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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Hispácia de Alexandria e a intolerância cristã.

Alexandria é uma cidade ao norte do Egito, situada a Oeste do delta do rio Nilo, às margens do Mar Mediterrâneo. É o principal porto do país, a principal cidade comercial e a segunda maior cidade do Egito. A cidade ficou conhecida por causa do empreendimento de tornar-se, na antigüidade, o centro de todo conhecimento do homem, com a criação da Biblioteca de Alexandria.

Possui vastas instalações portuárias(embarque de algodão). A parte ocidental do porto ocupa cerca de 900ha e a parte oriente constitui o porto de pesca. Entre estas duas docas está localizada a cidade maometana, com ruas estreitas e bazares.

Possui uma universidade e uma escola superior árabe. É a metrópole do comércio egípcio do algodão e centro de inúmeras indústrias. Tem refinaria de petróleo, central térmica, praia e aeroporto.

A cidade foi fundada em 332 a.C., por Alexandre Magno, para ser a melhor cidade portuária da Antigüidade. O porto foi construído com um imponente quebra-mar que chegava até a ilha de Faros, onde foi erguido o famoso farol conhecido como uma das sete maravilhas do mundo. A cidade se tornou a capital do Egito com os Tolomeos, que construíram muitos palácios, além da biblioteca de Alexandria. Atingiu o nível de centro científico e literário da época, fato que se prolongou durante os primeiros anos da dominação romana. A fundação da cidade de Constantinopla contribuiu para a queda da metrópole egípcia. Com os muçulmanos, a decadência de Alexandria avançou ainda mais, sobretudo pelo auge que adquiriu o Cairo.

Alexandria foi uma cidade importante ao ponto de merecer a intervenção de grandes homens de diferentes civilizações, como Pompeu, outros romanos e gentes de outros quadrantes, mas a sua fama está na sua Biblioteca e na propagação do Helenismo.

DINASTIA DOS PTOLOMEUS

Família Macedônica que reinou no Egito durante o período Helênico, da morte de Alexandre - o Grande, em 323 a.C., até o Egito transformar-se em Província Romana, em 30 a.C. O nome correto seria Dinastia Lágida.

A dinastia foi fundada pelo general de Alexandre, Ptolomeu I, que se estabeleceu como governante independente em 305 a.C., adotando o nome de Ptolomeu I Soter.

O reino prosperou sob sua gestão e as de seus sucessores, Ptolomeu II Philadelphos e Ptolomeu III Euergetes, que competiu com outra dinastia macedônica, os Selêucidas da Síria, pela supremacia no Mediterrâneo oriental.

A capital do reino, Alexandria, cidade cosmopolita com numerosa população Grega e Judaica, tornou-se um grande centro comercial e intelectual da Antigüidade.

Os lágidas criaram uma impressionante infra-estrutura administrativa, financeira e comercial. Entraram em decadência durante os séculos II e I a.C., quando Roma começou a intervir nos assuntos egípcios. A última governante ptolomaica foi Cleópatra VII.

Ptolomeu XII foi pai de Cleópatra VII, a qual foi amante de Julius Caesar e Marcus Antonius. A moeda abaixo, juntamente de outras, foi encontrada próxima da Costa de Haifa, em Israel.

REINADOS DOS PTOLOMEUS

Ptolomeu I, Soter (305-283 a.C.) Ptolomeu II, Philadelphos (285-246) Ptolomeu III, Euergetes (246-221) Ptolomeu IV, Philopator (221-205) Ptolomeu V, Epiphanes (205-180) Ptolomeu VI, Philometor (180-145) Ptolomeu VII, Eupator (145) Ptolomeu VIII, Euergetes II (145-116) Ptolomeu IX, Soter (116-106) Ptolomeu X, Alexander I (106-88) Cleópatra II (106-101) Ptolomeu IX, Soter (88-80) Ptolomeu XI, Alexander II (80) Ptolomeu XII, N. Dionysos (80-51) Cleópatra VII, Philopator (51-30) Ptolomeu XIII (51-47) Ptolomeu XIV (47-44) Ptolomeu XV (40) Ptolomeu XVI

Septuaginta

Versão dos Setenta - Primeira tradução dos escritos do Antigo Testamento hebraico para o grego, produzida em Alexandria, no século III a.C., a pedido de um dos reis macedônicos do Antigo Egito, Ptolomeu II Filadelfo. Durante o seu reinado, os judeus receberam privilégios políticos e religiosos totais. Também foi durante esse tempo que o Egito passou por um grande programa cultural e educacional, sob o patrocínio de Arsínoe, esposa e irmã de Ptolomeu II. Nesse programa inclui-se a fundação do museu de Alexandria e a tradução das grandes obras para o grego.

