quinta-feira, 17 de maio de 2012

Um equívoco epistemológico


Todas as culturas produziram religião. As religiões respondem a necessidades fundamentais da humanidade. Dentro delas elaboram-se maneiras de enfrentar as chamadas grandes questões existenciais da humanidade: de onde viemos? Porque vivemos? O que acontece conosco ou para onde iremos após a morte? E existe alguma força que interfere no curso de nossas vidas pessoais e coletivas? As religiões ajudam as culturas a elaborarem sentidos para sua existência de forma a permitir a convivência social, a fornecer identidade e dignidade para os grupos humanos.
As religiões nascem e se desenvolvem a partir de práticas e propostas significativas para um determinado grupo de pessoas. Aparecem como uma coisa boa. Nascem de uma experiência de vida, de promoção da vida, de resgate da dignidade, de libertação, ou de paz e salvação. Surgem possibilitando uma elevação do patamar da qualidade de vida.
Mas, se é assim, porque a história nos relata tantos massacres e tantas guerras promovidas em nome de religiões? Aqui não estamos pensando nem abordaremos todas as religiões de modo genérico. Trataremos principalmente das três principais religiões de matriz semita que estão mais recentemente ocupando os noticiários e também são as que chegaram mais próximo de nós: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. Moisés, Jesus e Maomé. Não falaremos diretamente das religiões dos povos nativos do Brasil e do continente americano, nem das religiões africanas e afro-brasileiras. Mas podem ser consideradas indiretamente, já que muitas vezes na história, estas religiões foram atacadas e suas culturas e seus povos foram destruídos por representantes das religiões semitas. Mas se as religiões nascem como coisas boas para o povo, como "boas notícias", o que acontece no desenvolvimento e na compreensão das religiões para que elas passem a legitimar ataques, violências, até a morte, a guerra e a destruição de outros povos? Geralmente nos referimos a estas manifestações mais radicais como manifestações de "fundamentalismo". Mas precisamos também ter em mente que nem todo fundamentalismo expressa-se de formas truculentas e agressivas, e que ao falar sobre o fundamentalismo devemos utilizar o conceito no plural, uma vez que "existem diferentes fundamentalismos conforme os diferentes contextos culturais e religiosos em que nasceram e actuam os movimentos, grupos e organizações extremistas."1
Um equívoco epistemológico
Em primeiro lugar é necessário uma tomada de posição no sentido epistemológico. As religiões precisam ser compreendidas, também pelos seus próprios membros, de forma crítica, assumindo
"conscientemente a evidência de que o ser humano e nenhum nível, tampouco em nível de conhecimento pode pretender ser o sujeito possuidor de um ponto de vista absoluto. Essa pretensão é absurda e contraditória. A condição insuperável da finitude faz dela uma ilusão impossível. [...] Na religião, como em qualquer outra área da experiência do conhecimento do ser humano, a finitude humana significa um estar obrigado ao exercício ou para a práxis da tolerância, que é também um exercício da escuta e da tolerância do outro." 2
Fornet-Betancourt segue afirmando que é um fato indubitável
"que toda a cultura desenvolva sistemas referenciais próprios que se condensam em tradições que, por sua vez, sirvam como fronteiras para tudo o que resulta familiar e compreensível no interior dessa cultura. Não obstante esse fato de que uma cultura possa prover o ser humano que nela nasce de um horizonte com sentido, não suprime a condição de finitude. Esse horizonte é o horizonte de um ‘umbral' cultural, quer dizer, da ‘fronteira' traçada pelas experiências de uma grupo humano. Por isso nenhuma cultura pode pretender ignorar essa condição da finitude, e elevar sua tradição, seus sistemas de referências etc. à categoria da tradição humana sem mais. Nenhuma tradição humana pode dizer de si mesma que é a tradição humana." 3
Uma das causas da intolerância e da violência legitimadas com leituras para a guerra de seus referenciais religiosos é sem dúvida o esquecimento desta condição, principalmente no discurso que impera dentro de largos setores das religiões acima mencionadas. No caso do cristianismo isto acontece também porque "o ocidente, a partir de sua expansão sistemática desde 1492, não se entende como uma região, mas como eixo da história universal, e confunde desde então o universal com sua própria tradição."4 Mas outra causa esta relacionada com a posse de um livro sagrado, considerado "a Palavra de Deus", e ao qual se faz constante referência.
Livro sagrado: livro que salva, livro que mata
O que ocorre, pelo menos nas três religiões aqui analisadas, é que elas possuem um livro sagrado, uma Palavra de Deus. Por isso são também conhecidas como "religiões do livro". Sucede que ao longo de suas histórias, judaísmo, cristianismo e islamismo, elaboraram livros e num determinado momento estes livros foram ungidos com caráter de santidade e foram instituídos como livros sagrados. Este é outro aspecto que precisa ser muito bem pesado na questão que nos propomos analisar. Livros, mesmo aqueles escritos por uma só pessoa em um curto espaço de tempo, são por si só obras polissêmicas, abertas a várias possíveis linhas interpretativas. Quanto mais o serão a Bíblia Hebraica, a Bíblia Cristã e o Alcorão, posto que devem o texto com que atualmente apresentam-se para nós ao trabalho redacional de incontáveis autores por períodos de tempo que variam entre meia centena de anos (Alcorão), mais ou menos três séculos (Bíblia Cristã) e quase um milênio (Bíblia Hebraica). Além disso, no círculo hermenêutico devem ser consideradas também todas as possíveis contextualizações a partir das quais estes textos são lidos. Assim um livro como o Alcorão, por exemplo, pode ser lido
"como um texto que fala de Deus e das coisas que um ser humano tem que fazer para estar em harmonia com Sua vontade; como um código normativo válido para as organizações sociais; como um texto de antropologia e de cosmologia; como um tratado de filosofia da história; e, por fim, como o código lingüístico fundamental da nova língua, o árabe." 5
Mas a existência de um livro sagrado e a relação muito específica que se estabelece entre o crente e o livro é um aspecto decisivo. Pois
"a existência de um livro sagrado e a relação particularíssima que se vem a criar entre o crente e o livro são aspectos que contribuem decididamente para uma definição mais precisa do perfil deste movimento religioso. De facto, só podemos falar de fundamentalismo quando estão presentes os seguintes elementos:
crença no princípio da inerrância do conteúdo do livro sagrado, sendo este último assumido no seu todo como uma totalidade de sentido e de significados que não podem ser seleccionados (eliminando, por exemplo, as partes mitológicas e aceitando as que apresentam, simultaneamente, uma validade histórica e universal) e interpretados livremente pela razão humana sob pena de uma deturpação da verdade que o livro sagrado contém;
assunção do princípio da astoricidade da verdade e do livro' que a conserva; astoricidade significa que a razão não tem poderes para perspectivar historicamente a mensagem religiosa nem deve ousar adaptá-la as novas condições que se vão produzindo no decurso dos tempos;
baseado nos dois anteriores princípios, a crença de que é possível deduzir do livro sagrado um modelo integral de sociedade perfeita - superior a qualquer forma de sociedade humana existente, conforme o princípio da superioridade da lei divina sobre a lei terrena - pois a soberania política é legitimada somente pela soberania divina;
por fim, a referência a um princípio absoluto estimula a imaginar a possibilidade de decalcar a «cidade terrena» sobre o modelo ideal de sociedade apresentado nolivro sagrado, numa tensão entre o presente e o passado que atribui ao primado do mito da fundação da identidade de um grupo, ou de um povo inteiro, a função simultânea de assinalar o carácter absoluto do sistema de crenças a que cada crente deve aderir e o sentido profundo de coesão que une todos aqueles que a ela pertencem (a ética da fraternidade).6
Esta longa citação se impôs porque, segundo Pace e Stefani, "estes quatro elementos constituem as características distintivas do fundamentalismo e, por isso, podemos assumi-los como quadro que permite uma definição suficientemente ampla capaz de abarcar as várias formas do fenômeno em questão."7
Livro Sagrado: antes de tudo fruto da história humana
Acontece que estes livros permitem leituras para a paz como permitem leituras para a guerra por que nasceram dentro da história humana e são, por isso, marcados pelas virtudes e pelas sombras da humanidade.
Assim leituras para a guerra são também possíveis porque já no próprio processo de constituição tanto destas religiões como de seus livros, em certos estágios elas são apropriadas por determinados grupos sociais que as integram dentro de um projeto de poder. Num primeiro momento essas religiões existem no meio dos seus povos como tradição oral, viva na memória, nas histórias, nas práticas e nas instituições de suas sociedades. Nesse momento não estão ligadas a estruturas estatais, monárquicas e ou imperiais. Mas depois serão integradas dentro da organização sócio-política de um estado e/ou império. O que acontece é que será somente nesse estágio que essas religiões começam a ser codificadas em textos escritos. É nessas condições que a religião que circulavas entre o povo nas tradições orais ganhará expressão escrita. Torna-se livro. Na forma de livro, escrita, lei do rei, do estado, do imperador, a religião passará a desempenhar outros papéis, será, porém, orientada por uma hermenêutica do poder e para o poder. É claro que a codificação escrita não mata, não esgota e nem faz desaparecer a religião viva nas histórias orais e na memória do povo, que a instituiu, antes da escrita, como uma palavra boa, como uma Palavra de Deus, como uma religião. O que acontece é que estas duas formas dessas mesmas religiões coexistem, não só no meio do povo, mas também no corpo dos escritos. Coexistem nos textos, ora colidindo, ora competindo, ora excluindo uma a outra. Coexistem porque o livro para ser sagrado precisa nutrir-se do sagrado instituído antes pelo povo, precisa permitir que o povo se reconheça, se identifique com as palavras escritas, senão não terá a força almejada. Assim os textos sagrados, e a história destas três grandes religiões são como que atravessados por dois riachos de águas abundantes: de um deles, porém, se tiram águas para a guerra, do outro se tiram águas para a paz e para a vida.
Moisés
No caso da religião de Israel, embora o livro sagrado, inicie com a narrativa da criação do mundo, o surgimento do povo e da fé de Israel está ligado com o que ficou conhecido como o Êxodo: a libertação dos escravos da opressão do faraó do Egito. Hoje se sabe que se, por um lado, o grupo dos escravos que se libertaram da opressão egípcia não foi tão grande como se pode inferir de uma leitura mais apressada e superficial dos textos bíblicos - que fala em 600.000 homens, sem contar as mulheres e crianças, além de uma mistura de gente (Ex 12, 37-38) - por outro lado essa história apresenta-se grandiosa, engrandecida, inchada por conter dentro de si, nas linhas e entrelinhas muitas outras histórias de opressão e libertação. A história dos escravos tornou-se o paradigma preferido para denunciar processos de opressão e para contar experiências de libertação. Assim dentro do que hoje conhecemos como o "Êxodo" temos, por exemplo, também a experiência dos milhares de camponeses cananeus que se libertaram da exploração a que duplamente estavam submetidos nas mãos dos reis cananeus sob o poder do império egípcio. Estes, sem nunca terem pisado no Egito, também foram libertados da opressão egípcia, pois a terra de Canaã estava submetida ao império dos faraós.
Uma nova experiência de Deus
Esta experiência de libertação foi interpretada como fruto de uma intervenção de Deus. Um Deus completamente diferente dos outros deuses conhecidos. Um Deus dos oprimidos, que vê a miséria, ouve o clamor, conhece o sofrimento e desce para libertar os oprimidos (Ex 3,7-8). Essa experiência de Deus foi radicalmente diferente de todas as outras experiências de Deus que conheciam na época. Os Deuses mais poderosos, vencedores eram os deuses dos reis cananeus, dos faros egípcios. Havia entre os Deuses uma hierarquia semelhante a que havia entre as pessoas. Não se conhecia nenhum Deus libertador dentro das teologias até então existentes. Os escravos do Egito é que são portadores desta revelação: Existe um Deus contrário à opressão e à exploração. Um Deus que milita para libertar os oprimidos. Essa experiência de Deus é a pedra fundamental para a constituição de Israel, que se concretizará, após a derrubada das cidades-estado cananéias e com a libertação dos camponeses cananeus, no estabelecimento de uma sociedade tribal. Nas tribos a terra e o poder são partilhados, e nelas as relações são mediadas por leis coerentes com o espírito do Deus libertador, leis que impedem o acúmulo de terras e bens, a opressão e a exploração, e que promovem a solidariedade.
A Monarquia apropria-se do Deus dos camponeses
Israel tribal existe mais ou menos desta forma, sem poder centralizado, entre os anos 1250-1050 a.C. E entre 1050-950 a.C. processos de acumulação de riquezas e poder militar rompem essa sociedade, fazendo surgir uma elite que institui a monarquia e consolida as relações assimétricas. Pela longa duração desse processo podemos ver que ele não aconteceu sem resistência. A monarquia significa uma centralização de poder, que se faz explorando o trabalho e a produção dos camponeses. Estes são obrigados a entregarem parte de sua produção agro-pastoril, suas filhas e filhos para trabalharem nas obras e guerras decididas pela corte (1Sm 8,11-17). Essa grande modificação introduzida na sociedade exige uma legitimação, que será buscada construindo um grande templo ao Deus libertador a antiga cidade cananéia de Jerusalém e codificando uma teologia, uma espiritualidade e uma liturgia oficial a partir do culto mais importante entre as tribos, o culto ao Deus YHWH. E dali em diante Israel terá duas principais vertentes teológicas: uma a que vem da libertação e da partilha da terra, viva na memória, nos vários santuários tribais e entre as organizações camponesas remanescentes do tribalismo que, de tempos em tempos, é retomada e reapresentada pelos profetas; outra, a teologia oficial da corte e do Templo de Jerusalém, dos sacerdotes, escribas e funcionários do rei. É então somente a partir da instalação da monarquia, principalmente com Davi e Salomão que a Bíblia começará a ser escrita. Estas duas teologias estão entrelaçadas nos textos sagrados do Judaísmo.
Jesus
Algo semelhante sucede no movimento de Jesus. Jesus, como um reformador da fé de Israel busca resgatar os princípios e as práticas que deram origem ao povo de Israel. Bebe, inspira-se na vertente popular do Deus libertador do Êxodo, na partilha da terra e do poder experimentado no tribalismo, presentes nas mais genuínas tradições de Israel. De mãos dadas com os profetas de Israel, busca superar o legalismo, o ritualismo que se haviam instalado em Israel. Resgata as práticas de solidariedade acolhendo a pessoas pobres, doentes que por serem consideradas impuras eram excluídas do convívio social. Ataca as elites que desta forma se auto-legitimavam como justas e puras e cumpridoras da vontade de Deus. Anuncia o julgamento de deus para as elites e o Reino de Deus para os pobres. Seus seguidores organizados em pequenas comunidades domésticas nas periferias das grandes cidades do império romano, traduziram a proposta de Jesus para este contexto criando comunidades de partilha do pão, resgatando a dignidade dos pobres, dos sem-terra, sem-lugar, sem cidadania, sem-liberdade. Comunidades reunidas em torno de mesas onde se desfaziam todas as hierarquizações e discriminações existentes tanto nas comunidades judaicas mais tradicionais como na sociedade greco-romana em geral. Ali já "não se distingue mais o judeu do grego, o homem da mulher, o senhor do escravo" (Cf. Gl 3, 27 e 28). A mesa do pão partilhado, em nome do pai e do filho, torna a todos irmãos no mesmo espírito do Deus libertador, e a partir dela cresce uma ética que deve invadir todas as relações que perfazem o cotidiano dos seguidores e seguidoras de Jesus. Começam a viver concretamente aqui e agora os sinais do que será o Reino de Deus. Assim o cristianismo cresce e se espalha por todo o império. Para reforçar e defender esta prática surgem os escritos que comporão o novo testamento.
Porém dentro do cristianismo, emparedado pelas perseguições contra ele movidas pelo império romano no final do primeiro e no segundo século, crescem algumas correntes que acentuam o patriarcalismo, o espiritualismo e o ritualismo, onde a ética que o distinguia do império se desvanece, correntes que estão prontas para aceitar o imperador em seu meio, e assim certa linha do cristianismo, mais ou menos em torno do ano 400 d.C., torna-se a religião oficial do império romano. A partir dessa aceitação começamos a ter também duas formas de ver o cristianismo. Uma, mais coerente com a vida de Jesus e das primeiras comunidades e outra, instituída e organizada a partir do poder e integrada nos projetos de poder do império romano.
Um pouco diferente do processo do judaísmo é a questão dos escritos. Os escritos do Novo Testamento a estas alturas já estava elaborados. Mas a influência de Constantino se fará sentir na definição do Cânon cristão, na ordem dos livros dentro dele, e principalmente na estruturação do poder e da hierarquia dentro da igreja romana, e na elaboração teológica e na codificação doutrinal que se fará dentro desta nova hermenêutica cristã.
Essas duas vertentes perpassam a Bíblia e adentram na história cristã. Numa alinham-se os profetas, Jesus, e a fraternidade da mesa partilhada na igreja primitiva; da outra provêm a exigência dos sacrifícios, oferendas e tributos, o legalismo e o ritualismo que excluem os pobres e beneficiam e justificam as elites. Embora se refiram a um mesmo Deus, os conflitos entre eles revelam que seus Deuses são diferentes. Entretanto, estas diversas leituras incorporam-se ao texto bíblico e às teologias e fundamentam e possibilitam as várias leituras bíblicas para a paz e para a guerra existentes.
Maomé
Também no Islamismo se pode notar um hiato entre o "Alcorão oral" e o "Alcorão escrito". Em outras palavras, entre aquilo que através da viva voz do profeta foi considerado revelação de Deus; e a fixação do cânon da vulgata oficial escrita do Alcorão.
Maomé, nascido em torno de 570 d.C., órfão muito cedo tem uma infância miserável, é criado por um tio, onde com dificuldades torna-se mercador. Depois casa-se com Khadija, rica herdeira de dois casamentos anteriores, com ela Muhamad tem vários filhos, que morrem precocemente, e umas quatro filhas, entre as quais Fátima, que era a sua predileta. Este casamento dá a Muhamad uma posição social e também mais tempo para si. Assim, os relatos referem-se á suas primeiras experiências extáticas quando tinha em torno de 35 anos de idade. Os habitantes da Península árabe adoravam muitos deuses e deusa e estavam separados por diversas crenças concorrentes, além de entre eles haverem seguidores do Judaísmo e também do cristianismo. Essa diversidade de divindades e crenças, aliadas às diferenças sociais, à diversidade de interesses políticos e comerciais, tornava o mundo árabe uma enorme colcha de retalhos, altamente compósito, fragmentado, dilacerado e hierarquizado, fraco e dominado na relação com os povos vizinhos. Mas esta diversidade era fonte de lucro para a oligarquia que controlava a cidade de Meca, entregue ao comércio, ávida de lucros e prazeres. No meio de um povo sem identidade definida, dividido e sem força, situação que a alguns beneficiava, mas que para a maioria era causa de submissão e pobreza, Maomé começa a pregar a igualdade, o amor, o repúdio à usura e a certeza de uma vida melhor no além-túmulo para quem assim procedesse.


