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domingo, 16 de janeiro de 2011

Os aspirantes a Rei-Messias

O PODER DO REI-MESSIAS
NO IMPÉRIO ROMANO

Introdução

A presente reflexão quer ser uma contribuição ao estudo, sobretudo, do messias-rei em Israel, no contexto do império romano. Jesus será analisado no conjunto dos movimentos e lideranças messiânicas. Primeiro, procura-se conceituar a terminologia messias na história de Israel e povos circunvizinhos. Em seguida, é apresentado o contexto do império romano. Por fim, grupos religiosos, movimentos e lideranças messiânicas que atuaram no interior do império romano, são analisados detalhadamente. A conclusão parece inevitável: o sonho rei-messias continua vivo, alimentando a esperança de tempos melhores.

1 - O messias na história de Israel tem poder de rei, sacerdote e profeta

Hammasiah é o termo hebraico usado para designar o Messias, isto é, o “ungido”, aquele que, por ter recibo a unção com óleo, está revestido de poder divino. Mitologias extrabíblicas falam de um rei do início do mundo que voltaria no fim dos tempos. No entanto, não se pode afirmar com certeza que textos do Egito ou Mesopotâmia tratem de rei salvador escatológico. Os persas acreditavam que um salvador vira para purificar o mundo, destruir o mal e ressuscitar os mortos. Davi foi um rei justo, piedoso, iluminado por Deus e, por isso, vitorioso. Com ele Israel expandiu os seus territórios. Sua realeza devia permanecer para sempre, o que foi justificado pela promessa da perpetuação da dinastia davídica. O messias esperado devia ser um rei, descendente da casa de Davi. E essa foi a idéia predominante na época de Jesus.

Profetas

Isaías apresenta o messias na linha real davídica. Ficou famoso o texto: “Eis que uma jovem concebeu e dará à luz um filho e por-lhe-á o nome de Emanuel” (Is 7,14). Miquéias segue a reflexão da comunidade de Isaías e acrescenta: “Mas tu (Belém), Éfrata, embora a menor dos clãs de Judá, de ti sairá para mim aquele que será o dominador de Israel. Suas origens são de tempos antigos, de dias imemoráveis... Ele se erguerá e apascentará o rebanho pela força de Javé, pela glória do nome de Deus” (Miq 5,1-3). Jeremias diz que o Messias será da casa de Davi (Jr 23,5; 33,15-27). Ezequiel fala de um Messias apocalíptico e escatológico que apascentará Judá e Israel, novamente unificados, e será príncipe para sempre (34,23; 17,22-24).

Salmos

Nos Salmos reais, Davi aparece como rei messias que vai concretizar as esperanças dos pobres. Ele o protótipo do Messias. A oração nos Salmos projeta o rei ideal: descendente de Davi (Sl 45); escolhido e ungido por Deus (Sl 2; Sl 45); representante de Deus (Sl 72); protegido de Deus (Sl 18); tem a função de governar e defender o povo (Sl 18; 72); a sua vitória nas guerras é mérito de Deus (Sl 18); é presença visível da santidade de Deus perante os súditos (Sl 101); sinal e penhor do reino que todos esperam (Sl 2; 72); rei e sacerdote (Sl 101); vencedor de guerras e do mal (Sl 2); seu aniversário e casamento são sagrados e fontes de fecundidade para todo o país e povo (Sl 45). Os Salmos rezam a esperança messiânica de modo a criar uma estrutura de oração baseada na teologia da corte, ou seja, a ideologia da corte vem justificada com o poder libertador e divino do rei. Cria-se com isso a ideologia da corte baseada no tripé: Trono: ordem sagrada da sociedade; Estado: instituição sagrada; Rei: encarnação sagrada da instituição e detentor dos poderes social, militar e econômico. A autoridade do rei, rezada nos salmos, dá a certeza ao povo que ele participa do governo de Deus. Os salmos reais justificam a ação do Estado. Eles não são, portanto, críticos ao poder dos reis. Quando rezam, pedem a proteção do reinado de Davi como garantia da permanência da monarquia. As festas reais funcionam como elementos legitimadores da ação do rei. Ao celebrar a vida do rei, celebra-se a presença de Deus. Desse modo, o culto passa a ser expressão da realeza de Deus e do poder divino dos reis. E a chegada do Messias é a garantia da realização plena do reino. O Sl 72 é um bom exemplo para podermos compreender a libertação dos pobres, sonhada e depositada na pessoa de um rei que tem uma plataforma de governo justo, benéfico, forte, salvador e abençoado por Deus. Na releitura do Sl 72, os cristãos identificaram Jesus como rei-messias, esperança dos pobres, aquele que está sentado à direita de Deus e que recebe o reino universal. Basta vermos alguns exemplos para entender a afirmação anterior. Lc 1,33: ele reinará na casa de Jacó para sempre, e o seu reinado não terá fim. Mt 2,2: “onde está o rei dos judeus recém-nascido? Com efeito, vimos a sua estrela no seu surgir e viemos homenageá-lo”. Ap 15,4: “todas as nações virão se prostrar diante de ti, porque tuas justas sentenças foram promulgadas”. Fl 2, 10: “ao nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e no abismo, e toda boca proclame que Jesus, o messias, é Senhor” .

