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segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Elohims unificados sob a figura de YHWH

A iconografia e representações não só de Jesus, mas também de Deus mostram claras referências à incorporação de elementos de outras religiões. Elas também fornecem pistas para traçarmos não só um perfil iconográfico, mas até mesmo psicológico podendo tirar conclusões nunca pensadas. Certas características descobertas em imagens e até imagens descorbertas revelam um Jesus muito diferente do Jesus judaico tradicional mostrado há séculos.

Desde que nascemos somos educados a termos uma visão poderosa de Deus, onde Ele é um velho que está no céu, sentado num trono governando o mundo. Curiosamente esta é a mesma imagem representativa de Zeus. Tendo em mente que não existia um conceito antropomórfico de Deus no judaísmo, até porque Deus não tinha forma, como consequência não tinha uma necessidade de representar Deus, até porque isso era proibido. Entretanto com a elaboração oficial do dogma da trindade no Concílio de Nicéia, houve a necessidade de traçar um perfil iconográfico do Deus cristão. Entretanto ninguém nunca o tinha visto na figura do Pai, sendo somente visto na figura de Jesus, o Filho, isso há 300 anos, assim como o Espírito Santo teria se manifestado na forma de uma pomba segundo os evangelhos.

Para unificar a crença, procuraram-se elementos comuns às religiões em relação à figura de Deus. O mais comum deles era o local aonde Deus se encontraria: Nos céus. Outro fator que era comum era o fato de Deus se encontrar sentado num trono, visto que o mesmo governava o Universo. Sendo visto como uma figura que governa, Ele deveria passar temor para as pessoas, por isso criou-se uma imagem de um Deus furioso. E como sendo eterno ele deveria ser representado como um velho. E assim fixou-se a imagem do Deus cristão: Um velho poderoso que mora acima dos céus e governa o Universo do seu trono. Curiosamente esta é a mesma imagem que temos de Zeus. E não é coincidência.

A figura mítica de Zeus foi justamente escolhida pelo fato dele ser o Deus mais comum nas religiões da sociedade romana visto que era sincretizado sob os mais diversos nomes: Júpiter, Osíris, Ahura-Mazda/ Ormuz, dentre outros. A figura irada de Zeus tomou a forma de Deus Pai cristão, que em vez de governar o mundo do Olimpo, governa dos céus. Em vez de raios sobre a terra, ele manda fogo e enxofre em Sodoma e Gomorra. Esta figura imponente de Deus sentado no seu trono também é encontrada na figura de Osíris e mais tarde na figura de Odin. Devido à semelhança iconográfica com o Pai dos deuses, Jesus também seria encaixado a essa imagem de Zeus todo-poderoso sentado no trono, sendo tido como o Rei Onipotente que governa todo o Universo.

Uma característica iconográfica muito peculiar no cristianismo é a presença de um “halo” luminoso na cabeça dos santos e também na de Jesus. Para os cristãos o “halo” simboliza a santidade e a sabedoria dos santos, visto que são “Iluminados” por Deus. Entretanto este mesmo “halo” é visto na representação de muitos deuses e a origem dessa característica iconográfica remete ao Egito Antigo. O círculo que ficava na cabeça dos deuses egípcios é chamado de “disco solar” e também simbolizava a sabedoria. O Sol era o símbolo de Rá, o Deus Sol, fonte da vida. Dele emanavam os outros deuses como Osíris, Hórus e Ísis. Assim, o disco solar representava o poder de Rá em cada natureza do deus, sendo ele Osíris, Hórus ou Ísis. Esta característica iconográfica também foi adotada pela religião mitráica e mais tarde transferida para o cristianismo.

É curioso que esta característica esteja presente desde a fundação da Igreja com o Império Bizantino, pois somente a partir dele temos as representações de Jesus e dos santos com o disco solar. Curiosamente os imperadores como Constantino também eram representados assim visto que o Imperador ainda era tido como um ser divino, herança do Império Romano. Esta identificação do Imperador como sendo divino veio do Egito Antigo, onde o Faraó não somente era tido como divino, mas como o próprio Hórus encarnado. Esta característica de Filho de Deus encarnado na figura do governante permaneceria até o início da Idade Moderna onde os reis absolutistas ainda eram vistos como enviados de Deus, quase rivais da figura de Jesus.