Nesse ambiente a pregação de Maomé é marcada por uma solidariedade ética que decisivamente ultrapassava os limites das tradicionais pertenças étnicas, clânicas e religiosas. Irmanam-se frente a Deus e a suas leis. Atraía sobretudo os descontentes com as injustiças sociais e desgostosos com as práticas das classes dominantes. Esta pequena comunidade ao ser ameaçada pelos grupos que não aceitam a nova proposta apresentada por Maomé, defende-se, inclusive militarmente. Isso já acontece após a Hégira, migração de Meca para Yathrib, depois será chamada de al Madinat - Medina, a cidade. Também assim haviam agido as tribos de Israel.
Apesar de muitos percalços e perigos Maomé se fortalece e sai vitorioso e em 630 chega ao poder em Meca. Longe de mostrar-se vingativo com aqueles que o combateram, age com moderação e magnanimidade perdoando inclusive chefes dos seus inimigos. Embora tenha destruído cerca de trezentos dos ídolos adorados em Meca, e proibido a reprodução das formas humanas, procurou modificar o menos possível os rituais religiosos, inclusive mantendo a peregrinação anual e o caráter sagrado da Caaba, incorporando assim o principal rito árabe pagão ao islamismo, e designando Meca como o novo ponto focal da oração muçulmana, dessa forma deixou de ser um dissidente para tornar-se um reformador que cheio de amor por sua cidade natal resolveu purificá-la e fazer dela o centro social e religioso do Islam.
Maomé morre em 8 de junho de 632. E é só depois de sua morte que se coloca a questão da sistematização da palavra sagrada num texto definitivo. Maomé não deixou nada escrito de seu próprio punho. A redação do Alcorão ocorrerá somente depois de sua morte, entre os anos 644-656, em um momento preciso no qual a estrutura do califado começa a mudar de estatuto para se tornar a estrutura de poder de poderosas famílias dinásticas. Os 114 capítulos (em árabe: suras) são tradicionalmente divididos entre os que remontariam ao período inicial do profeta em Meca e outros que derivariam de Medina. No texto a ordem está invertida com relação a ordem histórica que foi de Medina para Meca. Da mesma forma como na Bíblia as coisas não são tão pacíficas como parecem. A organização dos textos reflete um plano coerente com as necessidades de um poder que sente a exigência de fundamentar a autoridade às novas organizações sociais e políticas que estavam sendo criadas.
Os capítulos que seriam oriundos de Meca refletem a condição extática do profeta, numa linguagem profética cifrada, típica, reforçando mais os aspectos de uma religião de liberdade individual. E nos de Medina, predomina a forma de artigos de um código jurídico, em linguagem prescritiva, tanto para o ambiente jurídico quanto para o ambiente ritual, com o intuito de padronizar o comportamento das pessoas, funcional aos aparelhos de poder do tempo em que o Texto sagrado é redigido e dotado da unção oficial. Mas aí já começam também os tempos de império e de violência
Concluindo
Para um mundo de convivência fraterna entre os povos, onde predominem as leituras dos textos sagrados para a paz muito ainda há por avançar. É claro que não é só uma questão de mudança de hermenêutica, mas sem dúvida esta mudança é fundamental. Igualmente uma auto-compreensão menos arrogante, historicamente situada, de nossas tradições religiosas, o reconhecimento dos erros e um pedido de perdão pelas violências cometidas. Entretanto a efetividade destas atitudes se verificará com o desmantelamento das estruturas e doutrinas que tornaram possíveis e aceitáveis estas violências no passado. Se este desmantelamento não ocorrer o pedido de perdão será inócuo, pois as atitudes violentas continuarão aninhadas nos velhos suportes e neles encontrarão apoio para suas novas estocadas. É preciso contemplar no mistério da Vida este grande mistério ao qual a humanidade dá muitos nomes. Não devemos adorar um Deus tão pequeno que possa que caiba totalmente dentro de nossos livros sagrados, ou de nossas culturas e religiões. Quando se perde a noção do mistério acaba a humildade, entra a prepotência e vai se acabando a humanidade, porque afinal de contas humildade e humanidade tem ambas raiz na finitude do húmus. Mas acima de tudo esta atitude de superioridade nos leva a sermos algozes da vida, na inferiorização do outro, da outra, sejam estes humanos ou não, e não permite que experimentemos com profundidade o prazer se ser aprendizes e co-autores da grande sinfonia da vida em toda a sua tremenda e complexa diversidade.
Referências Bibliográficas
FORNET-BETANCOURT, Raúl, Religião e interculturalidade, (Tradução de Antônio Sidekum), São Leopoldo : Sinodal/Nova Harmonia, 2007.
PACE, Enzo, Sociologia do Islã. Fenômenos religiosos e lógicas sociais, (Tradução de Ephraim Ferreira Alves), Petrópolis : Vozes, 2005.
PACE, Enzo, STEFANI, Piero, Fundamentalismo religioso contemporâneo. Raízes islâmicas, protestantes, hebraicas, induístas (sic!). Leitura fundamentalista da Bíblia. (Tradução de José Jacinto Correia Serra), São Paulo : Paulus, 2002.
KAMEL, Ali, Sobre o Islã. A afinidade entre muçulmanos, judeus e cristãos e as origens do terrorismo. Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 4ª impressão, 2007.

" Em verdade, em verdade te digo: Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus"



O batismo é um assunto importante nas Escrituras. Muitos textos mostram que o batismo está intimamente relacionado com outros temas fundamentais do evangelho. Quando Jesus encarregou 
os apóstolos da Grande Comissão, ele fez o batismo ser um elemento central da mensagem que eles deveriam pregar ao mundo: "Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas cousas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos as dias até à consumação do século" (Mateus 28:18-20). Quando Paulo apresentou os sete fundamentos da unidade cristã, o batismo era um deles: "Há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos" (Efésios 4:4-6). Você pode perceber a importância do batismo por causa da sua ligação com aqueles outros elementos vitais do cristianismo. Infelizmente, poucos entendem o que a Bíblia afirma acerca da relação entre batismo e salvação. O objetivo deste artigo é mostrar que o batismo é um requisito para a salvação.



As Escrituras ensinam que há vários requisitos para a salvação: a graça de Deus, o amor de Deus, o sangue de Cristo, o ouvir a palavra, o arrependimento, a confissão, a fé, a obediência, etc. Nenhum dos elementos acima salva sozinho; todos são, no entanto, imprescindíveis. Em meio a tudo o que o homem tem que fazer para ser salvo está o batismo. Ninguém pode ser salvo sem fé, sem a graça de Deus, sem o sangue de Cristo, sem o arrependimento, etc., mas também não pode ser salvo sem o batismo. O batismo é um dos vários requisitos indispensáveis para a salvação.



O Batismo é Necessário para a Salvação



Marcos 16:16­ "Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado." O texto é claro. É necessário que creiamos e sejamos batizados. Alguns acreditam que o batismo não é essencial porque na segunda metade do versículo Jesus não disse que aquele que não crê e não é batizado será condenado. A questão obviamente é se queremos ser salvos ou condenados. Para sermos salvos duas coisas são necessárias: a crença e o batismo. Para sermos condenados basta uma: a descrença. Examine este paralelo: quem for contratado pela fábrica e trabalhar esforçadamente receberá a promoção; quem não for contratado não receberá a promoção. Na verdade, não importa quão arduamente um homem trabalhe, se nunca for contratado, certamente não receberá a promoção.


João 3:5­ "Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus." Não é possível entrarmos no reino do céu sem nascermos de novo da água e do espírito. O único nascimento pela água de que falam as Escrituras é o batismo (veja Romanos 6:3-4). Nascer do espírito diz respeito à transformação espiritual que devemos experimentar. Sem o batismo das águas e sem a mudança espiritual, é impossível entrarmos no reino.

Atos 2:38­ "Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo." O contexto aqui é muito importante. Pedro tinha acabado de pregar um sermão no qual acusava os que o ouviam de haverem assassinado ao Senhor. Seus ouvintes perguntaram o que tinham que fazer então para serem salvos. Pedro mandou que se arrependessem e fossem batizados para receber o perdão dos pecados e o dom do Espírito Santo. Sem arrependimento e sem batismo, permanecemos perdidos, sem perdão.



Atos 22:16­ "E agora, porque te demoras? Levanta-te, recebe o batismo e lava os teus pecados, invocando o nome dele." Esse texto nos mostra como invocar o nome do Senhor e ser salvo. Certamente devemos invocar o nome do Senhor para sermos salvos (Romanos 10:13; Atos 2:21). Mas isso significa mais que simplesmente gritar "Jesus" (Mateus 7:21-23; Lucas 6:46; Atos 19:13-16; Romanos 10:1-3). Invocar o nome do Senhor significa voltar-se para ele e submeter-se a ele para receber a salvação. O modo pelo qual fazemos isso é para ser batizados e lavar os pecados. Uma vez que não é possível sermos salvos tendo ainda o pecado e uma vez que o batismo é exigido para ser lavado dos pecados, fica claro que o batismo é necessário para a salvação.