Exílio da Babilônia

Os exilados judeus na Babilônia, alimentaram a esperança em um messias, nascido no cativeiro da Babilônia ou depois dele, traria a salvação para o mundo, o que coincidia com pensamento persa a respeito do messias. Os exilados judeus alimentaram a esperança de um “Salvador da pátria”. Chegaram até mesmo a identificá-lo com Ciro, rei da Pérsia, que permitiu a volta do exílio.

Rabinismo

Os rabinos consideravam o messias como “rei ungido” e “filho de Davi”, agiria com poder para defender Israel e fazê-lo grande, submetendo-lhe todos os povos. Menahem (o ‘consolador’ em hebraico) é o nome citado pelos rabinos como o messias que nasceria em Belém durante uma noite em que Jerusalém estivesse sendo destruída (TJ Ber. 5 a). O messias seria da descendência de Ezequias (TB Sanh, 98b). O período que antecede a vinda do Messias seria marcado por “miséria material e moral”. Elias, acompanhado de Moisés, viriam dois anos antes para anunciar a sua chegada e ungi-lo (Midraxe Rabbot Ex 10,1; Targ Jon. Ex 12,42). O Messias virá como profeta. Ele será um segundo Moisés (Midraxe Qon 1,9; Midraxe Ruth 56). O “Servo de Javé” de Zc 12,10 e Sl 22 é visto pelos por alguns rabinos como Messias davídico e, por outros, como Messias “filho de José” ou “filho de Efraim”. Sendo o último um Messias de menor valor, o qual precederia o verdadeiro Messias. O monte das Oliveiras seria o lugar da manifestação do Messias (Targum de Jônatas e Talmud). Rabbi Akiba, a quem é devedor o judaísmo a sua continuidade no mundo pós-guerra de 70 E.C., reconheceu o líder revolucionário nacionalista Simão Bar Kokhba como o rei messias que Israel tanto esperava.

Apócrifos

No escritos apócrifos, o messias tem um caráter transcendental. Oráculos sibilinos 3,46-62 fala de um Messias que reinaria sobre o mundo todo, depois da submissão do Egito a Roma. Ele traria felicidade para Jerusalém. 4 Esdras apresenta o messias como leão de Judá que destrói, com a sua palavra, a águia, símbolo do império romano. Depois trazer a bênção para a terra nos seus 400 anos de reinado, o messias morre e um mundo novo e imperecível surge (11,37-12.1.31-34; 7,28). Testamento dos doze Patriarcas diz que de Judá nascerá um rebento, pelo qual o seu tronco recuperará a realeza, fará justiça para todos que invocam o Senhor. Outros textos apócrifos falam de um messias sacerdote e “filho de Levi” (Testamento de Levi 18,5 e de Judá 24). No apocalipse de Baruc o messias virá para a consumação dos tempos, passará pelas “dores do messias” e voltará uma segunda vez. Os mortos ressuscitarão para participar de um mundo novo.

Qumran

A comunidade de Qumran fala de dois messias, um ungido de Aarão e outro de Israel (1Qs 9,11; CDC 12,23ss;14,19;19,10s;20,1). O primeiro tem o poder sacerdotal e segundo, régio. O Messias sacerdotal tem primazia sobre o régio, embora o Messias tenha um papel político e guerreiro. O Messias virá para colocar um fim ao “tempo da impiedade” e vencerá Magog. Um profeta virá para anunciar a vinda do Messias.

A vasta utilização do termo Messias para designar o rei, o sumo sacerdote e sacerdotes judeus, bem como os patriarcas israelitas e o salvador prometido por Deus e esperado pelos judeus , deixa claro que o messianismo foi e é a esperança de um messias dotado de poderes divinos para trazer a salvação para toda a humanidade e o cosmo. Esperar o messias é um ato de fé, que alimentou e alimenta o povo judeu na sua caminhada com Deus. A vinda do messias é esperada num tempo futuro, escatológico, na pessoa de um messias rei, profeta e filho do homem. Deus, ao revelar a Torá no Sinai e feito uma aliança com Israel, deixou previsto uma intervenção futura sua na pessoa de um Messias, ao qual o povo obedeceria. E foi essa esperança que impulsionou o surgimento de várias lideranças messiânicas no período da dominação romana na Palestina do tempo de Jesus.

2 – Império romano: a opressão gera esperança messiânica

A dominação romana na Palestina deu seqüência à grega, iniciada por Alexandre Magno, homem de rara inteligência, que criou, nos poucos anos de seu reinado, um grande império. Ele morreu com apenas 33 anos de idade. Três de seus generais disputaram entre si o poder, o que resultou na divisão do império em três territórios políticos: África e Palestina, governada pelos Lágidas, Síria e Ásia Menor, pelos Selêucidas e Macedônia e Europa, pelos gregos. No entanto, a cultura grega se manteve. O governo lágida na Palestina entrou em decadência em 221. Antíoco III assumiu o poder na Síria em 225 e venceu os egípcios. Mais tarde, os judeus facilitaram o domínio sírio na Palestina. No entanto, quando Antíoco IV (175-164) reinava na Palestina, os romanos exigiram mais impostos dos sírios. Antioco IV saqueou os templos, proibiu a observância da Torá, dedicou o templo de Jerusalém ao deus grego Olimpus. Tudo isso provocou uma luta armada, desencadeada pela família de Matatias e continuada por Judas Macabeus. Daí o nome: “Revolta dos Macabeus”. Esse movimento libertário acabou vitorioso. Em 164 a.E.C., o culto a Javé foi restabelecido no templo. Como nos tempos áureos de Davi, a Terra prometida voltou a viver um período de independência. No entanto, a dinastia asmoneia, criada após vitória dos macabeus, não durou muito. Altas taxas de impostos, brigas internas, corrupção, dentre outros fatos, propiciaram a chegada, no ano 63 a.E.C, de um outro dominador na terra de Jesus, os romanos. A chegada deles foi um alívio para o povo sofrido e explorado na guerra civil iniciada no ano 104 a.E.C. Muitos camponeses tinham sido expulsos de suas terras. Os piedosos queriam observar a Torá, mas piratas estrangeiros haviam invadido o país. Roma logo percebeu que ocupar a Palestina seria ideal para fortalecer o oriente do império. E além disso, ela estaria criando uma nova fonte abastecimento agrário. Galiléia transformou em grande produtor agrícola. Os romanos exigiam ¼ da produção como imposto. Os judeus estavam isentos de impostos desde o ano 142 a.E.C.