A Septuaginta tomou esse nome pelo fato de ter sido realizada por 70 anciões, trazidos de Jerusalém exclusivamente para a tarefa. Foi rechaçada pelos judeus ortodoxos, numa atitude semelhante ao católicos da Idade Média, diante do reformador protestante Martim Lutero, que traduziu a Bíblia para o alemão, tornando-a acessível ao povo. A idéia era a mesma: Ampliar o conhecimento do Antigo Testamento para a língua grega, para atingir outros judeus alexandrinos, mas os radicais viram este trabalho como uma profanação. A Septuaginta incluía não apenas o cânon hebraico, mas também outras obras judaicas, em sua maior parte escritas nos séculos II e I a.C., em hebraico, aramaico e grego. Esses escritos, mais tarde, vieram a ser conhecidos como os Apócrifos, palavra grega que significa oculto ou ilegítimo. Os judeus consideravam esses livros como não inspirados. Os denominados Apócrifos são 15 livros judaicos, surgidos no período intertestamentário. São eles: 1 e 2 Esdras, Tobias, Judite, Ester, Sabedoria de Salomão, Eclesiastes, Baruc, Epístola de Jeremias, Prece de Azarias e Cântico dos Três Jovens, Suzana, Bel e o Dragão, A Prece de Manassés, 1 e 2 Macabeus.

A Septuaginta serviu de fundo às traduções para o latim a para as outras línguas. Tornou-se também uma espécie de ponte religiosa colocada sobre o abismo existente entre os judeus (de língua hebraica) e os demais povos (de língua grega). O Antigo Testamento da LXX foi o texto utilizado em geral na primitiva igreja cristã. O Pilar de Pompéia, um grande pilar de granito cor de rosa, encontra-se nas ruínas do templo de Serapiun. Tal pilar foi dedicado em 297 d.C. ao imperador Diocletian, por sua vitória sobre o cristão Aquiles que havia requerido o título de imperador.

O Museu Greco-Romano, fundado em 1891 pelo arqueologista italiano Botti, possui mais de 40 mil relíquias valiosas.

O Anfiteatro Romano é uma ruína com 20 terraços em forma de semicírculos, que foi descoberto por arqueólogos, em 1964, localiza-se no distrito de Kom El Dekka.

Mosque Abu El Abbas El-Norsi: É uma das relíquias islâmicas da cidade. Fica no distrito de Al Anfushy.

Mais recente, em 18 de dezembro passado, jornais noticiaram que fortes terremotos podem ter sido responsáveis pelo desaparecimento de duas cidades do Egito antigo: Menouthis e Herakleion, cujas ruínas, muito bem preservadas, foram encontradas no leito do Mar Mediterrâneo alguns meses atrás. Acredita-se que tais cidades foram submersas há mais de 1.000 anos, sugerindo que a Alexandria de hoje, pode estar sob risco, por encontrar-se sobre uma falha geológica sísmica.

Outra história mais recente ainda, 28 de março deste ano, surpreende-nos com o que os representantes da Nauticos Corporation (companhia de exploração oceânica dos EUA) disseram ter encontrado enquanto procuravam um submarino israelense, desaparecido 30 anos atrás. Em lugar disso, encontraram uma embarcação grega que, segundo arqueólogos, tem mais de 2.000 anos e está numa região conhecida como Planície Abissal de Heródoto. Provavelmente, tal embarcação percorria o Mediterrâneo na época entre os reinados de Alexandre – o Grande, e Cleópatra, pois os arqueólogos estimaram que o navio afundou entre 200 e 300 a.C.
Hipácia de Alexandria(c. 370 d.C - 415 d.C)

"Todas as religiões dogmáticas formais são falaciosas e nunca devem ser aceitas como palavra final por pessoas que respeitem a si mesmas."
"Ensinar superstições como uma verdade absoluta é uma das coisas mais terríveis."

A Biblioteca de Alexandria foi construída por Ptolomeu I Soter no século IV a.C, e elevou a cidade ao nível de importância cultural de Roma e Atenas. De fato, após a queda do prestígio de Atenas como centro cultural, Alexandria tornou-se o grande polo da cultura helenística. Todo manuscrito que entrava no país (trazido por mercadores e filósofos de toda parte do mundo) era classificado em catálogo, copiado e incorporado ao acervo da biblioteca. No século seguinte à sua criação, ela já reunia entre 500 mil e 700 mil documentos. Além de ser a primeira biblioteca no sentido que conhecemos, foi também a primeira universidade, tendo formado grandes cientistas, como os gregos Euclides e Arquimedes.