Romanos 6:3,4­ "Ou, porventura, ignorais que todos nós que fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida." Essa passagem compara o batismo do cristão com a morte, o sepultamento e a ressurreição de Cristo. Jesus morreu. Nós temos que morrer com respeito ao pecado. Jesus ressuscitou; devemos também ressurgir do nosso sepulcro do batismo para vivermos uma vida nova. Está claro que a nossa nova vida segue o nosso batismo. Como não se enterra ninguém vivo, mas sim os mortos, assim também os batizados são aqueles que estão mortos no pecado e não os que já estão vivos em Cristo. A vida nova é recebida após o batismo.



1 Pedro 3:21: "A qual, figurando o batismo, agora também vos salva, não sendo a remoção da imundícia da carne, mas a indagação de um boa consciência para com Deus, por meio da ressurreição de Jesus Cristo." O batismo compara-se ao dilúvio dos dias de Noé. O dilúvio salvou a Noé da corrupção e da perversidade do velho mundo. O batismo nos salva da corrupção e do pecado de nossa velha vida. Uma vez que o texto afirma que o batismo nos salva, a questão é indiscutível. 



Objeções



"O batismo não é batismo de fato." Algumas pessoas tomam os textos acima e tentam desidratá-los, dizendo que não se referem ao batismo nas águas. Isso é difícil fazer de forma convincente. João 3:5, por exemplo, afirma claramente: "nascer da água e do espírito". As pessoas tentaram dar toda sorte de significados à água nesse texto. Algumas dizem que Jesus estava falando do nascimento físico e que a água é o líquido amniótico de que tratamos quando dizemos que rompeu a bolsa d'água de uma grávida. Mas seria um pouco estranho que Jesus dissesse a homens vivos que eles tinham de nascer de novo fisicamente para entrar no reino dos céus. Informar Nicodemos que precisava nascer fisicamente para entrar nos céus era visivelmente desnecessário; isso obviamente já havia ocorrido! No contexto, Jesus mostrou categoricamente que estava falando de um nascimento espiritual e não físico. Foi Nicodemos, não Jesus, que imaginou entrar de novo no ventre da mãe para nascer. Alguns dizem que água em João 3:5 significa a palavra. Mas isso é arbitrário. Podemos dizer que água significa qualquer coisa ­ iogurte, por exemplo ­ e ensinar que as pessoas devem ser batizadas no iogurte para ser salvas! Mas Jesus disse água, e não há por que mudar isso.



Deve ficar claro que 1 Pedro 3:21 se refere ao batismo nas águas. No contexto, ele estava falando sobre como o mundo dos dias de Noé se encheu de água. Alguns defendem a idéia de que Noé foi salvo das águas e não pelas águas. O ponto do contexto, entretanto, não é a preservação de Noé na arca, mas sua salvação pela água do pecado do mundo.



Alguns tentam interpretar essas passagens como se fosse uma referência ao batismo com Espírito Santo. É verdade que a Bíblia menciona o batismo do Espírito Santo. Há, no entanto, diferenças significativas entre o batismo nas águas e o batismo do Espírito Santo que devem deixar claro a qualquer estudioso qual é qual. O batismo do Espírito Santo era uma promessa, nunca uma ordem (observe Atos 1:4-5,8). Se um batismo é ordenado, sabemos que não se trata do batismo do Espírito Santo. Com base nisso, Atos 2:38 e Atos 22:16 têm que referir-se ao batismo nas águas. Cristo é quem batizava com o Espírito Santo, não o homem. Se o batismo tratado é um batismo feito por homens, sabemos tratar-se do batismo nas águas. Por essa razão, Marcos 16:16 deve referir-se ao batismo nas águas (veja Mateus 28:18-20; Marcos 16:15-16). Romanos 6:3-4 é o batismo nas águas porque implica um sepultamento e uma ressurreição para uma nova vida.



"A salvação não é salvação de fato." Às vezes as pessoas negam que esses textos realmente ensinem que o batismo é essencial para a salvação. Com muita freqüência, fazem-no com Atos 2:38: "Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo". Dizem que a expressão "para remissão dos pecados", no grego, significa ser batizado porque os seus pecados já foram perdoados e não para receber o perdão dos pecados. O interessante é que a mesma expressão, tanto em português quanto em grego, é usada em Mateus 26:28: "Porque isto é meu sangue, o sangue da nova aliança, derramado em favor de muitos, para remissão dos pecados". O sangue de Jesus foi vertido para remissão dos pecados. Teria seu sangue sido derramado porque os nossos pecados já haviam sido perdoados ou para recebermos o perdão? Sem dúvida, para recebermos. Atos 2 já em si afirma que devemos arrepender-nos e ser batizados para o perdão. Se devíamos ser batizados porque os nossos pecados já foram perdoados, então o arrependimento também se daria porque já recebemos a remissão dos pecados. Sabemos, porém, que o arrependimento é um requisito para recebermos o perdão; também o batismo.



"Salvos pela fé." Muitas pessoas fazem vistas grossas a todos os textos que tratam do batismo ao tentarem decidir se o batismo é ou não imprescindível para a salvação. Elas ressaltam os versículos bíblicos que ensinam que somos salvos pela fé (João 3:16; 5:24; Atos 16:31; Romanos 5:1; 10:9-10, etc.). Sem dúvida somos salvos pela fé. A Bíblia deixa isso bem claro. Mas esse fato nada fala sobre o batismo ser ou não também necessário para a salvação. Somos salvos por Cristo (Romanos 5:9-10), mas isso não significa que a fé seja dispensável. Somos salvos pelo arrependimento (Atos 3:19), mas isso não invalida a graça de Deus. Mateus 5:9 ensina que somos salvos por sermos pacificadores, mas isso não nos autoriza a descartar a fé, o arrependimento e o batismo, crendo que o fato de sermos pacificadores seja em si o que nos vai salvar. Se desejo saber sobre a relação que há entre o batismo e a salvação, devo estudar os textos que tratam do assunto do batismo e da salvação. Os textos que abordam a relação entre a fé e a salva'e7ão não responderão à pergunta.



Conquanto a Bíblia inequivocamente ensina que somos salvos pela fé, ela também nos mostra que nem todo tipo de fé salva. Tiago 2:14-26 sustenta com convicção que a fé sem a obediência é uma fé morta incapaz de salvar. João 12:42,43 apresenta algumas pessoas que creram, mas não professaram a Cristo: "Contudo, muitos dentre as próprias autoridades creram nele, mas, por causa dos fariseus, não o confessavam, para não serem expulsos da sinagoga; porque amaram mais a glória dos homens do que a glória de Deus". Será que foram salvas? Certamente, nem todo tipo de fé salva, apenas a fé que obedece ao que as Escrituras ensinam (Gálatas 5:6; Hebreus 5:9).



O que realmente importa perguntar é: quando é que a fé salva? A fé de Josué e dos homens de Israel causaram a ruína dos muros de Jericó quando obedeceram ao Senhor e marcharam ao redor dos muros 13 vezes (Hebreus 11:30). A nossa fé salva quando obedecemos ao Senhor (Romanos 6:17-18) e somos batizados (Gálatas 3:26-27).



"Não salvo pelas obras." As Escrituras ensinam que não somos salvos pelas obras (Efésios 2:8-9; Romanos 4:1-5), mas também que somos salvos pelas obras (Tiago 2:24). Não há dúvida de que esses textos falam de diferentes tipos de obra. A Bíblia, aliás, aborda muitos tipos diferentes de obras. Há as obras da carne (Gálatas 5:19-21). É claro que não somos salvos por estas obras. A Bíblia trata de obras para ganhar ou merecer a salvação. Com estas obras, a salvação seria uma questão de salário e aquele que a recebesse poderia gabar-se de ter merecido a salvação porque trabalhou para conquistá-la. Esse tipo de obra não salva (Romanos 4:1-5). Mas as obras de uma fé obediente são imprescindíveis para a salvação (Tiago 2:14-26). Devemos sempre analisar o tipo de obra que se acha em discussão no contexto. Tito 3:5 ensina que não somos salvos pelas obras, mas pelo batismo: "Não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo". Paulo estava aqui usando obras no sentido de Efésios 2 e de Romanos 4, afirmando que o batismo não é uma obra de merecimento, pela qual não somos salvos. O batismo é um ato de obediência pelo qual somos salvos.



A confusão surge do nosso uso da palavra obra. Suponhamos que eu lhe prometa dar um milhão de reais sob certas condições. Você tem de limpar toda a minha casa. Minha casa não é muito grande, nem está muito suja, então está claro que o pagamento se trata de um presente e não um salário. Você fez obras suficientes para merecer um milhão? Claro que não. Seria absolutamente impossível você ganhar um milhão de reais limpando uma casa. Você fez obras para cumprir as condições e receber um milhão de presente? Sem dúvida. Você o recebeu só depois de limpar a casa. Nossa palavra obra às vezes só faz referência a algo feito. Outras vezes, refere-se a algo feito para merecer salário. Precisamos fazer algo para ser salvos, mas não podemos ganhar a nossa salvação como um pagamento.



"O ladrão na cruz." Às vezes, ouvimos a objeção de que o ladrão da cruz não foi batizado, mas foi salvo. O ladrão foi salvo antes de Jesus morrer. Ninguém podia ser batizado na morte de Jesus antes que ele mesmo tivesse morrido. Portanto, nem Abraão, nem Moisés, nem Davi, nem ninguém antes de Jesus foi batizado para ser salvo. Os requisitos bíblicos para a salvação mudaram com a morte de Cristo. Nem Abraão, nem Moisés, nem Davi, nem o ladrão acreditaram que Jesus tinha ressuscitado dentre os mortos. Mas ninguém pode ser salvo hoje sem crer que Jesus ressuscitou dos mortos.

Hebreus 9:15-18 afirma que o testamento de uma pessoa passa a vigorar após sua morte. Antes de eu morrer, posso distribuir os meus bens da maneira que eu bem entender. Após minha morte, minhas propriedades serão distribuídas de acordo com as disposições do meu testamento. Antes da morte de Jesus, ele deu a salvação àqueles que quis. Mas, após morrer, a salvação é dada de acordo com as condições de seu testamento. Após sua morte, Jesus claramente afirmou que aquele que crê e se batiza será salvo (Marcos 16:15-16).



Conclusão



Muitas vezes Deus fez uso da água como linha divisória. Nos dias de Noé, a água do dilúvio separava o mundo pecaminoso da nova vida num mundo purificado (Gênesis 6-8). No êxodo, a água do mar Vermelho era a linha divisória entre a escravidão e a liberdade (Êxodo 12-15). Nos dias de Naamã, a água do rio Jordão era a linha divisória entre a lepra e a purificação (2 Reis 5). Nos dias do cego, a água do Tanque de Siloé era a linha divisória entre a cegueira e a capacidade de ver (João 9). Por que Deus usou a água nesses casos, eu não sei. Mas, sem dúvida, não nos deve parecer estranho que Deus tenha feito a água no Novo Testamento ser a linha divisória entre a velha vida de pecado e a nova vida em Cristo.



O batismo não é o único requisito para a salvação hoje, mas não podemos ser salvos sem ele. "Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus" (João 3:5).

Afinal, quem é Ele...?




questão da divindade de Jesus Cristo, há muito tempo, tem sido um assunto debatido. Desde o tempo em que Jesus viveu na terra, as pessoas têm tido vários pontos de vista a respeito dele. Alguns o chamaram de embusteiro (Mateus 27:63). Alguns disseram que ele desencaminhava as multidões; outros disseram que ele era um bom homem (João 7:12). Alguns declaravam que ele era um dos profetas, como Elias ou Jeremias (Mateus 16:14). Seus discípulos confessaram sua fé em que ele era o Cristo, o Filho de Deus (Mateus 16:16). 

Depois do primeiro século houve continuados debates sobre a natureza e a identidade de Jesus. “As controvérsias cristológicas do fim do segundo século e do início do terceiro foram assim uma parte da dialética interna da fé cristã” (Ferguson 18). Para evitar os extremos do adopcionismo (Jesus era um bom homem a quem Deus adotou como seu Filho) e do modalismo (Jesus era a mesma pessoa que o Pai, que se manifestava em diferentes modos), “a solução ortodoxa foi afirmar ao mesmo tempo a unidade de Deus, a divindade de Cristo, e a distinção entre o Filho e o Pai” (Ferguson 18). 

Devido aos esforços para tentar explicar tudo isto, as controvérsias “trinitárias” do quarto século nasceram. Ainda que sempre tenha havido dissidentes, a posição ortodoxa definida por diversos concílios que se conveniaram durante os próximos poucos séculos foi que Jesus era verdadeiramente Deus, e que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são personalidades distintas. Aqueles que negavam isto foram considerados “anátemas” (Hardy 379). Em tempos modernos, o debate não diminuiu. A teologia liberal do último par de séculos tem questionado o ponto de vista “ortodoxo”, e tem tentado redescobrir o histórico Jesus. O resultado tem sido uma negação da divindade de Jesus nesta era moderna de ceticismo.

O propósito deste estudo é considerar o que a Bíblia ensina sobre a identidade de Jesus. A Bíblia contém a verdade histórica sobre Jesus, e estamos buscando entender as muitas passagens bíblicas relativas à questão de sua identidade. Mesmo dentro de modernos círculos religiosos, entre aqueles que declaram aceitar a Bíblia como verdadeira, tem havido desacordo muito espalhado quanto a se Jesus era Deus ou não. Há também a questão bíblica a respeito do que Jesus renunciou quando veio à terra. 

Alguns ensinam que Jesus era Deus enquanto estava no céu mas, quando veio à terra, despiu sua divindade e se tornou nada mais do que um humano. Estas questões teológicas têm grandes implicações práticas. Se Jesus realmente era Deus, então ele merece pleno compromisso e submissão. Se não era quem declarava ser, então era uma fraude e merece ser relegado ao status de charlatão ou louco.

Nesta dissertação, o foco será sobre o que a própria Bíblia diz a respeito de Jesus Cristo. Será feita menção às modernas tendências que se afastam da aceitação de Jesus como Deus, mas será dada especial atenção aos textos bíblicos. A intenção é mostrar que a Bíblia de fato ensina a divindade de Jesus Cristo. Atenção especial será dada aos versículos específicos que ensinam sobre Jesus. 

