Mostrando postagens com marcador Direito Canônico. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Direito Canônico. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 11 de março de 2010

Cânon do AT


Definição:

O termo cânon (kanwn) ou qoneh (hnq) vem da língua semítica, ou sumérica (assírio-babilônica) e significa vara de medir ou régua, especialmente usada para manter algo em linha reta. Entretanto no grego, dá a idéia de vara, nível, esquadro, isto é, a meta a ser atingida, a medida infalível, chegando dessa forma ao criterion (krithrion). No hebraico a raiz da palavra é junco ou cana, isto é, uma vara. Estes eram utilizados como instrumentos para medir.

Em cronologia significava uma tabela de datas e em literatura, uma lista de obras que podiam ser atribuídas a um certo autor. Os cânones literários são importantes porque só as obras genuínas de um autor podem revelar o seu pensamento.

Os clássicos gregos usavam o cânon como sentido figurado de regra, norma ou padrão. Aristóteles chama o homem de bom cânon ou metron (metron) da verdade. A Estátua do Lanceiro, por Policleitos, era considerada cânon ou padrão de beleza física. Os clássicos eram chamados cânones ou modelos de excelência. Na gramática era aplicada às regras da declinação, conjugação e sintaxe. No calendário os cânones eram as datas mestras, certas e firmes, das quais se partia para o cálculo dos períodos intermediários.

O termo cânon aparece no NT apenas em II Coríntios 10.13,15 e em Gálatas 6.16. Este conceito de regra ou padrão que a palavra cânon tem, dá um caráter de norma e era considerado, até mesmo, em outras escrituras. O Direito Canônico e a Literatura utilizaram-no como uma medida diretiva ordenadora.

Com o passar dos tempos o termo cânon passou a designar o corpo de escritos que dá autoridade normativa para a fé cristã, tendo em contraste os escritos que não o são, mesmo sendo contemporâneos. Somente no século IV é que o conceito cânon foi aplicado à Bíblia pelo Concílio de Laodicéia (360) e por Atanásio referindo-se aos livros que a Igreja reconhecia serem, oficialmente, o padrão de conduta e fé.

Sendo assim, cânon são os livros aceitos pela igreja primitiva como Escrituras divinamente inspiradas. O termo cânon deixou, então, de ser a vara de medir para se tornar o padrão. Se cânon significa isto, canonização significa ser oficialmente reconhecido como guia ou regra autorizada em matéria de fé e prática.

A Canonização do AT

O aparecimento do cânon constitui, antes, um longo processo histórico no qual se pode distinguir três estágios: a tradição oral que é resultante da revelação como seu pressuposto, o trabalho de compilação dos escritos sagrados como uma espécie de pré-história e a formação propriamente dita do cânon.

A formação do cânon do AT foi o resultado de uma decisão dogmática que fixou o conjunto das Sagradas Escrituras, determinando-lhe o número e os limites, razão pela qual se postulava um período definido da revelação (de Moisés até Artaxerxes I). As razões para isto estão ligadas à situação histórica. Em certa época surgiu um movimento apocalíptico com a pretensão de possuir o dom da inspiração e misturava, de novo, idéias de crenças estranhas com as próprias, fazendo assim, reviver novamente o perigo do sincretismo religioso.

Para que tivessem valores, os seus escritos, tinham que suplantar a própria Lei. Por isso eram atribuídos as personalidades que viveram antes de Moisés (Adão, Henoc, Noé, os patriarcas), para parecerem mais antigos do que a Lei de Moisés. Outro que era considerado um perigo eram os escritos de Qumran, mas o cristianismo, que se sentiu ameaçado principalmente por haver adotado a tradução grega dos LXX, começou a fazer uma concorrência com as Escrituras Hebraicas. Visando não haver um esvaziamento ou uma desagregação interna ou externa para o judaísmo fiel à Lei.

Os fariseus definiram e impuseram o conceito de cânon, apesar da resistência dos saduceus que só reconheciam a Torá. Esta corrente distinguia entre a literatura sagrada e a profana, e incluíram na primeira 24 escritos.

Nas Escrituras Hebraicas há 39 livros que os judeus aceitaram como canônicos. Estes são os mesmos que foram aceitos pela Igreja Apostólica e Protestante desde os dias da Reforma. A estes a Igreja Romana adicionou 14 outros livros, ou porções de livros que são os apócrifos e os considera como tendo igual autoridade aos demais.