Os eruditos encarregados da biblioteca eram considerados os homens mais capazes de Alexandria na época. Zenódoto de Éfeso foi o bibliotecário inicial e o poeta Calímaco fez o primeiro catálogo geral dos livros. Seus bibliotecários mais notáveis foram Aristófanes de Bizâncio (c. 257-180 a.C) e Aristarco da Samotrácia (c. 217-145 a.C).

Hipácia foi a última grande cientista de Alexandria. Nasceu em 370 d.C (?) -- os historiadores são incertos em diferentes aspectos da vida de Hipácia e a data de seu nascimento é debatida atualmente. Foi filha de Theon, um renomado filósofo, astrônomo, matemático e autor de diversas obras, professor da Universidade de Alexandria.Durante toda a sua infância, Hipácia foi mantida por seu pai em um ambiente de idéias e filosofia. Alguns historiadores acreditam que Theon tentou educá-la para ser um ser humano perfeito. Hipácia e Theon tiveram uma ligação muito forte e este ensinou a ela seu próprio conhecimento e compartilhou de sua paixão na busca de respostas sobre o desconhecido. Quando estava ainda sob a tutela e orientação do seu pai, ingressou numa disciplinada rotina física para assegurar um corpo saudável para uma mente altamente funcional.

Hipácia estudou matemática e astronomia na Academia de Alexandria. Devorava conhecimento: filosofia, matemática, astronomia, religião, poesia e artes. A oratória e a retórica, com grande importância na aceitação e integração das pessoas na sociedade da época, também não foram descuidadas. No campo religioso, Hipácia recebeu informação sobre todos os sistemas de religião conhecidos, tendo seu pai assegurado que nenhuma religião ou crença lhe limitasse a busca e a construção do seu próprio conhecimento.

Quando adolescente, viajou para Atenas para completar sua educação na Academia Neoplatônica, com Plutarco. A notícia se espalhou sobre essa jovem e brilhante professora, e quando regressou já havia um emprego esperando por ela, para dar aulas no museu de Alexandria, juntamente com aqueles que haviam sido seus professores.

Hipácia é um marco na História da Matemática que poucos conhecem, tendo sido equiparada a Ptolomeu (85 - 165), Euclides (c. 330 a. C. - 260 a. C.), Apolônio (262 a. C. - 190 a. C), Diofanto (século III a. C.) e Hiparco (190 a. C. - 125 a. C.).Seu talento para ensinar geometria, astronomia, filosofia e matemática atraía estudantes admiradores de todo o império romano, tanto pagãos como cristãos.

Aos 30 anos tornou-se diretora da Academia de Alexandria. Do seu trabalho, infelizmente, pouco chegou até nós. Alguns tratados foram destruídos com a Biblioteca, outros quando o templo de Serápis foi saqueado. Grande parte do que sabemos sobre Hipácia vem de correspondências suas e de historiadores contemporâneos que dela falaram. Um notável filósofo, Sinesius de Cirene (370 - 413), foi seu aluno e escrevia-lhe freqüentemente pedindo-lhe conselhos sobre o seu trabalho. Através destas cartas ficou-se a saber que Hipácia inventou alguns instrumentos para a astronomia (astrolábio e planisfério) e aparelhos usados na física, entre os quais um hidrômetro.

Sabemos que desenvolveu estudos sobre a Álgebra de Diofanto ("Sobre o Canon Astronômico de Diofanto"), que escreveu um tratado sobre as seções cônicas de Apolônio ("Sobre as Cônicas de Apolônio") e alguns comentários sobre os matemáticos clássicos, incluindo Ptolomeu. E em colaboração com o seu pai, escreveu um tratado sobre Euclides.

Ficou famosa por ser uma grande solucionadora de problemas. Matemáticos que haviam passado meses sendo frustrados por algum problema em especial escreviam para ela pedindo uma solução. E Hipácia raramente desapontava seus admiradores. Ela era obcecada pela matemática e pelo processo de demonstração lógica. Quando lhe perguntavam porque nunca se casara ela respondia que já era casada com a verdade.

A tragédia de Hipácia foi ter vivido numa época de luta entre o paganismo e o cristianismo, com este a tentar apoderar-se dos centros importantes então existentes. Hipácia era pagã, fato normal para alguém com os seus interesses, pois o saber era relacionado com o chamado paganismo que dominou os séculos anteriores e era alicerçado nas tradições de liberdade de pensamento.

O cristianismo foi oficializado em 390 d.C, e o recém nomeado chefe religioso de Alexandria, o bispo Cirilo, dispôs-se a destruir todos os pagãos assim como seus monumentos e escritos.