A moderna tendência de rejeitar a divindade de Jesus

Alguém que escreveu sobre esta questão fez a seguinte observação:

“Hoje em dia, pode-se encontrar evidência virtualmente em toda parte – em todos os continentes, tanto nos círculos católicos romanos como nos protestantes – que o que está teologicamente “na moda” é contender por um Jesus que era somente um homem por natureza e por uma Bíblia que virtualmente silencia a respeito da clássica cristologia da encarnação de um Cristo de dupla natureza – verdadeiro Deus e verdadeiro homem na única pessoa de Jesus Cristo. Está muito em voga acreditar que a melhor solução pode ser entender Jesus como somente um homem – um homem muito incomum, naturalmente, com uma missão especial de Deus – e explicar as atribuições bíblicas a ele de qualidades divinas em outros termos não ontológicos” (Reymond 2-3).

Esta citação descreve com precisão o pensamento religioso moderno daqueles que são crentes professos em Deus. Tanto estudiosos protestantes como católicos romanos estão ensinando que Jesus não era realmente Deus. Eles estão dizendo que ele nem mesmo declarou ser Deus, mas discípulos mais tarde atribuíram divindade a ele. Parte da razão por que a tendência moderna tem estado afastada da crença na divindade de Jesus é devida à questão da confiabilidade das narrações do evangelho. A questão geral tem sido levantada sobre se os evangelhos, como os temos, são ou não verdadeiras representações da vida e das declarações de Jesus Cristo.

Rudolph Bultmann era um importante estudante liberal que questionou a crença na veracidade histórica das narrações do evangelho. A teologia de Bultmann estava baseada no conceito de que se precisa “desmitologizar” as narrações. Isto significa que é preciso ficar por trás do que é dito para tentar achar o que a verdade real é, o que pode estar escondido em algum lugar nas profundezas do ensinamento mítico. Bultmann questionou a idéia de que Jesus tivesse uma consciência messiânica (Bultmann 26). 

Ele apoiou o conceito que diz que pontos de vista como estes sobre Jesus foram sobrepostos sobre Jesus por discípulos posteriores. Esta abordagem básica é agora adotada por um grande número de estudiosos. Ele assumiu que os relatos do evangelho são informação de segunda mão e que eles contêm tradições humanas sobre Jesus. A “forma de crítica” de Bultmann tomou o mundo teológico como uma tempestade no vigésimo século (Praamsma 61).

Talvez o mais significativo desenvolvimento na era moderna do entendimento bíblico seja a popularização de um “novo” Jesus histórico pelo “Seminário de Jesus”. Este seminário, realizado primeiramente em 1985 sob a liderança de Robert Funk, reuniu-se em várias ocasiões para chegar a conclusões a respeito de quem Jesus realmente foi e quais, dos relatos do evangelho, são suas palavras e declarações reais. “Poderia a fé ter feito com que os escritores de todos os quatro Evangelhos embelezassem o fato real? Teriam as políticas da igreja primitiva feito com que eles alterassem ou acrescentassem à história de Jesus? Quais partes do Novo Testamento poderiam ser relatos puros e não mitificações piedosas?” (Ostling e Towle 54-55). 

Eles decidiram, através de um processo de votação com contas coloridas, que menos do que um quinto dos tradicionais ditos de Jesus são autênticos. Suas conclusões estão publicadas numa obra chamada The Five Gospels (significa “Os Cinco Evangelhos”). Suas conclusões têm recebido muita atenção dos meios de publicação, e a popularização de suas idéias parece que terá um forte impacto sobre a opinião pública nos anos vindouros. Ainda que não esteja dentro do objetivo desta dissertação comentar o Seminário de Jesus, precisa-se questionar o processo de votação sobre as palavras de Jesus por pessoas que estão perto de dois mil anos afastadas dos eventos. 

O ponto é que há um continuado esforço para redefinir o Jesus dos relatos evangélicos. Tudo isto parece realçado por uma tendência anti-sobrenatural e a recusa a considerar os relatos do evangelho como documentos históricos por causa do tipo de material que ele contém. Eles assumem que ele não pode conter material contemporâneo, e que qualquer registro de eventos notáveis ou declarações são automaticamente não confiáveis. “E eles então chegam a conclusões baseadas na fé, freqüentemente de sua própria criação” (Woodward 2).

Um escritor conservador, que tem devotado trabalho à crítica do revisionismo moderno, mostra que ainda há boas razões para se aceitarem os relatos históricos do evangelho. Depois de criticar a evidência da confiabilidade do evangelho de Marcos, ele observa o seguinte:

“O Jesus sobrenatural do Evangelho de Marcos, naturalmente, é difícil de ser aceito por muitas pessoas do vigésimo século. Não é o tipo de retrato que se pudesse esperar que um moderno aceitasse, se boa evidência não houvesse aí em seu favor. Mas a evidência aí está. E, antes que ajustar a evidência para fazer Jesus mais palatável às sensibilidades do século vinte, parece mais razoável deixá-la intacta e simplesmente permitir que o enigma deste judeu do primeiro século confronte nossas sensibilidades do século vinte. Pode mesmo ser que a história, afinal, não seja um continuum, fechado!” (Boyd 243).

Como é o caso em muitos campos, a tendência é freqüentemente o fator determinante de a pessoa aceitar ou não Jesus como os relatos do evangelho o apresentam. Há sempre um outro lado das histórias que é popularizado nos meios de comunicação. Em qualquer caso, a fé é envolvida no processo de aceitação. “Assim, se a pessoa mantém que Jesus era o Filho de Deus e foi levantado dos mortos, ou se a pessoa acredita que Jesus era um filósofo cínico cujo corpo foi finalmente devorado pelas bestas selvagens, a fé é necessariamente envolvida” (Boyd 293). Há muita especulação e pouca evidência objetiva que existe por parte de muitos revisionistas. 

Em vez disso, “a narrativa dos Evangelhos é descartada e pedaços da Escritura são embaralhados para revelar o ‘Jesus histórico’ do próprio estudioso” (Woodward 65). Parece mais razoável considerar os evangelhos à sua luz histórica. Eles declaram ter sido escritos e confirmados por testemunhas oculares (1 João 1:1-3; Lucas 1:1-4; 2 Pedro 1:16). Jesus foi visto, ouvido e seguido. Somente demonstrando que estes escritores eram mentirosos, iludidos, ou de algum outro modo os desacreditando, poderemos assumir que os relatos do evangelho não são designados a serem entendidos historicamente.

A questão se Jesus era ou não o Filho de Deus parece ser mais um assunto filosófico nesta era moderna. Muitos não crêem nele simplesmente porque pensam que é tolice aceitar que um homem que viveu dois mil anos atrás possa ser um salvador numa era moderna. Alguns não aceitarão o conceito de ressurreição sem se importar com quanta evidência é mostrada para isso. A própria Bíblia antecipa que muitos pensariam deste modo (1 Coríntios 1:18 e segs.). Não obstante, houve milhares de cristãos que deram suas vidas pela sua fé na ressurreição, inclusive aqueles que andaram com Jesus. 

Há “pouca dúvida de que o levantamento de Jesus por Deus para uma nova vida foi uma convicção cristã primitiva” (Woodward 66). Eles podem ter sido “tolos,” mas estavam convencidos e convictos. E mais, poderia parecer lógico que estas pessoas que viveram com Jesus, e durante um tão curto tempo depois de Jesus, soubessem mais sobre a vida, os cenários e os tempos de Jesus do que qualquer pessoa moderna saberia. Eles não podem ser desacreditados porque aceitaram Jesus como o Filho de Deus: seus atos baseados em suas convicções deverão dar-lhes credibilidade. Naturalmente, eles também tinham uma tendência, como todos têm; mas pode ser que sua tendência realmente fosse fundada em terreno sólido. 

O que a Bíblia diz sobre Jesus?

A partir deste ponto, o foco mudará para os textos escriturais e perguntará: a Bíblia, de fato, ensina que Jesus era Deus? Há muitos que professam que a Bíblia é historicamente verdadeira, mas que não crêem que Jesus fosse Deus. É este problema que será enfrentado. 

O que significa “divindade”?

Divindade é, geralmente, uma referência a um ser que está no estado de ser Deus. Ao dizer que um ser é “divino”, está-se dizendo que este ser possui a natureza de Deus, ou está no estado de ser Deus. Na Bíblia, Theos, Deus, refere-se “ao ser supremo sobrenatural como criador e mantenedor do universo: Deus” (Louw e Nida 137). A Bíblia se refere a Deus como aquele que “fez o mundo e tudo o que nele existe” (Atos 17:24). Palavras derivadas de theos, como theotes, se referem à “natureza ou estado de ser Deus” (Louw e Nida 140). Esta é a idéia como é encontrada em Colossenses 2:9, que afirma com referência a Jesus“nele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade”. Ao afirmar que Jesus é divino, está-se dizendo que Jesus possui certas características divinas. Antes, está-se dizendo que ele é propriamente Deus, o ser supremo sobrenatural que criou e sustenta o universo.

Pode ser mostrado pela Bíblia que Jesus possui a natureza de Deus, então será mostrado que a Bíblia ensina que ele é Deus. A “natureza” se refere aos atributos, características e qualidades que fazem de alguma coisa o que ela é. São os traços essenciais que pertencem a alguma coisa. Se alguém é desprovido destes traços essenciais de divindade,essa pessoa não é Deus. Gálatas 4:8 se refere“àqueles que por natureza não são deuses”

Essas pessoas tinham adorado alguma coisa que não era Deus; esses ídolos não continham a essência da divindade. Conquanto seja impossível definir todos os atributos essenciais de Deus, e isso não esteja dentro do alcance deste estudo, algumas das características específicas que se ajustariam dentro desta categoria incluem a onipotência e a eternidade. Somente Deus é “Todo-Poderoso” e eterno, no sentido em que ele não teve princípio e não tem fim. Qualquer ser que possuísse esta característica seria certamente considerado divino. A questão é: são tais atributos atribuídos a Jesus Cristo na Bíblia? Este estudo responde afirmativamente, e procurará mostrar algumas das várias provas bíblicas da divindade de Jesus. Evidências de ambos, do Velho como do Novo Testamento, serão consideradas. 

O Velho Testamento

Para mostrar que Jesus é o Messias, é comum ir ao Velho Testamento para considerar as muitas profecias e alusões (mais de 300) a respeito do Messias. Depois, deve mostrar no Novo Testamento como Jesus cumpriu estas profecias. Algumas destas profecias incluem referências ao Messias como sendo divindade.

Isaías 9:6 se refere ao Messias como “Deus Poderoso” (El Gibbor). Em Jeremias 32:18, o nome de “Deus Poderoso” é identificado como “SENHOR (Yahweh) dos exércitos”. Alguns têm argumentado que “Deus Poderoso” não é o mesmo que “Deus Todo-Poderoso” e, portanto, Jesus não era realmente Yahweh. Jeremias responde essa questão. O “Deus Poderoso” é “Yahweh dos exércitos.”

“Yahweh” (Jeová ou Javé) é usado 6.800 vezes no Velho Testamento. É o nome mais precioso para Deus. “Jesus,” como abreviação de Jehoshua, significa “Jeová, o Salvador”. Para seus pais terrestres, foi dada a mensagem que seu filho se chamaria “Jesus” (Mateus 1:21). Isto não foi acidental. A Bíblia de fato ensina que Jesus era Yahweh feito carne (João 1:1,14). Considere as seguintes ligações bíblicas:

Isaías 8:13-14 se refere a Yahweh como aquele que se tornaria uma pedra de tropeço e uma rocha de ofensa. O Novo Testamento aplica isto a Jesus em 1 Pedro 2:8.

Isaías 40:3 fala daquele que viria diante de “Yahweh” no deserto. Isto é aplicado a João Batista quando preparava o caminho para Jesus, o Cristo (Mateus 3:3; Lucas 1:76; João 3:28).
Ž Em Isaías 42:8, Yahweh fala da glória que pertence somente a ele, e que ela não seria dada a outro. Jesus pregou sobre a glória que ele partilhava com o Pai antes que houvesse mundo (João 17:5). Em Isaías 6 é relatada uma visão na qual Isaías viu Yahweh sentado em seu trono. João 12:36-41 registra que afirmações feitas por Isaías foram pronunciadas “porque ele viu sua glória, e falou dele”. No contexto, isto é claramente uma referência a Jesus. Isaías viu “sua” glória e falou “dele”, de Jesus. Isto liga Jesus a Yahweh.

Isaías 44:6 faz uma afirmação clara a respeito de Yahweh: “Eu sou o primeiro e eu sou o último, e além de mim não há Deus”. Seria lógico que alguém que declarasse isto teria que ser Deus, ou teria que ser um mentiroso. O Novo Testamento atribui esta mesma frase, “o primeiro e o último”, a Jesus (Apocalipse 1:17-18; 2:8: 22:13-16). Estas referências ensinam que Jesus é Yahweh.

 Salmo 102 começa uma oração a Yahweh. Uma parte desta mesma oração é aplicada a Jesus em Hebreus 1:10-12. Seria difícil conciliar como uma oração (ou mesmo uma parte de uma) feita a Yahweh pudesse ser assim aplicada a alguém que não é Deus.

Estas e outras referências tomadas juntamente provêem um apoio muito forte para a divindade de Cristo sendo ensinada pelo Velho Testamento. Não parece ser por acidente que tais ligações fossem feitas entre os Testamentos. Jesus não estava vindo a esta terra para ser só qualquer outro homem; ele estava vindo para ser o salvador do mundo. Definitivamente, somente o próprio Deus poderia preencher este papel. 



Os relatos do Evangelho não fornecem biografias completas da vida de Jesus. Eles, contudo, dão eventos relevantes, atos, declarações ensinamentos de Jesus enquanto ele vivia nesta terra. Portanto, é apropriado considerar o testemunho destes registros. Ensinam eles que Jesus é divindade? Nem todos os registros dão o mesmo destaque aos atos e ensinamentos que outros. Cada evangelho foi escrito por propósito pretendido e para uma audiência especial. Diferentes ângulos são considerados nos ensinamentos de Jesus, e diferentes fatos são enfatizados.

