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segunda-feira, 23 de abril de 2018

Crítica Textual


Crítica textual é o estudo das cópias de um documento qualquer para se chegar ao denominador comum, o autógrafo (texto original). Este estudo propõe avaliar todas as evidências dos manuscritos existentes e chegar ao verdadeiro propósito dos autores originais. No entanto, o autógrafo não existe mais e as cópias sobreviventes divergem entre si em alguns pontos. Por isso, a prática do estudo da crítica é de extrema importância.

Nesse sentido, observamos alguns benefícios da prática da crítica textual: (1) poder usar com discernimento obras críticas que discutem questões textuais; (2) ter confiança quanto aos textos que estudamos e pregamos; (3) avaliar as novas versões que surgem, considerando o estudo da língua original, pois muitas vezes, trata-se da decisão na tradução; (4) poder responder com segurança perguntas sobre o texto que utilizamos.

Durante a avaliação dos manuscritos, também é possível identificar alguns sinais ou abreviaturas presentes nos papiros. A crítica, então, questiona qual seria o significado de tais abreviações e qual o propósito de se abreviar os nomes. Avaliando os manuscritos em letras maiúsculas, por ex., percebemos que a razão possível deve-se às nomina sacras.

MATERIAIS DE CRÍTICA TEXTUAL 

1. Manuscritos gregos de vários tipos
Papiros;
Pergaminhos;
Unciais (todas as letras maiúsculas).
Minúsculos.
Lecionários (coleções de textos bíblicos). Trata-se de porções escritas do texto original lidas nas igrejas devido ao costume da época. Eram textos aleatórios escolhidos conforme a leitura do dia. Podem ser consideradas fontes históricas, pois provam que os textos já eram copiados.
Versões (em várias línguas do mundo romano). Por serem muito próximas ao texto original, podem ser usadas como comparação.
Citações do Novo Testamento dos chamados pais da igreja.

2. Quantos são esses manuscritos?
Há aproximadamente cinco mil e setecentos manuscritos do Novo Testamento.
Destes, cerca de dois mil e duzentos são lecionários.
Há cerca de cinquenta e sete manuscritos completos do Novo Testamento. Comparados aos outros manuscritos históricos, os manuscritos do NT.
Uma grande maioria é de manuscritos dos evangelhos (mil novecentos e quarenta e dois).
Cerca de cinco por cento do total (duzentos e noventa) é de fragmentos de livros. Foram um milhão e trezentas mil páginas escritas à mão.

3. Versões
São traduções antigas do NT em línguas do mundo romano (latim, siríaco, copta, armênio, gótico).
Há mais de dez mil manuscritos do NT apenas em latim.
Há mais de uma versão em várias dessas línguas.

4. Citações dos Pais da Igreja
Existe cerca de um milhão de citações catalogadas dos Pais da Igreja (suficientes para recuperar todo o NT).
Há grande diversidade entre citações do mesmo texto, mesmo nos escritos de um mesmo Pai da igreja.
É difícil precisar o método de citação usado (cópia, memória, alusão).

5. Algumas estatísticas
Há cerca de quatrocentas mil variantes entre os manuscritos catalogados (para um total de aproximadamente cento e quarenta mil palavras de texto).
Muitas dessas variantes (cerca de oitenta por cento) são simples questões de grafia (tipo um ν móvel).
Dos restantes vinte por cento, cerca de quinze por cento não fazem qualquer diferença na tradução. Dos cinco por cento restantes, apenas uma quinta parte (um por cento do total) tem significância exegética. Então, na prática, temos noventa e nove por cento de credibilidade no nosso texto.
Existe um total de quatro mil variantes com significância exegética. O NT que usamos selecionou mil e quatrocentas variantes mais significativas. As informações são trazidas no aparato crítico (parte inferior do NT que traz a composição dos manuscritos que defendem tais variantes).
Há a informação de que noventa e cinco por cento do texto do NT é totalmente original. A confiabilidade dessa informação deve-se ao fato de ser muito antiga. Muitos outros manuscritos foram descobertos ao longo dos tempos e essa mesma informação continuou sendo dada.