Por causa de suas idéias científicas pagãs, como por exemplo a de que o Universo seria regido por leis matemáticas, Hipácia foi considerada uma herética pelos chefes cristãos da cidade. A admiração e proteção que o político romano Orestes dedicou a Hipácia pouco adiantou, e acirrou ainda mais o ódio do bispo Cirilo por ela e, quando este tornou-se patriarca de Alexandria, iniciou uma perseguição sistemática aos seguidores de Platão e colocou-a encabeçando a lista.

Assim, numa tarde de 415 d.C, a ira dos cristãos abateu-se sobre Hipácia. Quando regressava do Museu, foi atacada em plena rua por uma turba de cristãos enfurecidos, incitados e comandados por "São" Cirilo. Arrastada para dentro de uma igreja, foi cruelmente torturada até a morte e ainda teve seu corpo esquartejado (dilacerado com conchas de ostra, ou cacos de cerâmica, consoante as versões existentes) e queimado.

O historiador Edward Gibbon faz um relato vívido do que aconteceu depois que Cirilo tramou contra Hipácia e instigou as massas contra ela:

"Num dia fatal, na estação sagrada de Lent, Hipácia foi arrancada de sua carruagem, teve suas roupas rasgadas e foi arrastada nua para a igreja. Lá foi desumanamente massacrada pelas mãos de Pedro, o Leitor, e sua horda de fanáticos selvagens. A carne foi esfolada de seus ossos com ostras afiadas e seus membros, ainda palpitantes, foram atirados às chamas".

O estúpido episódio da morte de Hipácia é considerado um marco do fim da tradição de Alexandria como centro de ciências e cultura. Pouco depois, a grande Biblioteca de Alexandria seria destruída e muito pouco do que foi aquele grande centro de saber sobreviveria até os dias de hoje.

Enrico Riboni descreve os motivos e as conseqüências dessa ação fanática dos religiosos:

"a brilhante professora de matemática representava uma ameaça para a difusão do cristianismo, pela sua defesa da Ciência e do Neoplatonismo. O fato de ela ser mulher, muito bela e carismática, fazia a sua existência ainda mais intolerável aos olhos dos cristãos. A sua morte marcou uma reviravolta: após o seu assassinato, numerosos pesquisadores e filósofos trocaram Alexandria pela Índia e pela Pérsia, e Alexandria deixou de ser o grande centro de ensino das ciências do mundo antigo. Além do mais, a Ciência retrocederá no Ocidente e não atingirá de novo um nível comparável ao da Alexandria antiga senão no início da Revolução Industrial. Os trabalhos da Escola de Alexandria sobre matemática, física e astronomia serão preservados, em parte, pelos árabes, persas, indianos e também chineses. O Ocidente, pelo seu lado, mergulhará no obscurantismo da Idade Média, do qual começará a sair somente mais de um milênio depois. Em reconhecimento pelos seus méritos de perseguidor da comunidade científica e dos judeus de Alexandria, Cirilo será canonizado e promovido a Doutor da Igreja, em 1882."

E Carl Sagan nos acrescenta:

"Há cerca de 2000 anos, emergiu uma civilização científica esplêndida na nossa história, e sua base era em Alexandria. Apesar das grandes chances de florescer, ela decaiu. Sua última cientista foi uma mulher, considerada pagã. Seu nome era Hipácia. Com uma sociedade conservadora à respeito do trabalho da mulher e do seu papel, com o aumento progressivo do poder da Igreja, formadora de opiniões e conservadora quanto à ciência, e devido à Alexandria estar sob domínio romano, após o assassinato de Hipácia, em 415, essa biblioteca foi destruída. Milhares dos preciosos documentos dessa biblioteca foram em grande parte queimados e perdidos para sempre, e com ela todo o progresso científico e filosófico da época."

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Dos sacrifícios de animais até o sacrifício do homem deus

O sacrifício de Jesus pela salvação humana é o resultado de uma montagem de crenças persas e romanas com profecias dos profetas hebreus. Nem a lei mosaica nem os profeta jamais previram a substituição dos sacrifícios de animais por um sacrifício de um homem deus. Segundo a chamada Lei Mosaica, os sacrifícios animais foram instituídos para serem observados "para sempre" pelos hebreus. Os fundadores do cristianismo é que criaram essa substituição, que ganhou a convicção da maior parte do mundo. Foi após a execução de seu líder, que os cristãos inventaram o sacrifício de Jesus em substituição aos sacrifícios de animais.

