Israel. Embora os judeus cristãos saudassem Jesus como o Messias e não apoiassem Bar Kochba, eles foram também impedidos de entrar em Jerusalém, juntamente com o restante dos judeus. A guerra e suas conseqüências ajudaram a diferenciar o cristianismo como uma religião distinta do judaísmo.

O líder espiritual da revolta foi o Rabino Shimon Bar Yochai, que lançou as bases para uma forma mística de judaísmo hoje conhecida como a Cabala, que é seguido por Madonna, Britney Spears e outros. Yochai se escondeu em uma caverna por 13 anos e escreveu um comentário secreto sobre a Bíblia, o Zohar, que evoluiu para os ensinamentos da Cabala. Feather está convencido de que parte dos texto nos livretos levam o nome do Rabino Bar Yochai.

Feaher diz que todos os códices conhecidos antes de cerca de 400 AD eram feitos de pergaminho e que o uso de chumbo impresso é desconhecido. Eles estavam claramente destinadas a existir para sempre e para nunca serem abertos. O uso do metal como material de escrita naquela época está bem documentado- no entanto, o texto sempre foi inscrito, não impresso.

Os livros estão atualmente na posse de Hassan Saida, em Umm al-Ghanim, Shibli, que fica no sopé do Monte Tabor, 18 milhas ao oeste do Mar da Galiléia.

Saida possui e opera uma empresa de transportes que consiste de pelo menos nove grandes caminhões de carroceria aberta. Ele é considerado na sua aldeia como um homem rico. Seu avô chegou lá a mais de 50 anos e sua mãe e quatro irmãos ainda moram lá.

Saida, que tem por volta de 30 anos, casado e com cinco ou seis filhos, afirma que herdou os livretos de seu avô.

No entanto, The Mail on Sunday tem conhecimento de reclamações que primeiro vieram à luz cinco anos atrás, quando seu parceiro de negócios beduíno encontrou um morador na Jordânia, que disse que tinha alguns artefactos antigos para vender.

O parceiro de negócios foi, aparentemente, apresentado a dois livros de metal muito pequenos. Ele os teria trazido pela fronteira com Israel e Saida ficara encantado por eles, chegando a acreditar que tinham propriedades mágicas e que era seu destino coletar tantos quanto pudesse.

A zona árida e montanhosa onde eles foram encontrados é tanto militarmente sensível quanto agronomicamente pobres. A população local tem por gerações complementado o seu rendimento pelo entesouramento e venda de artefactos arqueológicos encontrados em cavernas.

Mais cartilhas foram clandestinamente contrabandeadas através da fronteira por motoristas que trabalham para Saida - os menores normalmente usadas abertamente como amuletos pendurados em correntes no pescoço dos motoristas, os maiores ocultos por trás de painéis de carros e caminhões.

Para financiar a compra dos livretos dos jordanianos, que inicialmente os tinham descoberto, Saida alegadamente fez uma parceria com uma série de outras pessoas - incluindo o seu advogado de Haifa, Israel.

Os motivos de Saida são complexos. Ele constantemente estuda os folhetos, mas não toma cuidados especiais com eles, abrindo alguns e os revestindo no azeite de oliva, a fim de os "preservar".

Os artefatos foram vistos por colecionadores de antiguidades multi-milionário em Israel e na Europa - e Saida teve ofertas de dezenas de milhões de libras por apenas alguns deles, mas se recusou a vender.

Quando ele obteve os livretos, não tinha idéia do que fossem, ou mesmo se eles eram genuínos.

Entrou em contato com a Sotheby's em Londres, em 2007, em uma tentativa de contratar uma peritagem, mas a famosa casa de leilões se negou a lidar com eles, porque sua origem não era conhecido.

Logo depois, o autor e jornalista britânico Nick Fielding foi abordado por uma mulher palestina que estava preocupada que os livretos fossem vendidos no mercado negro. Fielding foi convidado a abordar o British Museum, o Museu Fitzwilliam, em Cambridge e outros lugares.

Fielding viajou para Israel e obteve uma carta da Autoridade de Antiguidades de Israel (IAA) dizendo que não tinha nenhuma objeção a que os objetos fossem levados ao exterior para análise. Parece que o IAA acreditava que os livretos eram falsos, baseando-se em que nada como aquilo havia sido descoberto antes.

Nenhum dos museus queria envolver-se, novamente por causa de preocupações com a proveniência. Fielding foi então convidado a abordar especialistas para descobrir o que eram e se eram verdadeiros. David Feather, que é também um metalúrgico bem como um especialista em Manuscritos do Mar Morto, recomendou a apresentação das amostras para análise de metais na Universidade de Oxford.