Algo curioso em relação aos santos é que os mártires só passaram a ser cultuados após a criação do Império Bizantino (justamente após cessar a perseguição a eles), como um pedido de desculpas aos mortos pelo Império Romano. Uma maneira de se fazer aceitar a romanização do cristianismo por parte dos cristãos que antes eram perseguidos. Outra característica curiosa é que no Império Romano, cada família possuía seu protetor ancestral, sendo cada ente da família após a sua morte,divinizado quase que como um deus. Eles eram objeto de culto onde seus parentes pediam proteção em rituais e procissões com a imagem do falecido onde a família lhe prestava homenagens. Com a adaptação das diversas religiões do Império para o cristianismo, os ancestrais viraram santos, tendo a sua divindade apenas abaixo da figura de Deus e Jesus. Devido à enorme quantidade de santos cultuados, mais tarde seriam definidas as condições de como uma pessoa se tornaria santa. Entretanto, as características de proteção e intercessão continuariam presentes na fé cristã.

No cristianismo serpente é tida como o símbolo do mal, de Satanás. Segundo a mitologia cristã, o mal tomou a forma da serpente e seduziu Eva para que fizesse Adão comer do fruto proibido. Pela a história a serpente tomou uma conotação negativa. Entretanto tudo isso tem um fundamento que se originou no começo da sociedade hebraica. Os hebreus viveram um tempo da sua história no cativeiro do Egito. Com a unificação das tribos e o Êxodo, formou-se por meio da unificação cultural uma identidade comum. Todos os Elohims foram unificados sob a figura de YHWH. E com o início da religião judaica várias imagens e simbolismos começaram a ser criados. Inclusive a imagem do mal, ou o opositor dos hebreus.

Ao escrever o Gênesis, os discípulos de Moisés (visto que os livros do Pentateuco só foram escritos após a morte de Moisés) encheram os livros de metáforas contextualizando a religião com a realidade em que viviam. Assim, vindos de um cativeiro, os hebreus personificaram o mal como sendo o Faraó, cujo símbolo era a serpente. Assim a serpente tomou uma conotação negativa por parte dos judeus. Entretanto mais a frente o próprio Deus destruiria essa imagem quando manda Moisés construir uma serpente de bronze para que todo aquele que olhasse para a imagem e rogasse a Deus, ficaria curado (Números 21:8-9). Mais tarde nos evangelhos Jesus se utiliza de uma metáfora que leva à outra reflexão sobre os ensinamentos de Jesus. Num evangelho apócrifo ele diz “Os fariseus e os escribas tiraram a chave do conhecimento e a ocultaram. Nem eles entraram nem permitiram entrar os que queriam entrar. Vós, porém, sede inteligentes como as serpentes e simples como as pombas” - Evangelho de Tomé N° 39.

Ora, como vimos a imagem da serpente como sendo símbolo da sabedoria vêm do oriente, tanto da Índia como do Egito Antigo. Isto nos mostra que Jesus não seguia um judaísmo puro como veremos isso mais a frente. Por falar nisso, temos outra característica iconográfica da figura de Jesus importada das outras religiões.

Uma característica quase despercebida nas imagens de Jesus é a posição em que as mãos do Messias cristão se encontram. Se notarem em todas as representações bizantinas, Jesus faz um gesto com as mãos como se estivesse abençoando. Esta imagem se chama Khristós Pantokrator que sigfinica “Cristo Todo-Poderoso” em grego. Nesta imagem Entretanto este gesto é mais que uma bênção, é uma invocação. Este símbolo pictórico se chama mudra sendo ele uma série de gestos originais do Hinduísmo e do Budismo. Os mudras possuem um significado profundamente espiritual. Para os hindus e budistas eles simbolizam um estado de busca ou realização de uma determinada consciência. Geralmente são usados para invocar o poder de Deus dentro da pessoa. Frequentemente Sidharta, o Buda, é representado fazendo um mudra em sua clássica posição de Lótus.
Esta representação está presente no cristianismo não por aculturação religiosa, mas por ser uma das características de Jesus. Um dos pontos mais polêmicos sobre a vida de Jesus, é o fato do mesmo possuir características doutrinárias e espirituais do oriente, mais precisamente da Índia. A razão de Jesus ser representado dessa maneira não é um simples empréstimo artístico, mas a realidade de um dos muitos aspectos ocultados da figura clássica do Cristo, devido à vontade da Igreja de definir uma imagem exclusiva de Jesus. Jesus se utilizava de mudras para invocar o poder de Deus assim como os indianos também se utilizavam desses gestos para os mesmos fins. Como vimos os elementos iconográficos cristãos não são originais sendo claramente absorvidos num processo de aculturação com a finalidade de criar uma nova doutrina unificando aspectos de diversas religiões sob um novo nome: Cristianismo.