Nos dias do apogeu do império assírio, um profeta de Judá predisse o surgimento um rei, que derrotaria a Assíria e traria de volta o povo de Israel que havia sido deportado, reunindo-o ao povo de Judá e estabelecendo um reino eterno. Tudo isso haveria de ocorrer quando a Assíria entrasse na terra de Judá. Assim disse o profeta:

“Mas tu, Belém Efrata, posto que pequena para estar entre os milhares de Judá, de ti é que me sairá aquele que há de reinar em Israel, e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade. Portanto os entregará até o tempo em que a que está de parto tiver dado à luz; então o resto de seus irmãos voltará aos filhos de Israel. E ele permanecerá, e apascentará o povo na força do Senhor, na excelência do nome do Senhor seu Deus; e eles permanecerão, porque agora ele será grande até os fins da terra. E este será a nossa paz. Quando a Assíria entrar em nossa terra, e quando pisar em nossos palácios, então suscitaremos contra ela sete pastores e oito príncipes dentre os homens. Esses consumirão a terra da Assíria à espada, e a terra de Ninrode nas suas entradas. Assim ele nos livrará da Assíria, quando entrar em nossa terra, e quando calcar os nossos termos. E o resto de Jacó estará no meio de muitos povos, como orvalho da parte do Senhor, como chuvisco sobre a erva, que não espera pelo homem, nem aguarda filhos de homens. Também o resto de Jacó estará entre as nações, no meio de muitos povos, como um leão entre os animais do bosque, como um leão novo entre os rebanhos de ovelhas, o qual, quando passar, as pisará e despedaçará, sem que haja quem as livre. A tua mão será exaltada sobre os teus adversários e serão exterminados todos os seus inimigos. Naquele dia, diz o Senhor, exterminarei do meio de ti os teus cavalos, e destruirei os teus carros; destruirei as cidade da tua terra, e derribarei todas as tuas fortalezas. Tirarei as feitiçarias da tua mão, e não terás adivinhadores; arrancarei do meio de ti as tuas imagens esculpidas e as tuas colunas; e não adorarás mais a obra das tuas mãos. Do meio de ti arrancarei os teus aserins, e destruirei as tuas cidades. E com ira e com furor exercerei vingança sobre as nações que não obedeceram.” (Miquéias, 5: 2-15).

E, nos dias em que Judá estava obrigado a pagar pesado tributo à Assíria para ser poupado da sorte de Israel, que vivia no exílio (II Reis, 17: 1-6), o rei Josias pretendia cumprir a profecia, mas morreu em uma batalha e não houve quem salvasse os israelitas (II Reis, 23). Doravante, os hebreus continuaram esperando que um dia esse rei surgisse. Poucos anos depois, tanto Judá quanto Israel caíram sob o poder de Babilônia (II Reis, 24: 7-14).

Até o cativeiro babilônico, o povo hebreu não conhecia a crença na ressurreição do mortos. Mas, vivendo vivendo entre os babilônios e depois entre os persas, eles adotaram a fé na ressurreição.

Como já foi dito a ressurreição dos mortos é uma doutrina cristã, herdada de judeus que, por sua vez, a incorporaram das crenças babilônicas e persas. Não é encontrada no livro da lei mosaica, não está entre os patriarcas nem entre os profetas, com exceção de Daniel, cujo livro, ao que tudo nele indica, foi criado muito tempo depois do cativeiro babilônico, e algum esboço em Isaías. Daniel é o único livro que tem uma linguagem bem parecida com a cristã. Isso nos dá a maior certeza de que a ressurreição é um produto da mente humana e não do deus dos hebreus, um ser onisciente que teria guiado um povo desde o começo do mundo.

Embora o Velho Testamento apresente casos de pessoas ressuscitadas, a lei mosaica não apresentou nenhuma promessa de recompensa em outra vida após a morte. A lei apresentou um deus severo, com promessas e ameaças nesta vida: “porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam” (Deuteronômio, 5: 9). E não prometia nada mais além do que se pudesse conceder aqui na terra: “Honra a teu pai e a tua mãe, como o senhor teu Deus te ordenou, para que se prolonguem os teus dias, e para que te vá bem na terra que o Senhor teu Deus te dá” (Deuteronômio, 5: 15).

Em relação ao pós-morte, encontramos algumas opiniões:

Jó diz: “Oxalá me encobrisses na sepultura e me ocultasse até que a tua ira se fosse, e me pusesses um prazo e depois te lembrasse de mim! Morrendo o homem, porventura tornará a viver?” (Jó, l3: 13 e 14). Era assim que ele cria: “...o homem se deita, e não se levanta: enquanto existirem os céus não acordará, nem será despertado do seu sono” (Jó, 13: 12).