O Cânon Hebraico

A divisão que consta nas escrituras hebraicas encontra-se em três partes:

- Lei (Pentateuco): Gênesis (no princípio - tyvarB); Êxodo (estes são os nomes - tAmv hLaw); Levítico (e chamou - arqYw); Números (no deserto - rBdyw); Deuteronômio (estas são as palavras - ~yrbDh hLa); sempre designados pelas primeiras palavras dos textos.
- Profetas (Nebiûm - ~ayBn):
1) anteriores: Josué; Juízes; Samuel; Reis; em ambos os 1ºs e 2ºs estão reunidos num só.
2) posteriores: Isaías; Jeremias; Ezequiel; os doze profetas, na ordem retomada pela Vulgata: Oséias; Joel; Amós; Obadias; Jonas; Miquéias; Naum; Habacuque; Sofonias; Ageu; Zacarias; Malaquias.
- Escritos (Kethûbbîm - ~ybWtK, ou Hagiógrafos): Salmos; Jó; Provérbios; Rute; Cantares; Eclesiastes (Coélet); Lamentações; Ester; (estes cinco últimos são conhecidos como cinco rolos ou Megillath - tLgm) Daniel; Edras-Neemias; Crônicas.
A princípio esta coleção continha apenas 24 livros, mas para debater os apologistas cristãos, que apelavam ao AT na sua polêmica contra o judaísmo, mudou para esta ordem.
Os Megillath ou cinco rolos, eram destinados a serem lidos nas principais festas do ano. Desta forma: Cantares para a Festa da Páscoa; Rute para a Festa das Semanas ou da Colheita; Lamentações para a Festa da Celebração do Jejum em memória da Destruição de Jerusalém; Eclesiastespara a Festa dos Tabernáculos (cabana de folhagem); Ester para a Festa dos Purim.

A LXX

- Legislação e História: Gênesis; Êxodo; Levítico; Números; Deuteronômio; Josué; Juízes; Rute; quatro "livros dos Reinos" I, II (Sm), III, IV (Rs); I, II Paralipômenos - paraleipomhna - coisas omitidas - (Cr); I, II Esdras (1º é apócrifo e o 2º é Ed e Ne juntos); Ester, com fragmentos próprios do grego; Judite; I, II, III, IV Macabeus (3º e 4º são apócrifos);
- Poetas e Profetas: Salmos; Odes (apócrifo); Provérbios de Salomão; Eclesiastes; Cântico dos cânticos; Jó; Livro da Sabedoria (Sabedoria de Salomão - apócrifo); Eclesiástico (Sabedoria de Sirac - apócrifo); Salmos de Salomão (apócrifo); Doze profetas menores (Dódeka profeton - dwdeka profhton) na seguinte ordem: Oséias; Amós; Miquéias; Joel; Obadias; Jonas; Naum; Habacuque; Sofonias; Ageu; Zacarias; Malaquias; e ainda, Isaías; Jeeremias; Baruc (apócrifo); Lamentações; Carta de Jeremias (ou Baruc 6 - apócrifo); Ezequiel; Susana (que é Dn 13 - apócrifo); Daniel 1-12 (3:24-90 é próprio do grego); Bel e o Dragão (que é Dn 14 - apócrifo).
A edição massorética do AT é diferente em algumas particularidades da ordem dos livros seguida na LXX e também da ordem das Igrejas Protestantes. Os compiladores da LXX seguiram um arranjo quase tópico.
A única diferença na Vulgata para a LXX é que I e II Esdras são iguais a Esdras e Neemias, e as partes apócrifas III e IV Esdras são colocadas depois dos livros do NT, como também a Oração de Manassés. E ainda, os profetas maiores vêm antes dos profetas menores. Já na Bíblia Protestante segue-se a mesma ordem tópica de arranjo da Vulgata, omitindo apenas as partes apócrifas, mas o conteúdo segue o Texto Massorético.