As declarações de Jesus. Conquanto Jesus não tenha feito nenhuma declaração explícita de que era Deus, ele de fato fez declarações que definitivamente o identificavam como Deus. Tomadas em conjunto, elas apóiam uma questão para o entendimento de Jesus, que ele é Deus.

a. Ele declarou ter uma relação inigualável com o PaiEle não declarou apenas crer ou amar a Deus; ele declarou que ele e o Pai eram um (João 10:30). Ele não se referiu a si mesmo como um filho de Deus, mas o Filho de Deus. João 5:17-18 registra uma ocasião quando Jesus tinha feito um milagre justamente no sábado. Ele disse aos judeus: “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também”. Isto enfureceu os judeus, por isso “ainda mais procuravam matá-lo, porque não somente violava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus”. Eles entenderam que Jesus estava alegando ter uma relação com o Pai num sentido incomparável, e creram que isto era blasfêmia, pois ele estava “fazendo-se igual a Deus”.

b. Ele declarava ter autoridade para perdoar pecadosMarcos 2 registra quando Jesus, confrontado com um homem paralítico, simplesmente disse: “Filho, teus pecados são perdoados”. Os judeus pensaram que isto era errado, pois ninguém “pode perdoar pecados a não ser Deus somente”. De modo a provar que ele tinha autoridade para perdoar, Jesus curou o homem. O direito a perdoar pecados é um direito divino.

c. Ele se declarou sem pecado (João 8:29,46; 18:23). Outras passagens bíblicas apóiam esta declaração (Hebreus 4:15), que põe Jesus em nítido contraste com todos os outros, pois pecaram (Romanos 3:23).

d. Ele declarou ter autoridade para julgar o mundo (João 5:25-27). Ele disse que suas palavras haveriam de julgar no último dia (João 12:48). Ou ele se entendia como Deus, ou era o homem mais convencido e arrogante que jamais viveu.

e. Ele declarou falar as próprias palavras de Deus. Ele disse: “Minhas palavras não passarão” (Mateus 24:35). Ele colocou suas próprias palavras em igualdade com as palavras de Deus.

f. Ele declarou ser o único caminho para a salvação. Ele disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim” (João 14:6). Não se pode ficar neutro diante de uma declaração como esta. Ela é estreita e exclusiva. Mais tarde, os apóstolos testemunharam que não há outro nome dado pelo qual podemos ser salvos (Atos 4:12). Se não, a Bíblia está afirmando salvação através de alguém que não tem direito a declarar ser o único caminho até Deus.

g. Ele declarou ser o Autor e Doador da vida. “O Filho do homem dá vida a quem ele quer”(João 5:21). Ele se chamou o “pão da vida” (João 6:48), e a “ressurreição e a vida” (João 11:25).

h. Jesus exigiu a mais alta lealdade da humanidade. Ele disse que seus seguidores têm que negar a si mesmos e segui-lo (Lucas 9:23). Ele disse a seus seguidores que eles têm que amá-lo acima de tudo o mais, incluindo membros da família (Lucas 14:26; Mateus 10:34-39). Se Jesus não pensasse que ele era Deus, o que mais poderia ele estar pensando?

i. Ele declarou cumprir todas as profecias do Velho Testamento a respeito do Messias.(Lucas 24:44). Considerando quantas profecias há sobre o Messias, esta é uma admirável declaração. Uma vez que, conforme já foi demonstrado, o Velho Testamento liga o Messias a Yahweh, então a declaração de Jesus de ser o Messias é também uma declaração de divindade.

j. Jesus declarou ser Deus. Ao falar aos judeus sobre Abraão, Jesus disse: “Antes que Abraão fosse, eu sou” (João 8:58). Isto levaria os judeus de volta ao tempo quando Yahweh falou a Moisés no arbusto ardente, declarando ser “EU SOU O QUE SOU” (Êxodo 3:14). Por causa desta declaração os judeus pegaram pedras para atirar em Jesus, pois eles sabiam as suas implicações. Nesta afirmação, Jesus estava declarando existência eterna e auto-suficiência. Se ele não fosse Deus, então isto realmente seria blasfêmia.

Estas declarações demonstram o ensinamento bíblico que Jesus tinha uma consciência messiânica e divina. Rejeitar todas elas como sendo sobrepostas a Jesus por discípulos ulteriores não é consistente com a evidência, e retrata os discípulos ulteriores como sendo tão espertos e fraudulentos que se torna difícil imaginar. Estas declarações são sutis, ainda que fortes. Tomadas em conjunto, elas argumentam que Jesus declarou ser Deus.

As obras de Jesus. Não era suficiente para Jesus fazer declarações espetaculares. Ele precisava apoiar o que dizia. Este era o propósito das obras dele. Em João 5, Jesus afirmou que seu próprio testemunho, por si só, não seria válido. 

Ele defendeu-se apelando para outros testemunhos. Um destes testemunhos são as obras que ele realizava: “as obras que o Pai me confiou para que eu as realizasse, essas que eu faço, testemunham a meu respeito, de que o Pai me enviou” (João 5:36). Nicodemos tinha vindo antes a Jesus e disse: “Rabi, sabemos que és mestre, vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele” (João 3:2). 

Mais tarde, Jesus disse aos judeus: “Se não faço as obras de meu Pai, não me acrediteis; mas, se faço, e não me credes, crede nas obras; para que possais saber e compreender que o Pai está em mim, e eu estou no Pai” (João 10:37-38). João 20:30-31 afirma que as obras que Jesus fez tinham a intenção de acender a fé naqueles que sabiam delas. 

Pedro disse a alguns judeus no Pentecostes que Jesus era “varão aprovado por Deus diante de vós, com milagres, prodígios e sinais, os quais o próprio Deus realizou por intermédio dele entre vós, como vós mesmos sabeis” (Atos 2:22). É impossível separar Jesus de suas atividades. Os milagres e as obras que Jesus fez são inseparavelmente ligados com sua vida na terra; e não podem ser rejeitados simplesmente por serem milagrosos.

Jesus fez diferentes tipos de milagres, mas podem todos ser classificados em três categorias: milagres sobre a natureza (p. ex., acalmando a tempestade), milagres de curas físicas (p. ex., curando o homem paralítico), e milagres de ressurreição (p. ex., Lázaro). Houve muitas testemunhas da maioria destes milagres. Mesmo os inimigos de Jesus os admitiam. 

O ponto aqui é que a Bíblia ensina que Jesus operou milagres de modo a apoiar suas declarações. Portanto, o que quer que seja que Jesus declarou, de acordo com a Bíblia, foi provado por suas obras. Desde que suas declarações implicam, direta ou indiretamente, que ele é Deus, então as obras que ele fez verificam isto e a proposição deste estudo é verdadeira: a Bíblia ensina a divindade de Jesus Cristo.

A aceitação de adoraçãoOutra importante prova bíblica da divindade de Jesus é sua aceitação de adoração. A Bíblia ensina que o único que deve ser adorado é Deus. O próprio Jesus reconheceu isto (Mateus 4:10). Conquanto seja possível para alguém que não é Deus aceitar adoração, a aceitação de adoração por Jesus mostra, pelo menos, que ele pensava ser divino. Muitos exemplos disto são dados nos relatos do evangelho (cf. Mateus 8:2; 9:18; 14:33; 28:9,17). Merecem observação especial três passagens do Novo Testamento ligadas com isto:

a. João 5:23. Jesus afirmou que todos deverão honrar o Filho (Jesus) exatamente assim como ele honrava o Pai. Se ele não pensasse que era Deus, então ele era culpado de blasfêmia. Esta afirmação sozinha demonstra o ensinamento bíblico da divindade de Jesus. Para que alguém declare que merece a mesma honra que o Pai, teria que ser Deus, ou teria que ser um mentiroso.

b. João 20:28. Depois da ressurreição, Jesus apareceu aos seus discípulos. Tomé não estava presente no primeiro aparecimento, e duvidou que Jesus tivesse realmente sido visto. Quando Jesus apareceu novamente, Tomé viu e fez a seguinte afirmação a Jesus: “Meu Senhor e meu Deus”. Não há indicação de que Jesus tentasse corrigir isto. Jesus aceitou esta adoração, tanto como a referência a sua divindade. De fato, ele respondeu a Tomé: “Porque tu me viste, acreditaste?” (20:29).

c. Hebreus 1:6. Referindo-se a Jesus, o texto diz: “Que todos os anjos de Deus o adorem”. Esta instrução é dada pelo Pai. A Bíblia mostra que os anjos sabiam que o único que poderiam adorar corretamente era Deus. (Apocalipse 19:10). Se lhes é dito por Deus para adorarem Jesus, então esta é uma clara implicação do ensinamento de que Jesus é Deus.

A ressurreiçãoSe há um evento no qual todo o ensinamento bíblico repousa, é a ressurreição. Pela ressurreição, Jesus foi “designado Filho de Deus com poder” (Romanos 1:4). Este é o único milagre na Bíblia que, se historicamente verdadeiro, valida a possibilidade de todos os outros milagres, e a história como registrada na Bíblia. Por esta razão, é uma das questões mais acaloradamente debatidas. Os revisionistas têm buscado várias explicações para o corpo de Cristo desaparecido do túmulo. 

“A ressurreição é excluída a priori do tribunal porque ela transcende tempo e espaço. Os historiadores têm então que arranjar outra razão para explicar as origens do cristianismo” (Woodward 65). Um estudioso do Novo Testamento argumentou que a ressurreição é uma “fórmula vazia” que precisa ser rejeitada por alguém que tenha um “ponto de vista científico” (Woodward 62). Assim, alguns, como Crossan, argumentam que o corpo de Jesus foi devorado por cães selvagens. 

Outros dizem que ele apenas pareceu estar morto. Outros argumentam que seu corpo apodreceu no túmulo, e que os discípulos foram à sepultura errada. Então alguns argumentam que os aparecimentos de Jesus foram somente experiências psicológicas, “um êxtase de massa”. É interessante que, na busca pelo Jesus “histórico,” estudiosos especulem sobre estas coisas para as quais eles não têm evidência histórica concreta, objetiva. Ainda assim, esperam que esqueçamos a evidência bíblica e aceitemos as especulações.

Contudo, como muitos outros argumentam, há forte evidência histórica para a declaração de Jesus de ser o Messias, e para sua ressurreição corporal (cf. Ostling e Towle 58). Para descartar definitivamente a evidência bíblica por causa da suposição de que milagres como a ressurreição não poderiam ter ocorrido reflete falta de investigação honesta de matérias históricas. Testemunhas oculares declaram ter visto Jesus vivo depois que ele tinha morrido. 

O corpo tinha sumido do túmulo depois do sepultamento, e “nenhuma explicação natural convincente é disponível para responder por este fato” (Craig 280). Na verdade, qualquer outra explicação envolverá necessariamente especulação, pois não há nenhuma evidência contemporânea primitiva crível que responda pelos fatos de outra maneira. Se alguém está indo buscar o Jesus histórico, então os registros do evangelho têm que ser trazidos para testemunho, pois não tem havido “nenhum dado novo sobre a pessoa de Jesus desde que os Evangelhos foram escritos” (Woodward 70).

A evidência histórica é suficientemente maciça para convencer o investigador de mente aberta. Por analogia com qualquer outro evento histórico, a ressurreição tem evidência eminentemente crível por trás dela. Para desacreditar, precisa-se deliberadamente fazer exceção às regras que se usam em toda parte na história. Agora, porque alguém haveria de querer fazer isso? (Kreeft e Tacelli 197).

A ressurreição atesta a identidade de Jesus. Ela declara, com poder, que Jesus foi o Filho de Deus (Romanos 1:4). A Bíblia usa a ressurreição para reforçar a crença em Jesus como o Filho de Deus. Os discípulos que ficaram grandemente desalentados com a morte de Jesus, ficaram convencidos de que Jesus se levantou e se mostraram, subseqüentemente, dispostos a morrer para pregar isso. De todos os milagres e notáveis eventos registrados na Bíblia, a ressurreição é o mais significativo. 

Se ela não aconteceu, então aqueles que dedicam suas vidas a Jesus fazem-no em vão (1 Coríntios 15:12-19). Se ela, de fato, aconteceu, “valida sua declaração de ser divino e não meramente humano, pois a ressurreição da morte está além do poder humano; e sua divindade convalida a verdade de tudo o mais que ele disse, pois Deus não pode mentir” (Kreeft e Tacelli 176).

Títulos atribuídos a Jesus

Jesus se refere a si mesmo por vários títulos, e outros escritores do Novo Testamento se referem a ele por vários descrições. Estas referências a Jesus demonstram uma alta Cristologia na Bíblia. Elas mostram tanto a concepção que Jesus faz de si mesmo como os pontos de vista de outros sobre ele. Esta parte discutirá quatro dos importantes e debatidos títulos, bem como descrições que foram usadas para Jesus, tanto nos relatos do Evangelho como nas epístolas.

Filho de DeusA Bíblia se refere freqüentemente a Jesus como o Filho de Deus. Ainda que Jesus não usasse isto para referir a si mesmo, ele de fato falou de tal modo que apoiaria seu entendimento de que ele era o Filho de Deus (João 5:17-19). Alguns tomaram a frase “Filho de Deus” para significar que Jesus era o “descendente” de Deus. Ela é usada, então, para dizer que a Bíblia ensina que Jesus foi um ser criado. 

Contudo, a frase “filho de” é aberta para diferentes significados na Bíblia. Ela pode significar “descendente”, porém não necessariamente em todo contexto. Ela pode também ter o significado de identidade, aquele que compartilha da mesma natureza ou exibe as mesmas características que outro. Por exemplo, Jesus se referiu a Tiago e João como “filhos do trovão” (Marcos 3:17). Ele falou de“um filho de paz” (Lucas 10:6). Judas foi mencionado como o “filho da perdição” (João 17:12). Portanto, “filho de” nem sempre traz uma idéia física, literal, de “descendente.”