Eis a resposta ainda mais clara: “Tal como a nuvem se desfaz e some, aquele que desce à sepultura nunca tornará a subir. Nunca mais tornará à sua casa, nem o seu lugar o conhecerá mais” (Jó, 7: 9, 10)

Salomão, se tiver sido mesmo o autor do Eclesiastas, não cria na existência de consciência após a morte; pois o livro atribuído a ele diz: “Pois os vivos sabem que morrerão, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco têm eles daí em diante recompensa; porque a sua memória ficou entregue ao esquecimento. Tanto o seu amor como o seu ódio e a sua inveja já pereceram; nem têm eles daí em diante parte para sempre em coisa alguma do que se faz debaixo do sol.”(Eclesiastes, 9:5, 6).

A NOVA JERUSALÉM prometida pelo profeta Isaías ainda não continha nenhuma perspectiva de ressurreição dos mortos. Era muito diferente daquela apresentada nas visões de João no Apocalipse:

“Pois eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá lembrança das coisas passadas, nem mais se recordarão: Mas alegrai-vos e regozijai-vos perpetuamente no que eu crio; porque crio para Jerusalém motivo de exultação e para o seu povo motivo de gozo. E exultarei em Jerusalém, e folgarei no meu povo; e nunca mais se ouvirá nela voz de choro nem voz de clamor. Não haverá mais nela criança de poucos dias, nem velho que não tenha cumprido os seus dias; porque o menino morrerá de cem anos; mas o pecador de cem anos será amaldiçoado. E eles edificarão casas, e as habitarão; e plantarão vinhas, e comerão o fruto delas. Não edificarão para que outros habitem; não plantarão para que outros comam; porque os dias do meu povo serão como os dias da árvore, e os meus escolhidos gozarão por longo tempo das obras das suas mãos: Não trabalharão debalde, nem terão filhos para calamidade; porque serão a descendência dos benditos do Senhor, e os seus descendentes estarão com eles. E acontecerá que, antes de clamarem eles, eu responderei; e estando eles ainda falando, eu os ouvirei. O lobo e o cordeiro juntos se apascentarão, o leão comerá palha como o boi; e pó será a comida da serpente. Não farão mal nem dano algum em todo o meu santo monte, diz o Senhor.” (Isaías, 65: 17 a 25).

Aí vemos que as promessas de Jeová, do Velho Testamento, não eram nada após a morte, mas prosperidade aqui na Terra. E a morte continuaria existindo como sempre.

No profeta Isaías, até já encontramos alguns textos falando de ressurreição, todavia não falam de uma ressurreição de todos os mortos e um juízo final como no Cristianismo: “Os falecidos não tornarão a viver; os mortos não ressuscitarão; por isso os visitaste e destruíste, e fizeste perecer toda a sua memória” (Isaias, 26: 14). “Os teus mortos viverão, os seus corpos ressuscitarão; despertai e exultai, vós que habitais no pó; porque o teu orvalho é orvalho de luz, e sobre a terra das sombras fá-lo-ás cair” (Isaias, 26: 19).

Lendo todo o texto, percebe-se que não estava o profeta falando de uma ressurreição dos mortos em um dia de juízo final como se fala no Novo Testamento; tanto que, ao se referir a Israel, fala que “teus mortos ressuscitarão” e, ao se referir aos inimigos, diz “os mortos não ressuscitarão”. Se o autor dessas palavras já cria que os hebreus fossem ressuscitar, achava que os outros povos não teriam ressurreição. Só posteriormente é que devem ter desenvolvido essa idéia de que os maus ressuscitam para serem punidos.

Por outro lado, apesar da crença expressa na lei mosaica, nos livros que seguem ao Pentateuco e na maioria dos profetas, a crença na ressurreição já aparece bem cristalizada em Daniel.

As profecias de Daniel apresentam coisas muito coincidentes com o cristianismo, e a promessa de recompensa após a morte e ressurreição. No último capítulo está escrito que, em sua última visão, disse ter recebido a mensagem angélica: “...descansarás, e, ao fim dos dias, te levantarás para receber a tua herança” (Daniel, 12: 13). Há informações de que os primeiros contatos dos hebreus com a crença na ressurreição dos mortos se deu sob os domínios babilônico e medo-persa. E o texto acima parece ter sido escrito nos dias da vitória de Judas Macabeu e restauração do santuário profanado por Antíoco Epífanes.