FAMÍLIAS TEXTUAIS

1. Definições

Precisamos ter cautela em não confundir famílias textuais com famílias de manuscritos. Existem grupos de manuscritos menores que estão dentro das famílias textuais e que também são chamados de famílias de manuscritos. Então, pra que não haja confusão, em vez de “família textual”, dizemos “tipo textual”.

Família ou tipo textual é um agrupamento de manuscritos, inteiros e/ou partes, que compõe ou apresenta um conjunto de características similares, ou tendências. A questão aqui é o “tipo de escrita usado”.

O critério mais comum para determinar os tipos textuais é a similaridade das variações. Alguns manuscritos têm variações no mesmo lugar. Então, a análise leva à conclusão de que é um tipo de texto.

Os estudiosos analisam cada manuscrito examinando cada detalhe para se chegar à devida conclusão. Fazem uso de todos os tipos de ferramentas, porque os papiros dos manuscritos chamados palimpsestos (que foram usados novamente), foram reutilizados após uma raspagem. Alguns papiros foram utilizados pela primeira vez para transcrever um texto não bíblico, mas após a raspagem foram utilizados para a transcrição de um texto bíblico. Assim, com o passar dos anos, foi possível ler o que foi escrito pela primeira vez nesses papiros, ou seja, é possível ler textos sobrepostos.

2. Classificação das famílias ou tipos de textos

Desta forma, percebendo-se as familiaridades dos textos, os estudiosos foram agrupando os tipos de textos e formando as tais famílias textuais. Algumas versões em colchetes (as mais antigas) registram tais variações. Entretanto, hoje, as novas versões explicam as variantes nas notas de roda pé.

Esse tipo de agrupamento foi feito por regiões ou categorias. As regiões usadas são basicamente: Alexandria, Bizantina, Cesareana e Ocidental. Tais regiões contêm algumas diferenças devido aos redatores, mas o texto majoritário é o texto bizantino. Entretanto, nessa região foi onde houve o maior número de adulteração dos manuscritos.

Kurt Aland adota o estilo eclético de crítica textual e classifica os tipos textuais sob cinco categorias:
Manuscritos de primeira linha – que sempre devem ser levados em conta quando se estabelece o texto original. O texto alexandrino é incluído nessa categoria, bem como os papiros e unciais copiados até o terceiro e quarto séculos.
Manuscritos de qualidade especial – com influência bizantina. O texto egípcio é incluído nessa categoria. Não se trata do texto bizantino, mas de influência bizantina.
Manuscritos de natureza distinta – com um texto independente, mas que são mais importantes para a história do texto do que para o estabelecimento do texto original. Nessa categoria, inclui-se os manuscritos das chamadas famílias 1 e 13 (famílias dentro de famílias – grupo pequenos de famílias). Às vezes os estudiosos classificam as famílias por nomes, números, ou até por letras tanto do alfabeto grego, quanto do alfabeto hebraico. Todas que começam com o número 0 são unciais, ou seja, são maiúsculas, as demais, isto é, todas que não começam com o número 0 são minúsculas. As minúsculas são mais recentes, aproximadamente do século IX em diante.
Manuscritos do texto D – texto ocidental.
Manuscritos que têm um texto predominantemente bizantino – Aland define o seu critério optando pelo texto mais antigo, isto é, por data, e não de influência bizantina.

Por este estilo eclético de crítica textual, fica clara a preferência de Aland pelas categorias 1 a 3.

3. Posição dos críticos em relação ao texto bíblico

Paroschi afirma que a história dos textos revela que os copistas do NT não eram escribas ou redatores profissionais e que, portanto, não tinham nem a mesma reverência, nem a mesma habilidade de escrita que os copistas dos tempos do AT. Além disso, a dificuldade de se reproduzir os textos apostólicos e a deficiência dos materiais usados para a reprodução do texto fazia com que as igrejas emprestassem copistas amadores.