O trabalho foi realizado pelo Dr. Peter Northover, chefe da ciência de materiais-base do Grupo de Arqueologia e um perito mundial na análise de materiais metálicos antigos.

As amostras foram então enviados para o Laboratório Nacional de Materiais de Dubendorf, na Suíça. Os resultados mostraram que eles eram consistentes com a antiga produção de chumbo do período romano e que o metal era fundido a partir de minérios que se originaram no Mediterrâneo. Dr Northover disse também que a corrosão nos livros era improvável de ser moderna.

Enquanto isso, a política em torno da origem dos livros está se intensificando. A maioria dos estudiosos profissionais são cautelosos na pendência de mais investigações e apontam para o julgamento de falsificação em curso em Israel sobre o ossuário de pedra calcária antiga que supostamente teria abrigado os ossos de Tiago, irmão de Jesus.

A Autoridade arqueológica Israelense tentou acalmar problemas de proveniência, lançando dúvidas sobre a autenticidade dos códices, mas Jordan diz que vai 'exercer todos os esforços em todos os níveis' para que as relíquias sejam repatriadas.

O debate sobre se esses livretos são verdadeiras e, nesse caso, se representam os primeiros artefatos conhecidos da igreja cristã primitiva e os primeiros indícios da Cabala mística, sem dúvida ira seguir e crescer pelos próximos anos.

O diretor do Departamento de Antiguidades da Jordânia, Ziad al-Saad, tem poucas dúvidas. Ele acredita que eles podem de fato ter sido feitos pelos seguidores de Jesus, poucas décadas imediatamente após a sua crucificação.

"Eles realmente se igualam, e talvez sejam ainda mais significativos do que os Manuscritos do Mar Morto", diz ele. "A informação inicial é muito encorajadora, e parece que estamos olhando para uma descoberta muito importante e significativa. - Talvez a descoberta mais importante na história da arqueologia

"Se ele estiver certo, então nós realmente podemos estar olhando para o rosto de Jesus Cristo.

domingo, 4 de outubro de 2009

O Massacre de Massada

Massada: a Última Fortaleza

O ano 72 d.C. estava próximo de seu fim quando um sentinela judeu, que montava guarda num posto avançado nas montanhas, avistou uma nuvem de poeira aproximando-se no horizonte. Ele sabia que aquilo só podia significar uma coisa: os romanos estavam chegando. Foi dado o alarme. A última fortaleza da resistência judaica despertou. A guerra havia chegado a Massada.

A fortaleza

Massada, que, provavelmente, significa "lugar seguro" ou "fortaleza", é um imponente planalto escarpado, situado no litoral sudoeste do Mar Morto. O local é uma fortaleza natural, com penhascos íngremes e terreno acidentado. Na parte leste, a face do penhasco se eleva 400 metros acima da planície circundante. O acesso só é possível através de uma difícil trilha que serpenteia pela montanha.

As vertentes norte e sul são igualmente escarpadas, mas o lado oeste é um pouco mais fácil de atingir. Ali, embora a montanha ainda se eleve a mais de 100 metros de altitude, o terreno sobe com uma inclinação de vinte graus até cerca de 13 metros do topo. O platô de Massada tem a forma aproximada de um losango, com cerca de 600 metros de comprimento e 300 metros na parte mais larga.

Flávio Josefo, o famoso historiador judeu do primeiro século, é a principal fonte de informação sobre a história de Massada. Embora alguns de seus relatos e números sejam muitas vezes questionados, grande parte do que ele descreveu foi confirmado pela arqueologia.

Massada tornou-se uma fortaleza judaica durante o período dos hasmoneus (cerca de 150-76 a.C.). Mais tarde, o rei Herodes fez ampliações e reforçou suas defesas (37-31 a.C.). Como era de se esperar, as reformas de Herodes foram impressionantes. Uma dupla muralha de pedra, com 140 metros de extensão e quase seis metros de altura em alguns pontos, estendia-se por todo o perímetro do platô. No espaço de 4 metros de largura que separava as duas muralhas, foram construídos vários quartos, que eram usados para guardar armas e alojar as tropas. A muralha tinha quatro portões e mais de trinta torres.

Herodes também construiu dois palácios com todo conforto e luxo da época: pisos de mosaicos, afrescos, colunatas e até uma piscina. Para garantir a auto-suficiência de seu refúgio no deserto, Herodes mandou plantar hortaliças e grãos na montanha, além de construir enormes cisternas escavadas na pedra para coletar água da chuva, com capacidade para mais de 40 milhões de litros. Suas despensas guardavam jarros de azeite, vinho, farinha e frutas. Herodes também tinha um estoque de armas suficiente para um exército de dez mil homens.