“O reino unificado de Judeia e de Israel teve o seu último período de esplendor com Salomão (século X a.C), após a sua morte foi o mesmo dividido. No final do século VIII a.C Israel foi conquistada pela Assíria, sendo muitos dos seus habitantes levados para a Assíria, tendo aí desaparecido, sendo hoje conhecidos como as dez tribos perdidas de Israel. O reino da Judeia manteve a sua independência a troco de um pesado tributo. Cerca de 150 anos mais tarde, os babilónios tomam a sua capital - Jesusalém -, e arrasam-na (586 a.C), levando consigo grande número de prisioneiros. No seu cativeiro na Babilónia os judeus absorveram aí muitos conceitos novos que vieram a incorporar no judaísmo: Ressurreição dos Mortos, Inferno, Demónios, Apocalipse, etc. Como dissemos, a partir de meados do séc.VIII a.C. o judaísmo entra num período de grande produção doutrinária, conhecido pela ‘tempo dos profetas’. Estes afirmam de forma clara a universalidade e unicidade de Deus.” (Carlos Fontes, Origem da Filosofia).

Está escrito que o próprio Jesus, para convencer os saduceus de sua doutrina da ressurreição, não apresentou nenhuma afirmação antiga que falasse diretamente dela, mas disse: “E, quanto à ressurreição dos mortos, não lestes o que foi dito por Deus: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó? Ora, ele não é Deus de mortos, mas de vivos” (Mateus, 22: 31,32). Por que Jesus não citou Daniel?

Inicialmente, imaginei que o autor do evangelho de Mateus não conhecesse o capítulo final de Daniel. Mas, após adquirir mais informações, tomei conhecimento de que os saduceus sempre argumentaram que não poderiam aceitar essa crença, porque ela não faz parte da lei e das promessas de Yavé aos patriarcas. Ao que nos parece, eles não têm as profecias de Daniel na conta de palavras de Yavé. Assim, só mesmo esse argumento inconsistente poderia ser apresentado.

A grande diferença que os religiosos não vêem entre o Velho e o Novo Testamento é que, no Velho, Jeová prometia prosperidade aqui na Terra, e no Novo, Jesus prometeu recompensa após a morte e ressurreição.

Compare-se a Nova Jerusalém de Isaías (Isaías, 65: 17-25) e a Nova Jerusalém de João (Apocalipse, 21 e 22).

Entre outras diferenças, na primeira, haveria muita prosperidade, mas tudo dentro na normalidade terrena, com pecado e morte; na segunda, a imortalidade e a inexistência do pecado. Não percebem que a ressurreição foi introduzida nas cabeças dos hebreus em época bem posterior ao começo da formação da Bíblia. Aí está a maior prova de que a ressurreição não procede do deus dos hebreus, mas do pensamento de outros povos entre os quais eles viveram. É algo como o deus dos hebreus ter gostado do sistema de recompensa dos deuses babilônios e persas e adotado a idéia, como um melhor meio de fazer justiça ao seu tão sofrido povo, inclusive aqueles patriarcas e profetas que não tiveram em vida essa esperança.

Mas, vivendo entre os babilônios e depois entre os persas, eles adotaram a fé na ressurreição.

Além de a ressurreição ser uma fé comum entre os persas, o zoroastrismo persa acredita (a religião ainda está viva) em céu e inferno e num salvador (o Saoshiant, que nascerá de uma virgem, ressuscitará os mortos e presidirá ao Juízo Final).

Os gregos e romanos também tinham a crença em um deus, Dionísio, que teria nascido de uma virgem, teria sido executado e ressuscitado, tendo poder de dar vida eterna a quem nele cresse.

Durante os sucessivos período de submissão a outros reinos, os hebreus tinham promessas proféticas de que em pouco tempo seu rei salvador surgiria para estabelecer aquele reino eterno. Após viverem dominados pelos babilônios e pelos persas, os hebreus caíram sob o domínio grego.

Depois da morte de Alexandre o Grande, o império grego foi dividido, mas alguns de seus sucessores perpetuaram a humilhação ao povo de Iavé. Entre esses, Antíoco Epífanes, rei da Síria, profanou o santuário de Yavé, sacrificando sobre ele carne de porco aos seus deuses, fazendo "cessar o sacrifício e a oferta pelos pecados" que era rito diário no templo de Yavé, e ainda matou o sacerdote Onias, o sumo sacerdote "ungido" como autoridade máxima de Judá, uma vez que já não havia mais reis hebreus.

Conforme relatado nos livros dos Macabeus, Judas Macabeu venceu a guerra após a morte de Antíoco, restaurando o santuário. E ao povo parecia que dessa vez o reino hebreu floresceria e dominaria o mundo.

É provável que nos dias da vitória de Judas é que tenha aparecido a profecia dos capítulo 8 a 12 de Daniel, que fala de um rei surgido da divisão do império grego que destruiria o poder do povo santo, profanaria o santuário e mataria o "ungido", referindo à execução do sumo sacerdote Onias, mas depois o santuário seria restaurado, Yavé julgaria o povo assolador e aquele esperado reino hebreu seria estabelecido.