Provavelmente, já no período apostólico, os originais começaram a ser reproduzidos, mas devido à falta de um revisor, as primeiras variantes textuais começaram a surgir e a se multiplicar nas cópias seguintes. Todavia, sobre essa afirmação de Paroschi, é possível indagar: mesmo com a posse dos manuscritos originais, não seria possível verificar a fidelidade da cópia?

Outra fonte de divergência textual levantada por Paroschi era o descuido na exatidão literal. Segundo ele, os cristãos primitivos, a começar dos apóstolos e evangelistas, ao citarem o AT, não mostraram a mesma veneração do texto bíblico que existia entre os judeus. Mas, Paroschi se contradiz ao reconhecer que a partir do final do século I, autores como Clemente, Inácio, Policarpo e outros pais apostólicos, já passam a demonstrar a grande reverência com que os livros do NT eram tidos na igreja primitiva. Bem, os próprios autores foram descuidados, mas só os pais da igreja foram fiéis? O fato não se harmoniza com o chamado descuido! Paroschi explica que os primeiros concílios eclesiásticos formados para classificar os livros canônicos, foram realizados ambos no norte da África (em Hipona Régia em 393 e em Cartago em 397) e que o que esses concílios fizeram não foi impor algo novo às comunidades cristãs, mas apenas codificar o que já era prática geral das comunidades. Em meio ao calor das heresias presentes nos primeiros tempos do cristianismo, certas palavras ou expressões que pudessem dar margem a interpretações, muitas vezes eram deliberadamente evitadas nas cópias. Paroschi defende a falta de zelo por parte dos copistas, pois estes retiravam do texto original o que julgavam dar margem às heresias da época.

Desta forma, vê-se que os argumentos usados para justificar as variantes dos textos baseiam-se tanto no descuido dos copistas, quanto da extração de palavras ou expressões que supostamente pudessem dar razão às heresias da época. Os manuscritos eram usados tanto pelos ortodoxos para proteger a doutrina, quanto, pelos hereges para sustentar suas heresias.

Pickering, por sua vez, diz que para um texto mais antigo, aumenta a probabilidade de sua cópia, sendo que, o mais velho de todos os textos era o autógrafo. Assim, uma maioria absoluta de textos era muito mais capaz de representar corretamente o caráter do texto original do que uma pequena minoria, a não ser que tenha havido alguma interferência radical na história da transmissão. Então, sob condições normais, seria impossível uma forma textual posterior adquirir tão grande predomínio de testemunhas existentes.

Já os críticos naturalistas gostam de presumir que no início, os escritos do NT não eram reconhecidos como Escritura, pois através do descuido resultante na transcrição, o texto ficou confuso e a redação original ficou “perdida”. Na verdade, o argumento naturalista não diz muito a respeito da crítica textual, mas sim da canonicidade.

Na opinião de Hort, os escribas não tinham muito interesse na pureza do texto, mas apenas na transcrição profissional. Pickering refuta tal argumento afirmando que no período apostólico o texto bíblico era muito importante para os autores e já havia transcrição dos seus manuscritos, pois os cristãos os consideravam como Escritura Sagrada, como Palavra de Deus.

Pelo argumento de Paroschi, pode-se colocar até mesmo em dúvida a inspiração divina para a formação das Escrituras.

Pickering apela para Clemente de Roma, que ainda no ano de 96 d.C., fez amplo uso das Escrituras apelando para a sua autoridade colocando o NT ao lado do AT. A epístola de Barnabé, já entre os anos 70 e 135, cita o NT aplicando o cuidado com as Escrituras. Os escritos externos ao NT mostram claramente a reprodução do temor ao texto bíblico. Eles nos mostram claramente tanto o zelo pelas Escrituras por parte dos pais da igreja, quanto, a influência dos apóstolos na doutrina pregada pelos pais da igreja.

Num saltério copiado por um dos escribas, datado no ano de 272, declara a salvação para aqueles que possuíam o códice, isto é, a Bíblia. Tal saltério mostra o temor e o zelo para com aquilo que foi escrito pelo próprio Senhor.