Com respeito a Jesus, Filho de Deus significa “aquele que tem as características essenciais e a natureza de Deus” (Louw e Nida 141). Quando Jesus declarou ser o Filho de Deus, ele estava declarando ter uma relação inigualável com o Pai. Os judeus entenderam que Jesus quis dizer que ele era “igual a Deus” (João 5:17-18; 10:30-38). Assim, ao afirmar que Jesus é o Filho de Deus, está-se afirmando que Jesus compartilhou da mesma natureza que o Pai. Ele é, em essência, “Deus o Filho.” Jesus é o Filho de Deus naquele muito inigualável sentido que ele é uno com o Pai. Isso nada tem a ver com sua origem.

Filho do Homem. Jesus referiu a si mesmo freqüentemente como o “Filho do Homem”. Isso é usado cerca de 82 vezes nos Evangelhos. A primeira impressão que se tem do uso deste título é que ele identifica Jesus com a humanidade. A Bíblia ensina que Jesus era um humano real. “Filho do Homem” pode certamente implicar que Jesus compartilhava da natureza e caráter da humanidade. Parece, contudo, que isto não explica adequadamente a frase. Jesus nunca teve que provar que ele era humano, era óbvio ao se olhar para ele. 

Este uso do termo era uma auto-designação, mas parece haver aí mais do que isso. A evidência indicaria que a frase “Filho do Homem” também era messiânica por natureza. O melhor apoio para isto pode ser dado pelas afirmações messiânicas em Daniel 7:13-14, onde o Messias é retratado como um “Filho do Homem”, ou figura de aparência humana, a quem é dado “domínio, glória e um reino”. Isto prepara o ambiente para o uso do título por Jesus.

Jesus usou a frase “Filho do Homem” em diferentes situações. Primeiro, ele usou-a para falar de si mesmo quando cumpria seu ministério na terra (p. ex., Mateus 8:20; 11:19). Segundo, ele usou a frase para falar de si mesmo como sofredor nas mãos dos homens, que o maltrataram e o executaram (p. ex., Marcos 9:12, 31; Lucas 24:7). Terceiro, ele usou-a para se referir ao seu aparecimento em glória, como juiz supremo (p. ex., Mateus 16:27; 25:31; João 5:27). Jesus é tanto o “servo sofredor” como o juiz de toda a terra. Reymond observou:

“Não pode haver dúvida, então, que todos os quatro evangelistas, quando interpretados corretamente, pretenderam que seus leitores entendessem que Jesus é o Salvador do homem nos papéis de servo sofredor, que veio tanto para ‘buscar e salvar o perdido’ (Lucas 19:10), como ‘não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos’(Marcos 10:45; Mateus 20:28), bem como vinha como juiz e Rei escatológico” (Reymond 57).

Primogênito. A Bíblia se refere a Jesus como “primogênito” (Colossenses 1:15-18; Romanos 8:29). Este termo também é aberto a um par de significados. Ele poderia significar primogênito em tempo (Gênesis 27:19; Êxodo 11:5; Lucas 2:7). Neste sentido ele se refere ao primeiro filho nascido numa família. Alguns têm tomado este significado e concluído que o uso da palavra “primogênito”, com referência a Jesus, significa que ele foi o primeiro ser criado. Contudo, isto não se mantém. O termo “primogênito” também é usado para representar posição superior. Por exemplo, a Bíblia fala de“primogênito de morte”, significando a doença mais fatal e mortal (Jó 18:13). Isaías 14:30 fala de“primogênito dos desamparados”, significando aqueles que mais precisam de auxílio. Outras passagens usam o termo deste modo (Êxodo 4:22; Jeremias 31:9; Salmo 89:27). Nestes casos ele significa “preeminente”.

A respeito de Jesus, “primogênito” significa aquele que é primeiro e preeminente sobre todos. Jesus existia antes da criação, e é superior à criação (Louw e Nida 117). Ele é chamado “primogênito entre muitos irmãos”, o que se refere a posição e não a tempo (Romanos 8:29). Ele é chamado o“Primogênito dos mortos”, significando que ele foi o primeiro a ser levantado para nunca mais morrer (Apocalipse 1:5). Colossenses 1:15 deverá ser entendido como significando que Jesus é preeminente sobre toda a criação porque ele mesmo é o Criador. “A palavra enfatiza a preexistência e incomparabilidade de Cristo com sua superioridade sobre a criação. O termo não indica que Cristo foi uma criação ou um ser criado” (Reinecker 567). 

Portanto o título “Primogênito” mostra uma alta Cristologia; Jesus é Unigênito. A expressão “unigênito” (monogenes) aparece cinco vezes com referência a Jesus (João 1:14,18; 3:16,18; 1 João 4:9). Novamente, isto nada tem a ver com a decisão sobre se Jesus é ou não um ser criado. É uma outra afirmação da posição ímpar mantida por Jesus. Em cada caso, ela significa “único” ou “só”: “pertencente ao que é único no sentido de ser o único da mesma qualidade ou classe” (Louw e Nida 591). Por esta razão, a Nova Versão Internacional explica, numa nota sobre João 3:16, que “unigênito” indica “único”. O mesmo termo é usado para Isaque, como o “único” filho (Hebreus 11:17). 

Isto lança luz sobre o significado do termo. Isaque não era o “unigênito” de Abraão em sentido estrito, literal. Nem Isaque era o filho primogênito em tempo. Contudo, Isaque ocupou uma posição singular e superior como o “único” filho da promessa de Abraão. Por esta razão, Isaque foi o único filho de seu tipo, e o termo pode ser usado adequadamente para ele. Isto é o que o termo significa com referência a Jesus. Ele foi o Filho único de Deus, o único de sua qualidade. É um título de posição, e não de origem.

Há outros termos aplicados a Jesus que são significantes. Por exemplo, Jesus é chamado “o resplendor da glória” de Deus e “a expressão exata de seu ser” (Hebreus 1:3). Jesus não era apenas um reflexo de Deus; a glória de Deus resplandecia através dele de tal modo que quando se via Jesus, via-se Deus (cf. João l4:9-11). Estes termos não poderiam ser corretamente aplicados a alguém que fosse um homem comum. Se eles forem aplicados adequadamente, eles implicarão que o próprio Jesus é Deus. Todos esses termos tomados conjuntamente demonstram a alta Cristologia da Escritura. O ensinamento uniforme é que Jesus foi Deus manifestado em carne.



té este ponto, têm sido considerados os textos que têm tremendas implicações. Agora nos voltamos para alguns textos mais específicos que se referem a Jesus como Deus e afirmam que ele é, de fato, o Criador. Se puder ser demonstrado que Jesus é o Criador e o mantenedor do mundo, de acordo com a Bíblia, então teremos demonstrado que a Bíblia ensina que Jesus é divino. Mais ainda, se há passagens específicas que se referem a Jesus em termos especiais identificando-o como Deus, então o ensinamento bíblico sobre Jesus ficará claro.

Jesus é o Criador e Mantenedor?

Alguns acreditam que a Bíblia ensina que Jesus é um ser criado. Alguma consideração já tem sido dada a isto. Outras passagens verificam que Jesus não foi criado. Por exemplo, Miquéias 5:2 fala do Messias como sendo “dos dias de eternidade,” ou “de eternidade a eternidade.” Isaías 9:6 fala do Messias como o “Pai eterno.” Isto não identifica Jesus com sendo a mesma pessoa que o Pai; identifica-o como o Criador, o originador. 

Ele é chamado “eterno.” Ainda que o Messias tenha nascido neste mundo no “tempo,” sua existência como um ser não teve um início. Esta foi pelo menos uma parte da declaração que Jesus fez quando disse aos judeus: “Antes que Abraão existisse, eu sou” (João 8:58). 

As Escrituras se referem a Jesus como o Criador. Colossenses 1:15-16 fala de Jesus como o“primogênito de toda a criação”, o que, como foi antes considerado, significa que Jesus é preeminente sobre a criação. Por quê? Porque “nele foram criadas todas as cousas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele”

É evidente que, se Jesus criou “todas as coisas,” é porque ele fica fora da classe dos seres criados. João 1:3 diz: “Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez”. Se esta afirmação é verdadeira, então Jesus é o Criador, não a criatura. Portanto, Jesus é o Deus Criador, de acordo com a Bíblia.

As Escrituras também ensinam que Jesus é o mantenedor de todas as coisas. Voltando ao contexto de Jesus como o Criador, a Bíblia afirma que “ele é antes de todas as coisas. Nele tudo subsiste”(Colossenses 1:17). A expressão “subsiste” (sunesteken) aqui indica “juntar ou manter junto algo em seu lugar próprio ou apropriado ou relação apropriada” (Louw e Nida 614). “Todas as coisas são dependentes do Filho para sua continuação em existência” (Reymond 248). Isto ensina que Jesus é o sustentador do que ele criou. Hebreus 1:3 afirma que Jesus “sustenta todas as coisas pela palavra de seu poder”. Aqui Jesus é descrito como aquele que faz todas as coisas continuarem. Assim, estas passagens ensinam que Jesus é aquele que preserva e sustenta todas as coisas. Elas implicam que Jesus é Deus, atribuindo a ele qualidades divinas.

Jesus é chamado “Deus”

Outras Escrituras são ainda mais explícitas em sua afirmação da divindade de Jesus. Ele é referido como “Deus” em diversos versículos específicos. Nesta parte, algumas dessas passagens serão brevemente citadas.

Œ João 1:1-18. João 1:1 diz: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” Há três pontos afirmados neste versículo. Primeiro, o “Verbo” já estava em existência quando o tempo e a criação começaram; segundo, o Verbo estava sempre em comunicação com o Pai, e terceiro, o Verbo sempre participou da divindade. 

“O Verbo era Deus” é uma declaração que afirma a natureza divina do LogosTheos, que aqui éanarthrous [substantivo usado sem o artigo], descreve a natureza do Logos, em vez de identificar sua pessoa. Jesus como o Logos é pessoalmente indistinto do Pai (vers. 1b), contudo é uno com o Pai em natureza (vers. 1c) (Harris 93). Neste versículo, então, o Novo Testamento está ensinando a respeito da divindade de Jesus. “Aqui, então, João identifica o Verbo como Deus (totus deus) e assim fazendo atribuir a ele a natureza ou essência da divindade” (Reymond 304). Isto não significa que deveria ser traduzido como “o Verbo era divino,” como alguns têm feito. Que “o Verbo” é uma referência a Jesus é facilmente visto no contexto. O versículo 14 diz: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós”. O contexto identifica mais adiante o “Verbo” como Jesus (vers. 15-17).

João 1:18 tem alguma dificuldade ligada a ele. A segunda parte do versículo, “o Deus unigênito, que está no seio do Pai,” tem algumas variantes nos manuscritos gregos. A alternativa mais notável é “o Filho unigênito.” Como foi explicado antes, “unigênito” se refere a unicidade (uno e único). A maioria dos críticos, contudo, “concorda que monogenes theos era o escrito original” (Harris 93). Reymond indica: “O respeitável crítico textual precisa admitir que a evidência aponta muito decisivamente em favor de um theos original” (306). 

Parece que haja uma pequena dúvida, em termos da evidência dos manuscritos, sobre o uso aqui da expressão que significa “uno e único Deus”. Se for o sentido original, seria então outra instância de ensinamento a respeito da divindade de Jesus. Contudo, uma vez que esta passagem tem em si alguma ambigüidade, seria difícil repousar um caso inteiro nela. Em ambos os casos, ela não contradiz o resto do testemunho do Novo Testamento da divindade de Jesus.

João 20:28. A Bíblia registra que, depois que Jesus se levantou dentre os mortos e apareceu aos seus discípulos pela primeira vez, Tomé não estava presente. Quando ouviu que Jesus fora visto, Tomé duvidou, e disse que teria que vê-lo por si mesmo para que cresse nisso. Jesus apareceu a eles novamente, e quando Tomé ficou convencido, respondeu a Jesus:
“Meu Senhor e meu Deus”

 Alguns têm tomado esta como uma exclamação de louvor a Deus (não a Jesus). Contudo, o texto afirma que Tomé disse isto “a ele.” Ele estava se dirigindo a Jesus como Senhor e Deus. Outros têm dito que esta foi uma exclamação num momento de excitação. Contudo, não há registro de uma repreensão de Jesus. Ele aceitou esta saudação e levou-a um passo adiante”:  
“Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram” (vers. 29). Isto se torna a base para a declaração de João do motivo porque ele escreveu o livro (vers. 30-31). Não pode haver dúvida de que Jesus dê evidência aqui, por sua aceitação expressa da apreciação dele por Tomé, que ele era em seu próprio entendimento seu Senhor para ser servido e seu Deus para ser adorado” (Reymond 213). “Em nenhum outro lugar no Novo Testamento Jesus é identificado mais claramente como Deus” (Erickson 461). Esta declaração de Tomé, como está, é por si mesma um tremendo testemunho do ensinamento do Novo Testamento da divindade de Jesus.

Romanos 9:5. Paulo escreveu a respeito dos israelitas: “... deles são os patriarcas, e também deles descende o Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito para todo o sempre.” A NVI traduz como “Cristo, que é Deus acima de todos, bendito para sempre”. Ainda que alguns tenham tentado fazer “Deus bendito para sempre” separado do contexto como uma doxologia dirigida ao Pai, “é muito mais natural considerar as palavras finais do versículo como uma descrição ou doxologia do Messias, Jesus Cristo” (Harris 95). Esta passagem, na sua leitura mais natural do texto grego, atribui plena divindade a Jesus Cristo. Ele permanece como o Senhor e dominador do universo, e merece pleno louvor. O argumento de Paulo neste contexto é que ainda que muitos companheiros israelitas tivessem rejeitado Jesus como Messias, Jesus é, realmente, supremo sobre o universo e, como Deus, merece ser servido e louvado. Nenhuma Cristologia mais alta pode ser encontrada.