Como na época da profecia do ungido libertador nos dias da Assíria, desta vez o reino não pôde se eternizar, e, mal aquele povo se restabelecia da humilhação de Antíoco, vieram os romanos e dominaram tudo. Talvez seja nessa época que tenha aparecido o capítulo 7 de Daniel, capítulo esse até escrito em uma outra língua, o aramaico, língua que assumia o lugar do hebraico. No capítulo 7, novamente se fala de grande tribulação, "destruição do poder do povo santo", mas o autor do assolamento já parecia ser alguém do império romano, representado pelo quarto animal, o último dos poderes gentios.

Nos dias do império romano, vários heróis se levantaram pretendendo dar cumprimento às profecias libertando os hebreus, mas todos sucumbiram. Os próprios escritos cristãos registram que, além de Jesus, "Judas" e "Teudas" tentaram esse salvamento e morreram também (Atos, 5: 34-39).

À falta de registros sobre Yeshua (Jesus), nos vem até a hipótese de o nome "Yeshua" ou "Iesus" ter sido inventado para algum desses aventureiros posteriormente. Pois ninguém dos historiadores daqueles dias escreveu sequer uma linha sobre um herói judeu chamado Yeshua ou Yehoshua; além do que, segundo comentário que já li, nos manuscritos do Mar Morto há informação de que os essênios esperavam um salvador chamado Jesus. Como é muito evidente que os cristãos primitivos realmente tiveram seu líder executado pelos romanos, pode ser que eles tenham usado esse nome existente na crença dos essênios.

Acreditando na ressurreição dos mortos, doutrina assimilada dos babilônios e persas, crendo nas palavras de seus profetas, que prometiam um libertador, e conhecendo as crenças dos romanos, cujo deus havia nascido de uma virgem, sido executado e ressuscitado, e também adeptos da crença persa em um libertador que nasceria de uma virgem, ressuscitaria os mortos e presidiria o juízo final, esse grupo judeu com certeza passou a crer que seu líder era esse deus. Provavelmente, o próprio líder, na iminência da execução, tenha dito convictamente que ressuscitaria e voltaria para julgar todos aqueles que o levavam à morte e reinar com os seus seguidores.

Com toda essa base ideológica, esses religiosos passaram a pregar ao mundo que seu líder era o "cristo", correspondente grego do hebraico "mashiah", que significa "ungido", e que esse ungido iria ressuscitar e retornaria brevemente para aniquilar o Império Romano e estabelecer um reino justo, onde não haveria mais sofrimento; e posteriormente, devem ter mudado para a versão atualmente conhecida, de que ele ressuscitou alguns dias depois da sua execução. Evidência dessa progressiva mudança é a inexistência de qualquer registro na época a respeito de um povo que afirmasse que seu líder executado teria ressuscitado. Com o passar dos anos, escreveram muitos relatos que chamaram de "evangelhos" (“boas novas"), onde surgiram as curas de cegos, surdos, mudos, aleijados, endemoninhados (loucos), ressurreições de mortos, etc.

Sabemos que, se houvesse um homem capaz de fazer um cego enxergar ou um aleijado adquirir normalidade física, tais coisas jamais ficariam no anonimato. E ninguém fora do meio cristão conheceu tais prodígios, o que é mais uma evidência de que são lendas. Como nas profecias de Isaías há referência a uma virgem tomada por mulher pelo profeta e gerando um filho (Isaías, 7: 14-17), esse texto foi a base para o mito de que o referido ungido teria nascido de uma virgem (Mateus, 1: 23).

Como a referência a Antíoco nos capítulos 8 a 12 de Daniel fala da cessação do "sacrifício" e da "oferta de manjares" e morte do "ungido" (alusão à execução do sumo sacerdote Onias), criou-se a idéia de que aquele texto tivesse falando da morte de Jesus e que esse Jesus teria sido morto como um sacrifício pelos pecados do mundo e que o sacrifício de animais teria sido abolido com sua morte.

Em nenhum lugar nas escrituras sagradas hebraicas (lei mosaicas, profetas, etc.) há promessa de substituição dos sacrifícios de animais por outro sacrifício, mas os cristãos criaram essa doutrina e ela dominou o mundo. O sacrifício de Jesus pelos pecados foi simplesmente essa adaptação dessa diversidade de crenças com diversos texto descontextualizados. Aquele conceito primitivo de que para acalmar os deuses era necessário derramar sangue, levou ao outro, mais absurdo, de que o verdadeiro deus precisou de derramar o sangue do próprio filho para perdoar os pecados do homem.