Os romanos ocuparam a Palestina. Algumas décadas se passaram e o povo percebeu que eles não eram os salvadores da pátria. Em 57 E.C. explodiu na Palestina uma revolta popular contra Roma. Lideranças e grupos religiosos se organizaram nessa luta. A Galiléia, onde se concentravam a melhores terras, tornou-se um barril de pólvora. O sonho da retomada da dinastia davídica foi interrompido pela dominação, também cruel, dos romanos.

Jesus nasceu nesse contexto de revolta contra Roma. Sua pregação incluiu a resistência a Roma. Na parábola do semeador, Jesus denuncia: “tem gente sem terra”. Não teria sido Jesus um dos revoltosos? A sua pregação não teria sido também anti-romana? Os textos canônicos não foram remodelados para amenizar essas questões e defender o império romano? São questões que permanecem no rol das discussões.

2.1 – Situação político-econômica do império romano

O modo de produção no império romano era o tributário-escravagista. Havia escravos por toda parte. Dois terços da população de Corinto era formada por escravos, cerca de 400 mil pessoas. Por não conseguir pagar uma dívida, alguém poderia tornar-se escravo. Ademais, a corte romana obrigava a população a pagar impostos.

A sociedade romana estava organizada de forma piramidal:

No ápice, estavam os senhores da terra, os senadores, os homens livres e os cidadãos ricos.
No meio, se encontravam o exército, os governadores e os sacerdotes.
Na base, sustentando a situação econômica de dominação, se encontravam os agricultores, carpinteiros, pastores, escravos e mulheres.

No período anterior e posterior ao nascimento e vida pública de Jesus, destacaram-se a atuação de imperadores e governadores romanos, tais como:

• Herodes, o Grande. Chamado assim por sua astúcia e grandes obras. Ele acabou com a dinastia dos asmoneus e reinou como tetrarca da Judéia (37 a.E.C - 4 E.C). Foi o responsável pela perseguição aos inocentes, na época do nascimento de Jesus.

• Herodes Arquelau, filhos de Herodes, o grande. Reinou como etnarca (governador) da Judéia, Samaria e Iduméia (4 E.C - 6 E.C.). Cruel como o pai, foi deposto e exilado pelo imperador Augusto.

• Herodes Antipas, filho mais novo de Herodes, o grande. Foi tetrarca da Galiléia e Peréia (4 E.C- 39 E.C.). Mandou executar João Batista. Pretendia ser Imperador, mas antes foi exilado em Lyon pelo Imperador Galígula.

• Herodes Agripa (41-44 E.C.). Neto de Herodes, o Grande. Agraciado com os favores de Roma, teve um vasto território para reinar.

• Augusto (30 a.E.C - 14 E.C), foi o primeiro imperador do império romano. O seu nome era Otávio César. Augusto era um título honorífico, que significa “abençoado, sublime”. Jesus nasceu no seu governo.

• Tibério (14 – 37 E.C.). Filho adotivo e sucessor de Augusto, Tibério foi imperador na época da vida pública de Jesus.

• Pilatos, procurador romano na Palestina (26 E.C - 36 E.C), na época de Tibério. Criou inimizade com os samaritanos e judeus. Tem papel decisivo na crucifixão de Jesus. A literatura apócrifa alternativa mostra-o como cristão penitente. Uma tradição diz que ele morreu executado pelo imperador Nero e outra, que ele cometeu suicídio.

• Caio Calígula (37-41 E.C.).
• Cláudio (41-54 E.C.)
• Nero (54-68 E.C). Perseguiu as comunidades cristãs em Roma .
• Vespasiano (69 -79 E.C). Ainda como general, iniciou a guerra judaica.
• Domiciniano (79 - 96 E.C) Pregava a reencarnação de Nero.

O império romano e suas atrocidades com o povo judeu possibilitaram o surgimento de vários messias, dentre os quais encontramos Jesus. E não foram poucas as lideranças populares que se apresentaram como tal. É o que veremos a seguir.

2.2 – Messianismo e profetismo, apoio e resistência ao império romano

O período que vai do governo de Herodes (37 a.E.C. a 4 E.C.) ao início do segundo século da nossa era é marcado por movimentos, grupos políticos de inspiração messiânica ou profética que resistem ao império romano. Houve também grupos pró Roma, nos quais o messianismo é menos evidente. O projeto político-religioso desses movimentos e sua ralação com o messianismo no império romano é que veremos a seguir. Vamos considerar no nosso estudo não somente os movimentos messiânicos de libertação da Palestina em prol de novo reino davídico, mas também os grupos religiosos tradicionais, como saduceus, fariseus, etc., os quais também conviviam a situação de dominação romana.