Os Antilegômenos

Antilegômenos são os livros contra os quais se fala. No decorrer do 2º século d.C. em certos círculos judaicos alguns livros exprimiram dúvidas quanto à sua canonicidade. São eles:
- Eclesiastes: a crítica baseava-se no seu pessimismo, epicurismo (doutrina de Epicuro, filósofo materialista grego (341-270 a.C.), e de seus seguidores, entre os quais se distingue Lucrécio, poeta latino (98-55 a.C.), caracterizada, na física, pelo atomismo, e na moral, pela identificação do bem soberano com o prazer, o qual, concretamente, há de ser encontrado na prática da virtude e na cultura do espírito. É errôneo identificar o epicurismo com o hedonismo) e na sua negação da vida no porvir;
- Cânticos dos Cânticos: a crítica baseava-se nas passagens que falam da atração física em expressões idiomáticas fortes e entusiásticas que chegam à beira do erótico. Entretanto o rabino Hillel identificou Salomão com Iavé e Sulamita com Israel, mudando assim toda a interpretação através desta grotesca alegoria;
- Ester: a crítica baseava-se no não aparecimento do nome de Iavé no livro;
- Ezequiel: a crítica baseava-se nas diferenças existentes nos detalhes entre o Templo e o ritual dos últimos dias, descritos nos 10 capítulos finais, e àqueles do Tabernáculo Mosaico e do Templo de Salomão;
- Provérbios: a crítica baseava-se em alguns preceitos que parecem ser contraditórios como em 26.4,5 "Não respondas ao tolo segundo a sua estultícia, para que também não te faças semelhante a ele. Responde ao tolo segundo a sua estultícia, para que ele não seja sábio aos seus próprios olhos".

O Cânon de Alexandria

Era formado por um grupo de judeus que falava o grego e vivia na Alexandria e nas proximidades do Egito. Tinha um Templo e produzia literatura religiosa, seleções com tratados gregos e hebraicos. Apesar de considerar sagrados todos os livros da Bíblia Hebraica, incluíam também os livros apócrifos.

O Cânon Palestinense

Na Palestina a maioria dos livros já era aceita pelos judeus.
Depois da destruição de Jerusalém e do Templo em 70 d.C., os eruditos judeus mudaram-se para Jâmnia, para o estudo e o ensino das Escrituras. Em 90 d.C., um concílio de líderes judeus, Concílio de Jâmnia, discutiu quais os livros que deveriam ser inclusos no cânon do AT e reconheceu oficialmente os 24 do AT hebraico.

Alguns foram contra porque diziam que o concílio não representava o judaísmo oficialmente, mas este foi o cânon que constituiu a Bíblia Hebraica e conseqüentemente a evangélica no século XVI.
O cânon alexandrino, também chamado de deuterocanon (deuterokanwn), possui 24 livros; o palestinense, protocanon (protokanwn), possui 22 livros. Os concílios Florentino e de Trento tomaram este como obrigatório. Sabe-se que o palestinense, através da versão dos LXX, tornou-se a base da Vulgata.

O Concílio de Trento enumerou 21 livros históricos, 7 didáticos, 17 proféticos, sendo que 8 destes são chamados pela Igreja católica de deuterocanônicos (apokrufoj), isto é, segundo cânon; os biblistas protestantes os chamam de escritos apócrifos. Para os católicos estes são escritos apocalípticos do judaísmo tardio, os quais por sua vez, são chamados pelos teólogos protestantes de pseudo-epígrafos (yeudw epigrafw), já que seus autores se apresentam sob pseudônimo (yeudwnumoj).

Outras formas de Cânon
O Cânon de IV Esdras

Há uma teoria do cânon de IV Esdras datada de 30 anos após a destruição de Jerusalém no ano 557 a.C., onde diz que Esdras foi inspirado pelo Espírito e ditou aos seus cinco escribas num espaço de 40 dias os escritos do AT destruídos pelo fogo.

Foram publicados 24 dos escritos compostos por Esdras, enquanto que os outros 70 podiam ser somente acessíveis aos sábios de Israel. Este último grupo designa a literatura apocalíptica, extracanônica, do judaísmo tardio. Segundo esta teoria os escritos foram compostos num simples espaço de tempo, dando ênfase à inspiração divina e conseqüentemente, uma santidade particular nos textos (2º século). Esta teoria de inspiração foi adotada pelo cristianismo, Igreja da Idade Média e da Moderna, da mesma forma como pelos exegetas judeus e protestantes até o iluminismo. Com o iluminismo o que era místico tornou-se racional e passou a se fazer justiça à realidade histórica.

O Cânon Samaritano

Os samaritanos aceitavam apenas os 5 livros da Torá, Pentateuco, como canônicos.
De caráter não canônico há uma exposição histórica que vai de Josué até à Idade Média, passando pelos imperadores romanos e traz, para o período bíblico, partes consideráveis dos livros históricos do AT. Este é mais conhecido como livro de Josué. Outro livro não canônico e importante é a versão samaritana da história de Moisés, que se encontra na Doutrina de Marqã - Memar Marqã, que apareceu nos primeiros séculos do cristianismo.

O Cânon Judaísmo Helenístico

É o cânon alexandrino da versão dos LXX.

O Cânon do Cristianismo

A princípio não aceitou a teoria dos fariseus e nem se prendeu a nenhum cânon, se prendia mais à LXX do que ao cânon hebraico.