Após a morte de Herodes, a fortaleza de Massada foi ocupada por uma guarnição romana que ficou aquartelada ali por quase cem anos.

Os sicários

Durante o censo de Quirino (6 d.C., cf. Lc 2.2), surgiu entre os judeus daquela região uma quarta filosofia ou seita (além dos fariseus, saduceus e essênios). Josefo apontou essa seita como responsável pela destruição do Templo de Jerusalém, em 70 d.C. Esse partido defendia a rebelião contra Roma e não reconhecia nenhuma autoridade, senão a divina. Seus seguidores eram conhecidos como sicários, do latim sica, que significa "adaga curva". Alguns estudiosos identificam os sicários com os zelotes.

Josefo não tinha muitas palavras boas a dizer sobre os sicários. Ele os definiu como bandidos, que não assassinavam só os romanos, mas matavam e saqueavam seus próprios compatriotas, cometendo crimes bárbaros e fomentando a revolta, sob uma capa de patriotismo e ideais libertários.

No ano de 66 d.C., um grupo desses rebeldes entrou furtivamente na fortaleza de Massada e dizimou a guarnição romana aquartelada ali. Pouco depois, o líder dos sicários, Manaém, chegou a Massada com seus homens, saqueou o arsenal e seguiu em direção a Jerusalém, como líder autoproclamado da revolta contra Roma. Chegando em Jerusalém, Manaém agiu com extrema crueldade, assassinando todos os que não se submetiam à sua autoridade. Sua opressão tornou-se tão insuportável que provocou um levante num grupo de judeus de Jerusalém que consideravam sua tirania pior que a de Roma. Nessa revolta, Manaém foi preso e executado. Muitos de seus seguidores, inclusive um parente seu chamado Eleazar ben Jair, fugiram para Massada, onde Eleazar tornou-se líder dos sicários.

Durante os seis anos seguintes, os sicários de Massada demonstraram fervorosa devoção religiosa. Entretanto, em total incoerência com essa aparente piedade, Eleazar e seus homens costumavam atacar as povoações vizinhas, até mesmo as de judeus, para roubar provisões. A vila de En-Gedi, situada a cerca de 25 quilômetros ao norte de Massada, foi alvo de seu ataque mais cruel. Os sicários investiram contra a aldeia durante a Festa dos Pães Asmos, roubaram todos os mantimentos, expulsaram os habitantes judeus e, segundo Josefo, mataram setecentas pessoas.

Quando Jerusalém foi finalmente destruída pelos romanos, no ano 70 de nossa era, um pequeno punhado de sobreviventes dirigiu-se para Massada. Na época em que os romanos atacaram a fortaleza na montanha, no final de 72 d.C., a população judaica que ali vivia já somava 967 pessoas.

O cerco

Após a tomada de Jerusalém, os romanos começaram a operação de limpeza das áreas conquistadas. Dois baluartes judaicos remanescentes – Herodion e Maqueronte – foram rapidamente esmagados. Massada foi deixada para o novo procurador, Flávio Silva.

Silva marchou em direção a Massada com a Décima Legião e uma tropa auxiliar de milhares de soldados, além de milhares de prisioneiros judeus que trabalhavam como escravos, produzindo alimentos e fornecendo água para o exército.

Ao chegar à base da fortaleza de Massada, Silva começou a elaborar uma estratégia para enfrentar o desanimador desafio que se erguia à sua frente. Após avaliar a situação, ele decidiu, primeiramente, construir oito acampamentos de base em torno da fortaleza. Um deles foi colocado na montanha que dava vista para Massada, no lado sul. O local era um ótimo posto de observação, permitindo acompanhar as atividades dos sicários. O quartel-general de Silva estava localizado num dos acampamentos maiores, a noroeste da fortaleza.

O primeiro objetivo de Silva era impedir que os sicários escapassem. Para isso, construiu uma muralha de três quilômetros de extensão e quase dois metros de espessura, circundando toda a montanha.

O segundo objetivo de Silva era transpor a muralha defensiva no alto da montanha e penetrar na fortaleza. Ele sabia que um cerco prolongado estava fora de questão, pois Massada tinha uma abundante reserva de provisões. Então, decidiu construir uma rampa de assalto sobre a elevação natural na encosta oeste de Massada. Esse feito não foi nada desprezível. As tropas de Silva levaram grande quantidade de terra e pedras para o local, e usaram vigas de madeira de tamargueira, com 60 centímetros a 1 metro de comprimento, para escorar a pilha de entulho. Com esse material, construíram um plano inclinado que deve ter tido uns 160 metros de comprimento, 15 metros de largura e 8 metros de profundidade.