1) SADUCEUS

a) Origem

A origem dos saduceus remonta a Sadoc, chefe dos sacerdotes de Jerusalém, no tempo de Davi (1010-970 a.E.C.) e Salomão. Saduceus deriva de Saddiq, justiça. Como partido, os saduceus aparecem com mais força quando o asmoneu Jônatas (163 a.E.C.) uniu os poderes religioso e político, declarando-se sumo sacerdote e passando a ter o controle do templo e do sacerdócio.

b) Membros

Faziam parte do grupo dos saduceus, a elite sacerdotal de Jerusalém, os proprietários de terras, os anciãos (burocratas) e os ricos em geral.

c) Projeto e messianismo

Apoiar o império romano, com o qual deve-se procurar viver em harmonia, evitando conflito com o povo. Não acreditar na ressurreição e nem esperar pelo messias. Não valorizar a tradição oral judaica (tradição dos antepassados). O que vale é Lei e não a sua interpretação. O sacerdote deve pautar a sua vida segundo a Lei de Moisés, sentir defensor da ortodoxia judaica e ser rigoroso na liturgia.

d) Área de influência

Os saduceus formavam um grupo poderoso na condução do Sinédrio. Em questões litúrgicas tinham a palavra final. O poder religioso fazia com eles se mantivessem longe do povo.

2) HERODIANOS

a) Origem

Entre os estudiosos, a opinião se divide em torno à origem dos herodianos. Uns dizem que eles eram cortesãos de Herodes Antipas. Alguns Santos Padres falam de um grupo que consideravam Herodes Magno (4 a.E.C - 39 E.C.) como Messias. Seriam esses os herodianos?Herodes Magno.

b) Membros

Funcionários e soldados da corte herodiana, proprietários de terra e “grandes” comerciantes.

c) Projeto e messianismo

Defender o império romano na pessoa de Herodes Antipas (ou Magno?). Os herodianos eram chamados de “os amigos de Roma”. Como os Saduceus, não acreditavam na ressurreição e nem se preocupavam com a libertação de Israel.
d) Área de influência
Os herodianos tinham o poder civil na Galiléia e não eram populares.

3) FARISEUS

a) Origem

Os fariseus nasceram no período do governo asmoneu de João Hircano (135-104 a.E.C.).

b) Membros

O grupo dos fariseus era composto por doutores leigos, mas também faziam parte do partido, os escribas, sacerdotes do terceiro escalão, pequenos comerciantes e artesãos.

c) Projeto e messianismo

Fortalecer a Torá oral, a tradição. Negar o monopólio dos sacerdotes na interpretação da Torá. Combater a política profana dos sacerdotes-príncipes hasmoneus. Interpretar de forma popular a Torá para o povo. Fariseu significa “separado” dos impuros, portanto, eles pretendiam fazer de Israel um povo santo, isto é, puro, na observância radical da Lei. Esperar do Messias, filho de Davi, não subordinado ao filho de Aarão. Ele viria para restaurar o poder político e levar Israel ao cumprimento da Torá. O Messias chegaria no momento definido por Deus. Até que isso acontecesse, o povo devia se preparar, não seguindo o caminho indicado pelos asmoneus. Em relação ao império romano, os fariseus faziam uma aparente oposição, embora acreditasse na libertação do domínio dos estrangeiros. Os fariseus também acreditavam na ressurreição dos mortos.

d) Área de influência

Com pouca influência no campo da política, os fariseus, por outro lado, controlavam as sinagogas, lugares de estudo, oração e reunião do povo. Durante o período de Alexandra no poder asmoneu, os fariseus ocuparam cargos políticos importantes. Por serem fieis observadores da Lei mosaica, os fariseus eram respeitados e amados pelo povo. No entanto, foi esse mesmo rigorismo que os distanciou das classes populares, fazendo com que eles não percebessem as necessidades e sofrimentos do povo diante do império romano. Os pobres não eram capazes de seguir o rigorismo proposto por eles e, por isso, foram deixados de lado.

O famoso texto de Mt 24 que coloca negativamente os fariseus, parece não ter sua origem na fala de Jesus, mas em brigas posteriores entre judeus e cristãos. Jesus tinha amigos fariseus.

Com a guerra judaica (67-70 E.C.), o farisaísmo foi o único grupo judaico que permaneceu.

4) ZELOTAS

a) Origem

Os Zelotas têm origem no grupo dos fariseus e macabeus. A facção político-religiosa que leva esse nome se organizou como entre 66-70 da E. C. e atuou em Jerusalém.

b) Membros

Revolucionários e zelosos pelos dos costumes judaicos. É discutível se Simão, um dos seguidores de Jesus, era zelota. A terminologia zelota, na época de Jesus, tinha somente a conotação religiosa.

c) Projeto e messianismo

Zelo pelas coisas de Deus, daí o nome zelota. Combater o sacrifício em prol do imperador que era feito no templo de Jerusalém, o que configurou em uma afronta ao império romano. O messianismo dos zelotas pode ser visto no modo como eles agiam para purificar o país da ação dos pagãos romanos. Essa atitude zelota garantiria a vinda o messias. Nesse sentido, o grupo configurado como Zelota agiu na época da guerra judaica como verdadeiros revolucionários. O messias para eles era um guerrilheiro.

d) Área de influência

Os seguidores de Judas Galileu e João de Giscala receberam influência ou influenciaram os Zelotas. Lideranças messiânicas de inspiração zelota surgiram no período da guerra judaica.