Até o primeiro século, com a herança dos apóstolos, muitos homens eram comprometidos com a cópia do texto bíblico. No segundo século, as sete cartas de Inácio, próximo ao ano 110, contém prováveis alusões a Mateus, João, Romanos, 1Coríntios e Efésios. Na sua carta aos Efésios, Inácio diz que eles são mencionados em todas as epístolas de Paulo, mostrando que estava ciente de um corpo paulino. Policarpo também acreditava profundamente que o cânon era a Palavra de Deus. Ao declarar que Efésios é Escritura Sagrada, Policarpo diz que “Paulo, vivendo entre nós, cuidadosa e firmemente ensinava a palavra da verdade face a face com os seus contemporâneos e estando ausente vos escreveu cartas. Pelo exame cuidadoso de suas cartas sereis capazes de vos fortalecer na fé que vos foi dada ‘que é a mãe de todos nós’…”. Percebe-se, então, que Policarpo dá um valor inestimável às Escrituras.

Pickering demonstra que através dos séculos os cristãos revelavam devido respeito e consideração pelas Escrituras, e que por isso faziam uma análise cuidadosa para aplica-la à sua vida. A implicação disso é que, uma vez que se considera as Escrituras como um texto, em que suas minúcias são importantes para a vida pessoal, tal atitude se transporta para o coração do copista.

Nas cartas dos pais da igreja às comunidades cristãs, há evidência de que todos os cristãos, inclusive os apóstolos, estavam cientes das heresias e das acusações contra as pessoas que adulteravam as Escrituras. Por isso, na medida em que os escritos eram copiados, estes mesmos manuscritos também eram comparados com os originais e devidamente corrigidos se necessário, pois os apóstolos ainda estavam entre eles.

Como prova desta tese, Pickering cita Irineu de Leão que diz: “Eu te conjuro! Quem copiar este livro por nosso Senhor Jesus Cristo e por seu glorioso advento, quando vier julgar os vivos e os mortos, que compares o que transcreves e o corrijas a partir desse manuscrito do qual estás copiando e também que transcrevas este com juramento e o códice na cópia”.

Pickering reconhece uma dificuldade na história da transmissão fiel do texto, haja vista, ter quatrocentas mil variantes. Desta forma, propõe quatro fatores (critérios) para determinar qual manuscrito era melhor qualificado. Os fatores são: (1) acesso aos autógrafos; (2) domínio da língua original; (3) situação da igreja e; (4) atitude condigna para com o texto. Sobre eles, veremos:

Acesso aos autógrafos. A grande maioria se concentra na região bizantina, mas, as regiões de Alexandria e Egito não detinham nenhum manuscrito original, ou seja, tudo o que chegou nessas regiões, foi cópia.

Domínio da língua original. Cuidado divino em prol da forma exata do texto do NT teria que ser mediado através das línguas dos autógrafos, ou seja, o grego. É preciso conhecer a língua para ter um cuidado maior. A região bizantina era a que dominava melhor a língua. Por outro lado, o uso do grego no Egito já estava diminuindo no começo da era cristã.

Metzger observa que a parte helenizada da população do Egito era só uma fração comparada com o número de habitantes nativos que falavam somente as línguas egípcias. No terceiro século o desuso era evidentemente bem avançado.

Pickering, afirma que o copista que fez o P66 (texto alexandrino – por volta do ano 200), não sabia grego. Cowell analisou o caso de P75 (texto próximo do ano 220) e achou cerca de cento e quarenta e cinco itacismos ou iotacismos (troca de letras ou ditongos com som de ι pela letra ι) mais duzentos e cinquenta e sete outras leituras singulares, isto é, leituras que não ocorrem em nenhum outro manuscrito dos cinco mil e setecentos. Sendo que, vinte e cinco por cento dessas leituras, não têm nenhum sentido. Baseado nos erros fica claro que o copista que fez P75 copiou letra por letra. Isto significa que ele não sabia grego, uma vez que se sabe, copia-se frase por frase, ou pelo menos palavra por palavra.