Tito 2:13 e 2 Pedro 1:1. Estas duas passagens podem ser consideradas juntas por causa de sua frase idêntica: “Deus e Salvador” (theou kai soteros). Em ambas as passagens, “Jesus Cristo” é o objeto da frase. Alguns argumentam que “Salvador” se aplica a Jesus, mas “Deus” é uma referência ao Pai: “Deus (o Pai) e Salvador Jesus Cristo.” Contudo, isto não é apoiado pela construção grega. Esta frase é aplicada a uma pessoa: Jesus Cristo. Primeiro, esta é a leitura mais natural do texto. Segundo, os dois nomes ficam sob um artigo, que precede “Deus.” Isto indica que eles têm que ser construídos juntos, não separadamente. 

E mais, esta frase foi uma fórmula comum e sempre denotou uma divindade, não duas pessoas separadas. Quando ambos Paulo e Pedro usaram a frase, então, “seus leitores sempre a entenderiam como uma referência a uma só pessoa, Jesus Cristo. Simplesmente não ocorreria a eles que ‘Deus’ pudesse significar o Pai, com Jesus Cristo como o ‘Salvador’” (Harris 96-97). O que isto tudo significa é que Pedro e Paulo entenderam que Jesus era ambos, “Deus e Salvador”.

Hebreus 1:8. Em Hebreus 1 há um contraste entre o Filho e os seres angelicais. Isto mostra a superioridade do Filho sobre os anjos. Para defender este ponto, é feito o argumento que Jesus é o único Filho (vers. 5). Ele tem de ser adorado, até mesmo pelos anjos (vers. 6). 

Então, no versículo 8 o próprio Pai chama Jesus Deus: “do Filho ele diz, teu trono, ó Deus, é para todo o sempre”. Ainda que haja alguma controvérsia envolvendo se “ó Deus” é ou não para ser construído vocativamente (como na maioria das traduções) ou como um nominativo (“Deus é teu trono”) ou como predicado nominativo (“teu trono é Deus”), a avassaladora maioria dos gramáticos, comentaristas, autores de estudos gerais e traduções para o inglês dão força a este vocativo (Reymond 296). Na passagem da qual isto é tirado (Salmo 45:6), o vocativo é visível. Os versículos 10 e 11 são ligados aos versículos 8 e 9 pela conjunção kay, que indica que estes versículos caem sob a mesma introdução que os versículos 8-9. No versículo 10, Jesus é saudado como “Senhor”, o que também liga-o com Yahweh (Salmo 102). Isto fortalece a decisão para “ó Deus” ser entendida vocativamente no versículo 8. Isto significa que o Filho é saudado como “Deus” nestes versículos, num sentido ontológico.

A consideração das passagens precedentes mostra que o Novo Testamento atribui consistentemente divindade a Jesus Cristo. Pelo menos quatro escritores – João, Paulo, Pedro e o autor de Hebreus – usam o título “Deus” com referência a Jesus. 

O uso deste título foi primitivo, começando pouco tempo depois da ressurreição (Tomé) e continuando até o final do primeiro século. Os escritos, dirigidos a várias pessoas, foram espalhados através de várias regiões, incluindo a Grécia, a Judéia e Roma. Entre o título de Deus aplicado a Jesus, as declarações de Jesus e o resto das Escrituras que implicam sua divindade, o Novo Testamento está repleto de ensinamento sobre Jesus sendo Deus. Se a pessoa deseja ou não aceitar isto, é outro assunto. Se a pessoa aceita a Bíblia como verdade, então ela precisa também aceitar que Jesus é Deus.

Há duas passagens que ainda não foram consideradas, ambas as quais têm ponto de vista significante sobre o ensinamento do Novo Testamento a respeito da divindade de Jesus. São Colossenses 2:9 e Filienses 2:1-11. Elas merecem consideração especial.

Colossenses 2:9

“...porquanto nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade”. Este único versículo, “além de todos os outros no Novo Testamento, afirma que cada atributo divino é encontrado em Jesus” (Harris 66). Ele não diz que “muita” ou “alguma” divindade mora nele, mas a “plenitude da divindade”. Todo elemento que existe como divindade está em Cristo, de acordo com este versículo.
Neste contexto, Paulo fala de “filosofia e vãs sutilezas, de acordo com a tradição dos homens” e“conforme os rudimentos do mundo” como sendo contrários a Cristo (vers. 8). A afirmação no versículo 9, “... porquanto nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade”, foi feita para se contrapor a estas vãs filosofias e dar uma fundação sobre a qual se pode ser completo em Cristo. Uma das filosofias contra as quais os escritores do Novo Testamento falaram foi a doutrina gnóstica, que negava que Deus poderia realmente vir na carne. Os gnósticos acreditavam que a matéria era inerentemente má, e a partir disto raciocinavam que Deus não poderia morar num corpo carnal. João abordou este mesmo problema (1 João 4:2; 2 João 7). 

Os gnósticos ofereceram uma filosofia adicional. Paulo responde que Cristo é suficiente para fazer alguém completo porque nele está a plenitude da divindade, e ele está acima de tudo porque ele criou tudo. Assim, Colossenses 2:9 afirma que a plenitude da divindade realmente estava em Cristo, não importa o que os filósofos gnósticos, ou quem quer que seja, ensinasse. Nada mais era necessário. Esta, por sua vez, era a base sobre a qual os cristãos deveriam agir. “Por que seus leitores têm que ‘andar’ em Cristo para ‘ficar em guarda’ de modo que ninguém os faça cativos por meio da busca de conhecimento que procede da filosofia humana e da tradição?” (Reymond 249-250). A resposta está no versículo 9.
O termo “plenitude” (pleroma) significa “quantidade total, com ênfase na totalidade” (Louwn e Nida 597). “Mora” (katoikei) indica o assentamento em um lugar fixo. É “estar em casa”. Vincent aponta que o tempo presente de “mora” denota “uma característica eterna e essencial do ser de Cristo. A moradia da plenitude divina nele é característica dele como Cristo, desde todas as eras até todas as eras” (487). 

O que está permanentemente “em casa” em Cristo é a “totalidade” da divindade. A palavra “deidade” (theotes) é o mesmo que “divindade” em várias traduções. O termo significa “a natureza ou estado de ser Deus” (Louw e Nida 140). É isso que é Deus, o estado de divindade. Esta afirmação não está simplesmente dizendo que Jesus é Deus em sua pessoa, mas que ele é tudo o que é Deus. A natureza divina completa está em casa em Cristo.

Há dois significados compulsivos alternativos no termo “corporal” (somatikos) neste contexto. O primeiro é que ele significa “corporalmente,” uma referência ao corpo físico, humano, de Cristo. “A palavra refere-se ao corpo humano de Cristo” (Reinecker 573). Tomada neste sentido, aqui está uma afirmação do conceito que Jesus era plenamente Deus mesmo quando humano. A plenitude da divindade se tornou encarnada. 

Ao vir a este mundo, não houve nenhuma mudança em sua divina natureza. Tudo o que ele é como Deus continuou a morar em sua forma corpórea. O segundo significado possível de “corporal” é “incorporado” ou concentrado numa forma visível, tangível. Neste sentido, a idéia é que à plenitude da divindade foi dada expressão completa através de Jesus. Ele era “completamente” e “substancialmente” Deus e, portanto, plenamente incorporou a natureza divina. Isto ainda incluiria o tempo que Jesus passou na terra, como a palavra “mora” indica. Eu prefiro tomar o termo pelo que aparenta ser para referir à encarnação de Jesus. Em qualquer caso, contudo, este versículo mostra uma alta Cristologia. A passagem ensina que Jesus é divino.

Uma das passagens mais controversas da Bíblia é Filipenses 2:5-8. Tem havido muitas explicações para a passagem; e as diferenças de interpretação são significativas. O modo como se interpreta a passagem afeta seu ponto de vista de Jesus Cristo. Foi ele sempre Deus? Se ele era Deus anteriormente à encarnação, ele reteve sua natureza divina quando veio à terra? Se ele reteve sua divindade ao vir à terra, o que significa quando se diz que ele “esvaziou-se”? Ele deixou sua divindade para ser exatamente um homem comum? Todas as questões como estas têm tremendas implicações. É preciso ser cuidadoso ao considerar uma passagem como esta, evitando uma interpretação que não se ajuste bem com o resto do testemunho do Novo Testamento a respeito de Jesus.


É provável que Filipenses 2:6-11 contenha, pelo menos em parte, um hino primitivo (Reymond 251). Há desacordo sobre se este hino foi composição do próprio Paulo, ou se ele foi escrito antes de Paulo, que simplesmente usou o hino para servir aos seus propósitos nesta epístola. Em qualquer caso, é difícil negar que ele foi um hino primitivo. Neste texto estão as características estilísticas e hinárias, tais como paralelismo de pensamento, inversões, vocabulário incomum e estilo elevado (Reymond 252). Baseado em estudos anteriores de Lohmeyer, agora é geralmente aceito que “o que aqui [vemos] é uma confissão cristã primitiva que pertence à literatura de liturgia antes que prosa epistolar” (Martin 106). Se isto é verdade, então este é um forte argumento por uma alta Cristologia primitiva entre os cristãos do primeiro século. Mesmo que não fosse um hino, é ainda evidência que os cristãos primitivos tinham uma forte fé na divindade de Jesus.

Este é um texto no qual as palavras são muito cuidadosamente escolhidas. Cada palavra parece significante. Portanto, numa interpretação deste texto, as palavras precisam ser definidas e entendidas. Primeiro, contudo, uma consideração do texto completo está em ordem. Sem considerações contextuais, o texto pode facilmente ser mal entendido e mal aplicado. Parece que isto tem sido uma parte do problema que tem levado a algumas das controvérsias.

Não parece provável que alguém entenda os versículos 5-8 sem primeiro entender os versículos 1-4. No todo, a carta de Paulo aos filipenses é muito positiva. O único perigo que ameaçava a igreja, contudo, era a divisão. Estes versículos são escritos para tentar salvaguardar contra a desunião os cristãos dali. No versículo 1 Paulo apela para o encorajamento em Cristo, o poder do amor, o fato da camaradagem, e a necessidade de compaixão e afeição. Se um cristão entende e se empenha com estas coisas, então a unidade prevalecerá. Ele então apela para sua necessidade de ser “de um mesmo pensamento” e “tendo um mesmo sentimento” (vs. 2). Como isto pode ser feito? Ele responde nos versículos 3-4. Nestes versículos há três causas dadas para a desunião (Barclay 31): ambição egoísta, prestígio pessoal, e a concentração em si mesmo. Para os propósitos de explicar os versículos 6-7, deve-se notar especialmente estes versículos, pois eles servem de fundamento para o argumento de Paulo a respeito de Jesus. Barclay observa:

“Paulo está pleiteando com os filipenses para viverem em harmonia, porem de lado suas discórdias, deixarem suas ambições pessoais e seu orgulho e seu desejo de proeminência e prestígio, e terem em seus corações aquele desejo humilde e desprendido de servir, que foi a essência da vida de Cristo. Seu apelo final e irretorquível foi apontar para o exemplo de Jesus Cristo” (34-35).

Com os pensamentos precedentes em mente, Paulo apela para Jesus Cristo como o exemplo definitivo de alguém que nada fez por egoísmo ou vã presunção. “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus” (vs. 5). Este é o arremate final dos pontos de Paulo nos versículos 1-4: “aprendam a pensar exatamente como Jesus”. Isto também serve para introduzir o que Paulo está para dizer a respeito de Jesus. “Pensem como Jesus”, Paulo disse. O que Jesus pensou? O que ele fez para demonstrar sua despretensiosa atitude? Ele responde nos versículos seguintes.

O versículo 6 ensina que Jesus “existiu na forma de Deus” O termo “existiu” (sendo, huparchon) não é o termo usual para sendo (hon). Como um particípio presente, ele denota continuação de uma condição antecedente. Em outras palavras, Jesus é e sempre tem sido “em forma de Deus”. “Isso descreve aquilo que um homem é em sua própria essência e que não pode ser mudado. Isso descreve aquela parte de um homem que, em quaisquer circunstâncias, permanece o mesmo” (Barclay 35). Paulo começa afirmando que Jesus é inalteravelmente Deus. Seja o que for que Jesus esvaziou, não foi sua essência divina. Portanto, qualquer posição que ensine que Jesus deixou sua divindade não está sendo fiel a este texto.

O significado de “forma de Deus” tem sido acaloradamente debatido. Martin (96) dá dois significados alternativos para o termo “forma” (morphe). O primeiro é o entendimento mais tradicional e filosófico que “forma de Deus” significa atributos essenciais de Deus. 

Um segundo ponto de vista, mais recente, é que a frase tem uma forte ligação com a “glória” (doxa) de Deus; e assim Jesus deixou a glória da divindade, não necessariamente a essência da divindade, quando veio para a terra. Esta posição, contudo, parece carecer de prova. Outros consideram a “forma de Deus” como uma referência à aparência visível como Deus. Esta é outra posição insatisfatória, pois ela dificilmente pode significar a mesma coisa com referência à “forma de um servo”. 

Parece mais provável, contudo, que a “forma de Deus” seja uma referência à divina natureza, que inclui os atributos e características que fazem de Deus o que ele é, “que é inseparável de sua pessoa e que o ser divino se realiza em sua divina glória e atributos divinos imanentes, inerentes” (Muller 78 79). Warfield observou que a “forma de Deus” se refere a “todas aquelas qualidades características de Deus que fazem dele Deus, a presença das quais constitui Deus, e na ausência das quais Deus não existe. Aquele que está na forma de Deus é Deus” (567). Isto também seria verdadeiro quanto à “forma de um servo.” Jesus assumiu todas as qualidades características de servidão. Dizer, então, que Jesus “existiu na forma de Deus” é dizer que Jesus tem sido sempre Deus, com todas as qualidades que pertencem a Deus.