5) ESSÊNIOS

a) Origem

A briga com o sacerdócio de Jerusalém, no que se refere à interpretação de textos bíblicos sobre a pureza cultual no templo, tempo das festas religiosas, resultou na criação desse grupo religioso, fundado por um tal “Mestre da Justiça”, sacerdote iluminado por Deus. Eles foram viver no deserto, em Qumran, perto do mar morto. A atuação dos essênios foi forte marcante na época de Jesus. No entanto, podemos falar também um outro tipo de essênios, diferente do ramo de Qumran, que teve sua origem por volta do ano 200 a.E.C., em meio ao movimento apocalíptico .

b) Membros

Levitas, sacerdotes dissidentes e leigos.

c) Projeto e messianismo

Levar uma vida monástica austera e separada, preparando-se para a consumação dos tempos, a luta entre o bem e o mal. Considerar-se povo da Nova Aliança. Interpretar de modo próprio a Lei. Ter o seu próprio calendário litúrgico. Praticar a purificação, conversão dos pecados, oração matinal ao sol, observar o Sábado. Não freqüentar os cultos em Jerusalém e nem sacrificar animais. Todas essas práticas apressariam a vinda do Messias. Eles acreditavam em dois Messias, um sacerdotal e outro davídico, subordinado ao primeiro .

Segundo Flávio Josefo , eles tinham uma visão fatalista da providência, e pregavam, sobre a alma, uma doutrina alheia ao judaísmo. Além disso possuíam uma doutrina secreta, reservada aos iniciados.

d) Área de influência

Viviam separados do povo, mas eram respeitados como monges ascéticos. Os essênios se uniram aos outros grupos judeus na luta contra Roma (67-70 E.C.).

6) JUDAS GALILEU

a) Época

Líder de um grupo revolucionário e originário de Gâmala, na Gaulanítide, Judas Galileu conseguiu iniciar uma revolução popular contra Roma, nos anos 4 a.E.C. e 6 E.C., a qual foi retomada nos anos da guerra judaica e resistiu até o ano 73 da E.C. O movimento de Judas teve sua inspiração em uma outra liderança popular que o antecedeu na luta contra Roma, o seu pai Ezequias, assassinado por Herodes.

b) Membros

Lideranças populares rebeldes.

c) Projeto e messianismo

Insurreição política contra Roma, visto que o povo estava caminhando para uma submissão total ao império. Como atesta Flávio Josefo, Judas pregava que eles, os judeus, não podiam aceitar mortais como mestres, depois de ter Deus como Senhor (Ant. XVII, 271-2). Lutar contra a decisão romana de fazer um o senso demográfico, o que era proibido pela lei judaica. Reagir contra as altas taxas do impostas pelo império romano. Garantir a terra como dom e promessa de Deus. Pagar impostos da terra significava perder esse direito sagrado. Nesse sentido, é que podemos falar de messianismo no projeto de Judas Galileu. Ele resgata o ideal messiânico davídico. Deus seria o único rei do povo de Israel.

d) Área de influência

Judas Galileu era muito respeitado no meio do povo. Os camponeses da Galiléia aderiram em massa a sua proposta. Os romanos conseguiram destruir o movimento de Judas, mas ele renasceu mais tarde no grupo dos Zelotas.

7) ATRONGES

a) Ëpoca

Camponês de notória estatura e força, Atronges liderou o movimento nacionalista contra Roma, no período do reinado a Arquelau, propriamente nos anos 4 a.E.C. a 6 E.C. Astronges tinha quatro irmãos, os quais, sob sua liderança, dirigiam grupos rebeldes.

b) Membros

Rebeldes armados, camponeses e pastores.

c) Projeto e messianismo

Retomar o reino de Israel. Matar as milícias romanas. Atronges chegou a ser designado rei e, portanto, usava um diadema real, o que configura o seu movimento como o messiânico, isto é, esperança de um rei-messias (ungido) que libertaria Israel do domínio romano.

d) Área de influência

O povo, com Atronges, viu fortalecida a esperança escatológica de um rei que restauraria Israel. O diadema usado por ele simbolizava a resistência aos romanos. Arquelau perseguiu Atronges e pôs fim ao seu movimento.

8) JOÀO BATISTA

a) Época

O movimento batista surgiu por volta do ano 20 E.C., no deserto da Judéia e à beira do rio Jordão. João Batista era filho do sacerdote Zacarias.

b) Membros

Populares que se empolgavam com a sua pregação.

c) Projeto e messianismo

Anunciar o batismo e a conversão dos pecados para obter o perdão. O batismo na água colocava as pessoas em relação direta com Deus. Não eram mais necessárias as práticas rituais do templo de Jerusalém. Assim, os batistas se tornaram perigosos para ordem judaica estabelecida a partir do templo, bem como para o império romano. João conclamava o povo a ir ao deserto, o que, simbolicamente retomava a figura de Moisés e o êxodo. E do deserto, de novo, o povo entraria na terra da promessa. Para tanto, era necessária a preparação prévia com o batismo na água e de conversão dos pecados. Os evangelhos sinóticos apresentam a pregação escatológica de João sobre o juízo e a vinda do reino de Deus e do messias.

d) Área de influência

Povo simples que não tinha como oferecer sacrifícios no templo de Jerusalém. Herodes Antipas, prevendo uma rebelião de João contra Roma, mandou decapitá-lo.