K. Aland afirma que antes do ano 200 o grego caiu no desuso nas áreas onde se falava latim, siríaco ou cóptico, e cinquenta anos mais tarde a mudança para a língua local era bem acentuada. Mesmo que o Egito tivesse começado com um bom texto, já no final do segundo século, a sua eficiência em transmitir o texto estava sempre diminuindo. Então, até o final do terceiro século temos pequenas porções dos textos alexandrinos, mas apenas no quarto ou quinto século é que temos porções maiores.

Situação da igreja. Esta questão é relevante porque primeiro, a lei da demanda funciona tanto na igreja, quanto em outros lugares. Onde há muitas congregações e crentes, haverá uma maior demanda por cópias das Escrituras. Segundo, com a igreja forte e bem estabelecida normalmente terá uma liderança experimentada e confiante. Exemplo disso, vemos a preocupação de Paulo em deixar igrejas com lideranças fortes e confiantes. Trata-se do exato tipo de liderança que tomaria interesse na qualidade de suas Escrituras.

Aland afirma que o Egito se destacava das outras províncias da igreja até onde podemos julgar, pelo domínio desde cedo do gnosticismo, ou seja, a igreja no Egito não era saudável. A igreja saudável preserva o texto que ela pode comparar com os autógrafos. Aland prossegue afirmando que ao final do segundo século, a igreja egípcia era dominada pelo gnosticismo. Essa opinião é dominante entre os historiadores. As cópias existentes nas comunidades gnósticas não podiam ser usadas por estarem sob suspeita de terem sido adulteradas. Então, durante o segundo século, a tradução textual do Egito não era confiável.

Segundo Metzger, entre os documentos cristãos que surgiram no segundo século, na igreja primitiva do Egito, estão numerosos evangelhos apócrifos, atos, epístolas e apocalipses, bem como, fragmentos de obras dogmáticas e exegéticas compostas por cristãos alexandrinos, principalmente gnósticos. Baseados nos comentários de Clemente de Alexandria, quase todo tipo de seita cristã digressiva do segundo século se representava no Egito. Por isso, Metzger, defende o texto crítico alexandrino, citando um pai da igreja falando mal da religião de Alexandria. Clemente menciona os valencianos, basilidianos, márcionitas, peratae, encratitas, docetistas, haimetitas, cainitas, ofitas, simonianos e eutiquianos. No entanto, Metzger explica que não se sabe a porcentagem de cristãos ortodoxos existentes no Egito do segundo século.

Vê-se que o texto egípcio no começo era ruim, mas Aland também afirma que no segundo, terceiro e até o quarto século, a Ásia Menor continuava sendo “a terra-coração da igreja”. Isto significa que as qualificações superiores da área Egéia para proteger, transmitir e certificar o texto do NT vigora até o quarto século.

Por outro lado, Hort, Metzger e Aland, entre outros, ligaram o tipo de texto “bizantino” com Luciano (de Antioquia), que morreu no ano 311. Isto quer dizer que, até o quarto século as cópias eram boas, mas, posteriormente, houve a recensão Luciana, que significa unir os vários textos transformando-os em um só documento.

4. Breve história de cada tipo textual

ALEXANDRINO

Segundo Paroschi, a tradição literária alexandrina provavelmente influenciou a igreja local, uma vez que, as cópias do NT, ali produzidas, revelam-se de excelente qualidade textual. Entretanto, essa informação é questionável. O texto é geralmente mais antigo e por isso considerado como um excelente texto. Mas, apenas nos Evangelhos, os códices א e B, diferem entre si bem mais de três mil vezes. Isso sem incluir erros de menos importância nesta conta. Segundo Paroschi o destaque é para a falta de contato direto dos cristãos alexandrinos com os cristãos apostólicos, o que para ele, parece ter feito dos cristãos alexandrinos inteiramente independentes dos escritos sagrados para seu conhecimento de fundamento da religião cristã. A falta das reminiscências pessoais e da tradição oral teria aumentado a exigência quanto à exatidão textual das fontes literárias. Contudo, esse fator depõe contra o próprio argumento de Paroschi, visto que os cristãos alexandrinos não tinham o original para comparar as suas cópias. Posto isto, é possível indagar: os textos locais não foram a razão das variantes?