A seguir, Paulo diz que Jesus não “considerou a igualdade com Deus uma coisa a ser agarrada”. Isto, também, tem dado alguma dificuldade à interpretação abrangente do texto. Alguns tomam isto para significar que Jesus não considerava sua divindade como algo a ser segurado e, portanto, ele a abandonou ao vir à terra. Isto, contudo, contradiz o que Paulo tinha dito a respeito da natureza divina inalterável de Jesus. Primeiro, ele afirma que Jesus de fato tem “igualdade com Deus”. Isto, somente, é evidência do ensinamento bíblico da divindade de Jesus. Nada menos do que o próprio Deus pode ter “igualdade com Deus”. Mesmo enquanto estava na terra, Jesus declarou igualdade com o Pai (João 5:17-23). Esta igualdade é em natureza, não necessariamente no papel desempenhado. Neste papel, Jesus tomou uma posição subordinada (1 Coríntios 11:3). Em natureza, ele é igual ao Pai.

Teria Jesus considerado esta igualdade com Deus como algo a ser “agarrado”, ou como algo a ser “segurado”? Ambos os significados são possíveis com a palavra grega (harpogmos). Qual significado faz mais sentido no contexto? “Como quer que tomemos isto, ele mais uma vez ressalta a divindade essencial de Jesus” (Barclay 36). Como foi afirmado antes, não parece provável pelo contexto que isto signifique que Jesus gozou de igualdade com Deus mas dispensou-a ao se tornar um homem. Muitas outras passagens mostram que Jesus foi muito mais do que um homem. 

Parece mais provável que o significado seja que Jesus não se agarrou à igualdade com Deus através de algum exercício de sua própria vontade, separado do Pai. Diversos comentaristas vêem nesta afirmação um paralelo com o relato, em Gênesis, da queda de Adão e Eva. Baseado na afirmação da serpente, “serás igual a Deus”, o pecado de Adão e Eva foi, em essência, uma tentativa de agarrar a divindade. Através do exercício de sua própria vontade, separados de Deus, eles tentaram se tornar seus próprios deuses. Jesus não fez isto. Antes, ele voluntariamente submeteu-se à vontade do Pai, ainda que ele pudesse ter sido tentado a fazer sua própria vontade (cf. João 5:30; Mateus 26:39). 

Reymond argumenta que esta afirmação deveria ser interpretada contra o cenário de sua tentação em Mateus 4 (262). Ele escreve, “este ‘pensamento’ de ‘apreensão de igualdade’, isto é, a tentação de não mais caminhar na trilha do servo mas antes conseguir ‘o senhorio’ sobre ‘todos os reinos deste mundo’ (Mateus 4:8) por uma rota (um ato ‘rebelde’ de exaltação’) não mapeada para o servo no plano da salvação. Cristo Jesus resistiu firmemente” (263). Eu creio que este é o ponto de vista correto porque se ajusta melhor ao contexto anterior. Cristo não fez nada por egoísmo ou vã presunção mas, com humildade, estimou os outros como melhores do que ele mesmo. Nenhum ato mostrou esta atitude mais do que sua disposição a morrer.

Ao contrário de buscar igualdade com o Pai através do exercício de sua própria vontade, Jesus “esvaziou-se”. Isto está no ponto crucial da discussão a respeito da natureza de Jesus nesta terra. Umas poucas observações podem ser feitas sobre isto à luz dos comentários anteriores e do contexto inteiro:

Œ Qualquer posição que destrói efetivamente a divindade de Jesus é errada, porque ela contradiria não somente a passagem, mas também um grande número de outras passagens que afirmam sua divindade. Este é o efeito de uma posição que ensina que Jesus deixou seus atributos e características divinas. A natureza de uma coisa é os atributos e características que fazem-na o que ela é. Se Jesus não tivesse a natureza de Deus, ele não seria Deus (cf. Gálatas 4:8).

O texto não diz que Jesus se esvaziou “de” alguma coisa. Acrescentando “de” à frase, e então enumerando tudo o que ele supostamente deixou para vir à terra não é ser fiel ao texto. Isto é ler no texto o que ele não diz. Ele “esvaziou-se”. Ele não se esvaziou “de” um punhado de coisas.

Insistir que “esvaziou-se” deverá ser tomado literalmente para significar que Jesus teve que despejar alguma coisa fora de si antes que pudesse tomar qualquer outra coisa é um abuso do texto. Diz o texto: “ele esvaziou-se tomando a forma de um servo cativo.” Isto se explica por si mesmo. A aceitação por ele da servidão foi um ato de auto-esvaziamento.

Uma boa comparação pode ser feita com Isaías 53, um texto que descreve o servo sofredor. Note no versículo 12 a frase: “Ele se derramou na morte”Não tem isto uma tocante semelhança com“esvaziou-se”, “humilhou-se, tornando-se obediente até a morte” (Filipenses 2:7-8)? Como o servo sofredor, ele esvaziou-se, derramou-se até a morte.

Novamente, o próprio contexto de Filipenses 2 mostra o que quer dizer com a frase “esvaziou-se.” O ponto de Paulo no texto é insistir com os irmãos para que sejam de um só sentimento, que sejam unidos e decididos por um único propósito (vers. 2). Para cumprir isto ele instrui: “Não façam nada por egoísmo ou vã presunção, mas com humildade de pensamento que cada um considere o outro como mais importante do que si mesmo; não olhe meramente para seus próprios interesses pessoais, mas também para os interesses dos outros” (vers. 3-4). Para atingir o ponto de desprendimento, precisa-se olhar para Jesus. Por quê? Porque ele é o exemplo perfeito destas instruções. Ainda que ele mesmo seja Deus, enquanto esteve na terra ele não se agarrou a sua divindade tentando, separado do Pai, exercer sua própria vontade independente. Antes, ele “esvaziou-se”, que é a frase perfeita para descrever a atitude dos versículos 3-4. 

Assim, o que significa que Jesus “esvaziou-se”? Jesus Cristo, em seu papel do servo, nada fez por egoísmo ou vã pretensão, mas em humildade de pensamento ele considerava os outros como mais importantes do que ele mesmo. Ele se interessava pelos interesses pessoais dos outros. Como ele fez isto? Em última instância, morrendo na cruz. Assim, o ponto de Paulo é que, como Jesus se esvaziou, assim todos temos que nos esvaziar. É simplesmente outro modo de dizer que precisamos negar a nós mesmos (Lucas 9:23), pois isto é o que Jesus fez quando cumpriu sua missão para o mundo perdido. Ele se pôs de parte para que tudo o que ele fez fosse desprendido. Marcos diz isso deste modo: “Pois o próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Marcos 10:45). Estas passagens dizem a mesma coisa.

 A idéia de que Jesus se esvaziou de atributos e características é completamente estranha ao argumento de Paulo. Ele aponta Jesus como nosso exemplo de auto-humilhação. Se Jesus esvaziou de si uma quantidade de atributos, então como podemos seguir seu exemplo? Não podemos despir-nos de nossa natureza humana. A linha de raciocínio que Paulo usa para dizer que deveremos ser altruístas se torna sem significado através de uma tal interpretação.

 Muito simplesmente, então, o texto nos diz que deveremos esvaziar-nos. Deveremos negar a nós mesmos, não fazendo nada por egoísmo. Fazemos isto tomando a atitude de Jesus, o supremo exemplo de abnegação. Ele esvaziou-se. Como um servo, ele se submeteu completamente ao Pai e derramou-se na morte. Depois disso, ele foi exaltado. Se nós, também, nos humilharmos do mesmo modo, Deus promete que seremos exaltados (Tiago 4:10). Este é o ponto de toda esta passagem.

O texto ensina a divindade essencial de Jesus Cristo. Ensina que Jesus nada fez por egoísmo, e que ele é o exemplo supremo de abnegação. Ensina, ainda, uma Cristologia extremamente alta; não ensina que ele jamais fosse menos do que tinha sempre sido: Deus.

Outras considerações

É impossível sermos neutros sobre Jesus Cristo. De fato, aceitamos ou não aceitamos Jesus como o Filho de Deus. As implicações da posição que tomamos sobre Jesus alteram nossa vida. Se alguém aceita Jesus como o Filho de Deus, então precisa tomar a decisão de seguir ou não Jesus. Se alguém não aceita Jesus como o Filho de Deus, então a Bíblia é relegada como mito e fábula. Em conseqüência, esta pessoa não sentirá a necessidade de submeter-se aos ensinamentos da Bíblia. Nossa filosofia a respeito de Jesus determinará o curso da vida.
Há quem argumente que Jesus foi um bom homem, porém não foi o Filho de Deus. O problema com isto é que, se Jesus não era o Filho de Deus, então ele era um mentiroso. Se fosse um mentiroso, então como pode alguém argumentar que ele era um bom homem? Não se tem simplesmente a opção de chamar Jesus um bom homem. Teria de rejeitá-lo como uma fraude, porém não se pode ser neutro sobre ele. C. S. Lewis, um ex-agnóstico, expôs este problema com as seguintes palavras:

“Estou tentando aqui evitar que alguém diga a coisa realmente tola que pessoas freqüentemente dizem sobre ele: “Estou pronto a aceitar Jesus como um grande mestre moral, porém não aceito sua declaração de ser Deus.” Esta é a coisa que temos que não dizer. Um homem que era meramente um homem e disse o tipo de coisas que Jesus disse não seria um grande mestre moral. Ele seria ou um lunático – no nível do homem que se diz ser um ovo frito – ou então seria o Diabo do Inferno. Temos que fazer nossa escolha. Ou este homem era, e é, o Filho de Deus, ou então é um louco ou algo pior. Podemos calá-lo como tolo, podemos cuspir nele e matá-lo como a um demônio; ou podemos cair-lhe aos pés e chamá-lo Senhor e Deus. Mas não venhamos com qualquer tolice como ‘panos quentes’ sobre ele ser um grande mestre humano. Ele não deixou isso aberto para nós. Ele não pretendeu deixar” (55-56).

Há quem objete contra o conceito que Jesus não poderia ser tanto Deus como homem. Qualquer atribuição de divindade a Jesus jamais foi levianamente considerada. Tem havido sempre tensões teológicas sobre a natureza de Jesus. O problema, eu creio, é que temos dificuldade em conciliar o Cristo de dupla natureza devido às nossas próprias limitações. Eu serei o primeiro a confessar que não entendo como isto poderia acontecer de outro modo que não por meio da aceitação do poder e conhecimento de um Criador. Se permitirmos que os documentos bíblicos apóiem-se em suas próprias evidências, eles parecem sólidos e bastante confiáveis. O problema aparece quando nossa fé é desafiada a aceitar algumas coisas que não são normais, nem ocorrências de todo dia nesta era científica moderna. 

Eu não creio que se possa dizer honestamente que é impossível para Deus vir na carne. Tal afirmação é equivalente a jactar-se de ter todo o conhecimento. Como podemos saber que Deus não poderia fazer isto a menos que, primeiro, assumamos que Deus não existe e, em segundo lugar, que Deus não pode “interferir” com sua própria criação? Obviamente, a fé desempenha um papel maior neste assunto; mas esta não é uma fé cega, como muitos alegam. Se podemos aceitar Deus pelo número de evidências que ele mesmo deixou, então podemos aceitar o que Deus tem feito por nós. Aceitação e pleno entendimento são dois assuntos diferentes.

Alguns que aceitam a existência de Deus negam a divindade de Jesus baseados em que há um único Deus. Eles rejeitam qualquer conceito de uma “Trindade.” Eu creio que nós todos temos um entendimento básico da possibilidade de haver “uma” de alguma coisa, e contudo essa alguma coisa pode ter elementos plurais. Por exemplo, uma equipe pode consistir de cinco, nove, ou onze jogadores num campo esportivo, dependendo do esporte. Um único casamento consiste de duas pessoas, e uma família pode ter muitos membros. Biblicamente, o conceito é confirmado. 

A Bíblia diz, a respeito do casamento, que dois “se tornarão uma só carne” (Gênesis 2:24). Dois se tornam um, contudo permanecem personalidades distintas. Ninguém argumentaria que eles formam dois casamentos. Qualquer comparação deste conceito com Deus é inadequada, mas pelo menos a idéia é compreensível. Há um Deus, um estado de divindade; mas há três personalidades distintas às quais a divindade é atribuída. Isto não faz três deuses; antes, há um Deus composto de três personalidades. Tire qualquer personalidade do quadro e a unidade de Deus é destruída.

Na maioria dos casos, parece que a rejeição de Jesus como o Filho de Deus é mais em bases filosóficas do que em bases históricas. É virtualmente impossível refutar a Bíblia em bases históricas. Rejeitar sua historicidade por causa de eventos ou mensagens que ela contém em bases filosóficas não é histórico. Francamente, ultimamente não tenho visto uma rejeição de Jesus em qualquer outra base.

Conclusão

O propósito deste estudo tem sido mostrar que a Bíblia, de fato, ensina que Jesus é Deus. Isto tem sido demonstrado por meio de numerosas passagens bíblicas. O Velho Testamento apóia o ensinamento da divindade de Jesus, e o Novo Testamento irresistivelmente ensina que Jesus é Deus. As Escrituras também confirmam que o entendimento de si próprio por Jesus é consistente com este ensinamento. Ainda que ele não tenha promovido sua própria identidade, ele fez declarações que são equivalentes a declarações de divindade. E, mais ainda, suas obras demonstraram sua identidade, e sua aceitação de adoração mostrou seu próprio entendimento. 

Em última análise, a ressurreição é a testemunha mais significativa da divindade de Jesus. Ela declara poderosamente que Jesus é o Filho de Deus (Romanos 1:4).
O resto do Novo Testamento retrata Jesus como divino. Ainda que a Bíblia ensine que Jesus era um ser humano, ela ensina que ele era muito mais do que isso. Ela atribui a ele a natureza essencial e caráter de divindade. Ela não ensina que ele deixou sua divindade quando veio à terra. Antes, ela ensina que Jesus tomou a natureza essencial de servidão; seu maior ato de serviço foi a dádiva de sua vida.

A questão sobre a identidade de Jesus não terminará tão cedo. Questões recentes sobre Jesus têm renovado muito da discussão. Seja qual for a posição com que se termine, ela será aceita através de algum processo de “fé”. Isto é inevitável. A questão permanece, contudo, sobre qual “é” a mais razoável. Baseado em considerações bíblicas, históricas e outras, eu escolhi crer que Jesus foi, e ainda é, Deus. Ele nunca pode ser menos do que isso.