9) JESUS

a) Época

A vida pública de Jesus durou apenas três anos, entre 30 a 33 da Era Comum.

b) Membros

Pescadores, mulheres, doentes. Povo pobre, mais também gente influente na sociedade, como os fariseus e publicanos.

c) Projeto e messianismo

Por meio de uma pregação objetiva e popular, contando parábolas e fazendo denúncias, Jesus tinha como projeto despertar a consciência do povo em relação à opressão romana. Anunciando o Reino de Deus, ele priorizava o contato com o povo nas suas casas. Não são poucas as passagens dos evangelhos que falam de Jesus na casa de Zaqueu, de Marta e Maria, de Pedro, de um Fariseu, dos discípulos de Emaús, etc. No seu projeto missionário, a cruz não foi prevista, mas acabou sendo conseqüência de sua atuação missionária. A história conservou a memória da cruz vazia como anuncio de certeza de que Jesus continua vivo, ele ressuscitou, o que configurava como afronta e negação do império romano, o qual não foi capaz de impedir a eficácia da pregação missionária de Jesus. O nascimento de Jesus em Belém, terra de Davi, atestado nos evangelhos, mesmo que seja somente um dado de fé, provou que ele era o messias esperado pelos profetas.

d) Área de influência

Multidões seguiram os ensinamentos de Jesus. Jerusalém o acolheu como messias. O império romano, tendo percebido a força de sua atuação político-revolucionária, mandou crucificá-lo e iniciou um processo de perseguição aos seus seguidores. Três séculos depois, o império romano acabou assimilando o cristianismo no “seu projeto”. A romanização do cristianismo possibilitou a sua expansão no mundo ocidental. Hoje, um terço da população é cristã.

10) TEÚDAS

a) Época

Teúdas surgiu no cenário político revolucionário da Palestina por volta do ano 44 da Era Comum.

b) Membros

Pessoas simples do povo. At 5,36 fala de 400 homens que o seguiram.

c) Projeto messiânico

O povo devia ajuntar seus pertences e acompanhar Teúdas até o rio Jordão, onde se cumpriria a sua proposta profética escatológica, de inspiração messiânica. O historiador Flávio Josefo assim escreve sobre Teúdas: “Ele se dizia profeta, e que à sua ordem o ri o Jordão se separaria em dois abrindo fácil passagem para eles, de modo que o povo aí reunido poderia cruzá-lo a pé enxuto” . Esse gesto proposto por Téudas relembra a mesma atitude em relação às águas realizadas pelos profetas Moisés e Elias. A abertura do rio Jordão simbolizava o desejo de retomada da Palestina como terra da promessa. Teúdas seria o líder messiânico que levaria o povo a um novo tempo. Ele mesmo teria se proclamado como messias ou profeta . Ademais, entre o povo circulava a idéia da volta de Moisés como precursor da figura do messias . E Teúdas seria o “novo Moisés”.

d) Área de influência

Os judeus, que sofriam com a exploração político-econômico de Roma, aderiram ao projeto de Teúdas. Por outro lado, o império romano logo também intuiu o perigo que Teúdas representava para ele. Assim, Fado mandou uma cavalaria que perseguiu, matou a muitos, e dispersou o movimento. Teúdas foi preso e levado decapitado a Jerusalém.

11) O EGÍPICIO

a) Época

Nunca saberemos o nome desse egípcio que nos anos 52-54 E.C. organizou uma revolta contra Roma.

b) Membros

O historiador Josefo fala que cerca de trinta mil pessoas seguiram o Egípcio. Já Atos dos Apóstolos mencionam quatro mil ‘bandidos’ (Sicários?) adeptos.

c) Projeto e messianismo

Com voz profética e escatológica, o Egípcio convocou os seus seguidores a passarem pelo deserto e ir até o monte das Oliveiras, onde sob suas ordens os muros de Jerusalém cairiam e a cidade seria tomada por eles. Inspirado nas figuras históricas de Moisés e Josué (deserto e tomada de Jericó), o movimento do Egípcio acreditava numa redenção messiânica de Israel. A entrada (tomada) de Jerusalém teria uma conotação messiânica. Entre o povo havia a idéia que o messias se revelaria no monte das Oliveiras.

d) Área de influência

Roma, no comando de Félix, conseguiu atacar o Egípcio e seus seguidores, matando a uns, prendendo outros. O egípcio conseguiu fugir. O povo e até mesmo os romanos acreditavam que ele voltaria (At 21,38).