O general Silva decidiu construir uma rampa de assalto sobre a elevação natural na encosta oeste de Massada, um plano inclinado que deve ter tido uns 160 metros de comprimento, 15 metros de largura e 8 metros de profundidade, e que ainda hoje pode ser visto.

Mas os sicários sabiam muito bem quais eram as intenções dos romanos, e não ficaram assistindo de braços cruzados. Enquanto os romanos tentavam construir sua rampa, os judeus juntavam grandes pedras, pesando uns 50 quilogramas cada uma, e as mandavam rolando morro abaixo. Além disso, outros sicários arremessavam pedras menores com suas fundas.

Mas a resistência foi em vão. O plano inclinado foi concluído e as enormes máquinas de guerra dos romanos entraram em ação. Uma dessas torres tinha entre 20 e 30 metros de altura, e, lá de cima, os romanos lançavam uma chuva de setas e pedras sobre os atarantados rebeldes.

A torre também tinha um poderoso aríete, composto de uma enorme tora de madeira com uma ponta de ferro no formato de cabeça de carneiro. A tora era suspensa por cordas, dentro da máquina de guerra. Os soldados empurravam a máquina até perto da muralha ou dos portões e, ao chegarem a uma distância suficiente, puxavam a tora para trás e depois a empurravam para a frente com toda a força. Josefo comentou que nenhuma muralha ou torre conseguia resistir à violência desses golpes.

Sabendo disso, os sicários usaram um sistema engenhoso para reforçar a muralha exterior. Usando as vigas dos telhados de 90 por cento das construções de Massada, eles construíram uma muralha de madeira por dentro da muralha de pedra e encheram de terra o espaço entre as duas. A muralha interna "deveria ter entre 20 e 25 metros de extensão, cerca de 18 metros de espessura e 7 a 8 metros de altura". Aparentemente, o aríete tinha pouco efeito sobre este tipo de muralha, exceto o de compactar ainda mais a terra, a cada novo golpe. Mas o sucesso da nova muralha de madeira não durou muito, pois ela tinha uma grande fraqueza: podia ser queimada.

Silva ordenou que suas tropas lançassem tochas flamejantes sobre a muralha, e, em pouco tempo, ela estava em chamas. Quando um vento vindo do norte soprou as chamas de volta na direção dos romanos, os judeus cercados sentiram a esperança renascer. Mas os ventos mudaram outra vez, levando as chamas novamente para a muralha. Enquanto suas defesas queimavam rapidamente, os sicários perceberam que o fim estava próximo.

O suicídio

Em vez de investirem para a matança, os legionários voltaram a seus acampamentos para passar a noite, preparando-se para desferir o ataque final pela manhã. Porém, durante a noite, Eleazar ben Jair convenceu seus compatriotas, embora com certa dificuldade, de que era melhor morrerem livres do que sofrerem a tortura que certamente estaria reservada para eles e suas famílias, nas mãos dos romanos. O suicídio coletivo era preferível à escravidão. Com grande tristeza, cada chefe de família matou sua mulher e seus filhos. Em seguida, foram sorteados dez homens para matar os restantes. Desses, um foi selecionado para matar os outros nove, incendiar o palácio onde todos haviam tombado e, depois, suicidar-se.

Com o raiar do sol, as tropas romanas precipitaram-se pelas fendas da muralha, preparadas para entrar em combate contra a resistência, mas tudo o que encontraram foi o silêncio. Intrigados, os soldados gritaram para atrair os guerreiros. Em vez disso, viram surgir das sombras duas mulheres e cinco crianças, que haviam escapado do massacre da noite anterior escondendo-se em cavernas subterrâneas. Os sobreviventes contaram aos romanos o que os sicários tinham feito, mas eles só acreditaram quando entraram no palácio incendiado e contemplaram o monte de cadáveres.

As mortes ocorreram no décimo quinto dia do mês de nisã, segundo o calendário judaico, no primeiro dia da Festa dos Pães Asmos do ano de 73 d.C.

Atualmente, o moderno Estado de Israel – a única verdadeira democracia do Oriente Médio – homenageia Massada, não necessariamente por seus defensores, mas por seus ideais. As palavras do hino nacional israelense expressam o anseio do coração de todo judeu, desde que os romanos romperam as defesas de Massada: "Viver em liberdade na terra de Sião e Jerusalém".