Entre as características do tipo de texto alexandrino: (1) as leituras de Alexandria tendem a ser mais curtas na harmonização e paráfrase e; (2) são geralmente consideradas como tendo uma menor tendência para expandir ou parafrasear.

OCIDENTAL

Em Roma e em outras regiões dominadas pela língua latina, também antes da metade do século II, desenvolveu-se outro tipo de texto, o texto ocidental. Sobre este tipo textual, Paroschi diz conter alterações bastante radicais nos evangelhos e principalmente em atos onde é quase dez por cento mais longo que a forma original.

A principal característica do tipo ocidental é o gosto pela paráfrase, palavras, frases e até mesmo porções inteiras que foram livremente modificadas, omitidas, ou acrescentadas. Há possibilidade de que isso pode ter ocorrido devido à harmonização, principalmente no caso dos evangelhos sinóticos.

Além de o tipo textual ocidental ser comumente mais longo que outros tipos de texto, no final de alguns textos, como por ex. o de Lucas, há certas omissões de palavras e frases que se fazem presentes em outros tipos de texto, inclusive o alexandrino. Portanto, apesar de ter conservado certas leituras originais ausentes até mesmo no texto alexandrino, este tipo textual não pode ser considerado de boa qualidade.

CESARIANO

É possível que este tipo tenha tido origem em comum com o texto alexandrino no Egito, como demonstrado pelo P45, de onde teria sido levado à Cesareia provavelmente por Orígenes. Essa hipótese é proposta pelo fato do próprio Orígenes ter usado esse tipo de texto e também do alexandrino no seu comentário de João quando ainda morava em Alexandria, tendo se transferido para Cesareia, quando passou, então, a usar o texto cesariano.

Apesar de remontar ao século II, este tipo textual desenvolveu-se essencialmente no século III e caracteriza-se por uma distinta mescla de formas alexandrina e ocidental, estando ligeiramente mais próxima do texto ocidental sem, contudo, apresentar as longas adições e paráfrases do texto. Na verdade, historicamente falando, o texto cesariano, como tal, representa apenas mais um estágio do desenvolvimento em direção ao texto bizantino.

BIZANTINO

Este é o último dos tipos distintos de textos do NT e parece ser resultado de uma revisão dos antigos textos locais por Luciano de Antioquia, pouco antes do ano 312 no seu martírio. Paroschi ainda observa que Jerônimo faz uma alusão de que as igrejas de Antioquia e Constantinopla preferiam o texto lucianico. Além disso, o primeiro pai da igreja, cujas citações são essencialmente bizantinas é João Crisóstomo, o qual, segundo Paroschi, começou seus trabalhos literários em Antioquia no ano 381. Contudo, essa posição de Paroschi também não é comprovada. Interessante é que, uma das tendências das correções do textoא é sempre em direção ao texto bizantino.

Uma das acusações feitas ao texto bizantino se referia às conflações. Conflação é teoria que explica que o escriba ou editor ao se deparar com pontos divergentes em dois ou mais manuscritos, podiam “apropriadamente” combinar os textos para produzir um texto mais “pleno”.

Contudo, considerando as evidências externas, inclusive sob a análise a partir das conflações, observando os critérios por data; quantidade de cópias; distribuição geográfica; solidariedade genealógica; concluímos que o texto bizantino deve ter a maior credibilidade ante aos demais.

CONCLUSÃO

Após examinar os estudos apresentados no vídeo, podemos concluir que, diante de tantos manuscritos e variantes, com o domínio de noventa e cinco por cento das “cópias originais”, mesmo trabalhando com diferentes argumentos e ferramentas para decidir sobre as melhores traduções e versões, temos a absoluta certeza de que Deus em Sua soberania preservou as verdades das Escrituras para que com Sua misericórdia vencesse as corrupções e intenções malignas e chegasse com fidelidade até nós.