12) SIMÀO BAR GIORA

e) Época

Natural de Gerasa, zona rural da Iduméia, pastor e líder carismático, Simão bar Giora iniciou um movimento revolucionário contra Roma, no ano 66 da Era Comum.

f) Membros

Populares revoltosos, pessoas influentes da sociedade, escravos e salteadores.

d) Projeto e messianismo

Justiça para os pobres. Organizar uma revolta popular em vista da libertação da Palestina do poderio romano. Josefo informa, com desdenho, que Simão bar Giora saqueava as casas dos ricos, maltratava as pessoas (Guerras II, 652-3). Nas cavernas e depositava tesouros e pilhagens de guerra. Seus seguidores o consideravam rei (Guerras IV, 507-13). O movimento de Simão bar Giora esperava um libertador da casa real de Davi que viria para libertar o povo da dominação estrangeira, libertar os escravos e melhorar as condições de vida da população. Como Davi, Simão também era um simples pastor.

e) Área de influência

Os camponeses miseráveis e a população de Jerusalém aderiram ao movimento de Simão, por acreditarem que a independência nacional teria chegado. Quando entrou em Jerusalém, na páscoa de 69 E.C., ele foi aclamado pelo povo como rei-messias. Ele esteve unido na luta de libertação ao movimento de João de Giscala e Zelotas. Capturado pelos romanos, em 70 E.C., Simão foi levado para a Roma como trunfo de vitória e morto pelo General Tito.

13) JOÃO DE GISCALA

a) Época

João de Giscala, filho de Levi, atuou na Galiléia nos anos 66 a 70 da E.C., época da guerra judaica contra Roma. João de Giscala era um pobre camponês que ‘usava uma foice para ceifar’, mas que se tornou, mais tarde, um revolucionário. Na sua época, a situação de revolta popular contra Roma tinha tomado proporções sem precedentes. No início de seu movimento, João de Giscala defendia um acordo pacífico com os romanos.

b) Membros

Habitantes da cidade de Giscala e agricultores.

c) Projeto e messianismo

Resistir contra os altos tributos impostos por Roma aos camponeses. Luta armada contra as milícias romanas instaladas na Galiléia. Josefo conta que “no momento da entrada de João de Giscala em Jerusalém, toda a população se lançou à sua frente e cada um dos fugitivos estava cercado por uma vasta multidão” (Guerra Judaica IV,121). Esse fato demonstra o caráter messiânico dado pelo povo de Jerusalém a João de Giscala, quem acabou liderando a guerra contra Roma. Um futuro promissor de redenção de Israel estava próximo.

d) Área de influência

A atuação de João de Giscala despertou no povo o ideal messiânico, adormecido no inconsciente coletivo . A sua presença em Jerusalém uniu as forças populares messiânicas contra Roma. O historiador Rapapport admite que o movimento de João recebeu influência dos Zelotas . Para liderar a revolução contra Roma, João de Giscala fez aliança com outros grupos revolucionários.

14) MENAHEM

a) Época

Filho de Judas Galileu, Menahem, nome que significa ‘o Consolador’, catalisava esperança messiânica judaica. Segundo a crença judaica, Menahem designava simbolicamente a esperança de um messias da linhagem de Davi que deveria nascer em Belém. Menahem atuou como líder revolucionário, nos anos da Guerra Judaica (66-70 E.C.).

b) Membros

Guerrilheiros e campesinos.

c) Projeto e messianismo

Revolução armada, de inspiração messiânica, contra Roma. Um futuro triunfante para a Palestina estava próximo. Para expressar o seu projeto de realeza, Menahem entrou na esplanada do templo trajando uma túnica real. Organizou sua entrada messiânica em Jerusalém, como rei de Israel (Guerras II, 434). Os ideais monárquicos de Menahem eram inspirados no seu pai Judas Galileu, Ezequias e Davi.

d) Área de influência

Menahem conseguiu mobilizar as massas para atacar o palácio de Herodes, em Masada, e organizou o cerco do palácio, em Jerusalém. Mehahem era um dos lideres dos ‘sicários’. Muitos do povo viram em Menahem o esperado ‘redentor’ da Palestina, embora a sua luta não obteve o esperado sucesso. Menahem foi assassinado, quando disputava com Eleazar ben Hananiah a liderança dos revoltosos de Jerusalém.

15) JÔNATAS

a) Época

Tecelão e comerciante, Jônatas atou na região de Cirene, onde havia se estabelecido, quando Vespasiano era o imperador romano (69-79 E.C.)

b) Membros

Pobres da região de Cirene.

c) Projeto e messianismo

Jônatas convocava o povo para ao deserto, onde ele realizaria sinais e prodígios. Um novo êxodo aconteceria com eles. O deserto era associado à expectativa profética messiânica.

d) Área de influência

Roma conseguiu minar o movimento de Jônatas, prendendo-o em 72 E.C.

16) ANDREAS LUKAS

a) Época

Judeu da diáspora, de Cirene, Andreas Lukas organizou os judeus da diáspora para lutar contra Roma, nos anos 114-117 E.C., quando Trajano era o imperador romano.

b) Membros

Judeus da diáspora.

c) Projeto e messianismo

Luta armada contra Roma. Fortalecer o ideal messiânico dos judeus da diáspora, levando-os a crer que seria possível retornar à pátria, reconquistando Jerusalém das mãos dos pa’gàso romanos. Implantar o reino do messias com uma grande guerra escatológica.
d) Área de influência

Andreas Lukuas liderou a guerra dos judeus contra Roma no Egito, em Chipre e Pentápolis. Multidões o seguiam nos campos de batalha. Roma, com muito custo, destruiu o movimento nacionalista messiânico de Andreas Lukuas.

17) SIMÀO BAR KOCKHBA

a) Época

Ultimo líder judeu de ideal messiânico na resistência contra Roma, Simão bar Kokhba liderou, nos 132-135 E.C., a segunda grande guerra judaica, quando Adriano era o imperador romano.

b) Membros

Populares e camponeses desejos de retomar o anseio de libertação nacional, destruído pelos romanos na rebelião de 114-117 liderada por Andreas Lukuas.

c) Projeto e messianismo

Redenção de Israel através de uma luta armada de caráter escatológico-messiânico-revolucionária. O nome Kokhab significa estrela,o que levava o povo a se recordar de Nm 24,17: “Uma estrela de Jacó se torna rei, um cetro se levanta , procedente de Israel”. O reino messiânico seria instalado definitivamente com a sua luta.

d) Área de influência

Bar Kokhoba gozava de muita popularidade na Judéia. Restos arqueológicos encontrados nas cavernas da Judéia trazem inscrições que intitulam Bar Kokhoba como “Presidente de Israel”. Simão Bar Kokhoba foi vencido pelos romanos e com ele terminou o ciclo de movimentos messiânicos de libertação nacional, que começara no tempo dos Macabeus (167 a.E.C.). Simão bar Kokhoba foi reconhecido como messias pelo sábio e notável Rabbi Akiba ben Yosef, o qual o abençoou com as palavras “Este é o rei messias” (TJ Ta’anit IV.8). Já um dos Padres da Igreja, Eusébio, chamou Bar Kokhoba de “bandido sanguinário que sob a força e impacto de seu nome, como se ele tivesse escravos com que lidar, exibiu-se como uma luz cintilante que desceu dos céus a fim de iluminar seus miseráveis” (Eusébio, História Ecclesiastica,IV, 6).

3 – Conclusão: o rei-messias resgata o nacionalismo e a esperança

A análise do perfil dos movimentos acima apresentados e de suas respectivas lideranças nos leva, inevitavelmente, a concluir o seguinte:

- Em perspectiva política, podemos classificar os movimentos acima apresentados em grupos favoráveis à ordem social estabelecida (judaica e romana) e os de oposição às injustiças cometidas pelo império romano.
- Os romanos trataram com desdenho e humilhação as lideranças messiânicas da Palestina. Simão de bar Giaro foi humilhado publicamente até à morte.

- O sentimento nacionalista do povo judeu e a reconquista da terra prometida funcionaram como gasolina na condução da maioria dos movimentos messiânicos.

- Muitos movimentos de resistência tinham, na origem, um caráter meramente social, mas ganharam, depois, a dimensão religiosa messiânica, própria do período intertestamentário.

- Muitos líderes revoltosos eram sicário ou zelota. O historiador Flávio Josefo enquadra no termo zelota todos os revolucionários.

- Se o império romano foi duramente criticado pelos messias e profetas, há de se considerar que Jerusalém, o templo e o povo judeu não ficaram imunes às denuncias dessas lideranças. Nesse sentido, notória é a figura de um camponês chamado Jesus, filho de Ananias, que passou sete anos andando pelas ruas de Jerusalém gritando sem cessar: “uma voz do leste, uma voz do oeste, uma voz dos quatro ventos, uma voz sobre Jerusalém e o templo, uma voz sobre o noivo e a noiva, uma voz sobre todo o povo” (Josefo, Bell 6,300-306). O procurador romano, Albino, após açoitá-lo, o considerou louco, libertando-o.

- A maioria dos movimentos messiânicos atuava fora do espaço sagrado do templo, o que lhes garantiam a condição de movimentos alternativos de resistência ao pensamento oficial judeu e ao império romano.

- O deserto, o rio Jordão e mar Vermelho fizeram parte do imaginário coletivo messiânico de libertação do povo. Assim, muitas lideranças convidaram o povo para ir ao deserto, passar a pé enxuto pelo rio Jordão para retomar a Palestina, a terra prometida ocupando pelos pagãos e opressores romanos. Com João Batista, por exemplo, quem se deixava batizar estava assumindo o compromisso de reconquistar a terra.

- Embora múltipla no entendimento do termo messias, a tradição da fé judaica se encarregou de definir que Jesus não foi o messias esperado por eles. Vários motivos concorrem para essa afirmação, dentre eles: o messias não podia ser Deus, pois Deus é UM; Ele nasceria de uma mulher e homem normais; Poria fim ao sofrimento e guerra no mundo; Faria com que o povo judeu voltasse a viver em paz, em Israel; O messias jamais morreria pregado numa cruz. Como Jesus não preencheu esses e outros critérios de identificação do messias, ele não o foi o salvador enviado por Deus.

- Mesmo que afirmemos que os judeus não aceitaram Jesus como messias, vale lembrar que a questão não é essa. Jesus é o messias porque os seus seguidores creram nele e difundiram a fé na messianeidade.

- A fé em Jesus-messias alimentou a esperança de muitos judeu-cristãos e não judeus que se aderiram aos ideais libertários de Jesus. E tudo isso foi possível porque Jesus se reconheceu como presença de Deus. Ademais, o ambiente da exploração romana foi propício para o surgimento de messias.

- Após a famosa guerra de 70, o ideal messiânico continuou no imaginário coletivo dos judeus da diáspora. Roma destruiu a pátria, mas não o sonho de libertação. Outros líderes messiânicos continuaram a surgir, mesmo na diáspora. Andreas Lukuas, nos anos 114-117, foi um deles. Mais tarde, entre 132-135, Simão bar Kokhba, na Palestina, ressuscitou o movimento de Andreas. Ele foi proclamado messias pelo Rabino Akibba e derrotado pelos romanos. Encerrando, assim, um ciclo do período messiânico de Israel, mas a esperança do rei-messias não morreu nas terras do povo da Bíblia.